Água&Ambiente na Hora
O desenvolvimento de um sistema de suporte à decisão para a gestão operacional de redes de drenagem de águas residuais em condições de incerteza permitiu à Tratave (empresa concessionária privada do Sistema Integrado de Despoluição do Vale do Ave – SIDVA), entre outros benefícios, aumentar a deteção e correção de ligações industriais anómalas, o que se refletiu num incremento da faturação de três milhões de euros.
Algumas das indústrias que laboram na área do SIDVA executaram, ao longo dos anos, ligações ilícitas para desviar os caudais, reduzindo a fatura a pagar, o que foi detetado com recurso ao novo sistema.
“Detetaram-se 22 ilicitudes que foram corrigidas graças à implementação do sistema”, revela ao Água&Ambiente na Hora o investigador António Pereira da Silva, que integra os quadros da empresa na área da engenharia e que apresentará a 4 de junho as conclusões de uma tese de doutoramento sobre o tema.
“Algumas empresas estavam a pagar 20 por cento do seu caudal real e o acerto implicou, em alguns casos, um acréscimo de 20 mil euros na fatura mensal”, ilustra o autor da tese, lembrando que, por exemplo, as indústrias têxteis que laboram na área rejeitam grandes quantidades de efluentes devido às operações de tingimento.
Para reportar o valor real do efluente transportado as empresas tiveram que adaptar as suas infraestruturas. Os projetos foram elaborados pela Tratave.
A Tratave opera um dos sistemas de águas residuais de maior importância nacional e um dos mais complexos já que concilia a drenagem e o tratamento de efluentes domésticos e industriais, tendo como missão a despoluição de uma bacia que nos anos 80 e 90 do século passado era conhecida por ser das mais poluídas da Europa.
Este trabalho permitiu aumentar consideravelmente o desempenho económico e ambiental da entidade gestora também no que diz respeito às afluências indevidas de origens pluviais. Isto porque foi possível identificar os pontos de ligação das afluências excessivas durante eventos de precipitação, resultando de forma clara que afluem à rede de intercetores de águas residuais domésticas e industriais importantes volumes de águas pluviais provenientes das redes secundárias, da baixa, ligadas à rede principal.
“Em alguns municípios as águas pluviais podem representar, nos meses chuvosos, 30 por cento da fatura do tratamento da água em alta”, revela. Este não é só um problema financeiro para as câmaras, mas é também ambiental e técnico já que cria constrangimentos ao sistema.
A tese de doutoramento em Engenharia Civil, desenvolvida por António Pereira da Silva no Centro de Território, Ambiente e Construção da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, foi integralmente financiada pela Tratave, que disponibilizou todos os meios e sempre apoiou o desenrolar do projeto.
O trabalho contou com a orientação do Professor Associado do Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho, José Luís Pinho, e ainda com a coorientação do diretor do departamento de gestão de clientes e intercetores da Tratave, Rolando Faria.
“O sucesso na incorporação deste tipo de ferramentas avançadas dependeu de um investimento baixo em equipamentos, mas exigiu a formação de uma equipa e de parceiros qualificados, e também uma forte aposta em formação avançada e na aquisição de tecnologias de informação para o desenvolvimento do sistema de suporte à decisão”, desvenda.
OS TRABALHOS DE CAMPO
Na Tratave, no âmbito do trabalho, instalou-se, pela primeira vez, uma rede de sensores com medição de nível e caudal e aplicaram-se ferramentas hidroinformáticas para a gestão operacional de um conjunto de infraestruturas de drenagem na bacia do rio Ave”, revela António Pereira da Silva.
Pretendeu-se desenvolver um sistema de suporte à decisão que permitisse construir cenários e antecipar eventos futuros, o que exigiu a disponibilização de dados em tempo real e acesso a informação meteorológica precisa.
Para a construção do sistema instalaram-se quatro estações meteorológicas em locais distintos da bacia, três equipamentos para monitorização de caudal em diferentes trechos dos rios Ave e Vizela e trinta e um equipamentos de medição de altura de escoamento e caudal nos intercetores de drenagem de águas residuais.
“A capacidade de previsão foi implementada, recorrendo-se a resultados dos modelos atmosféricos para diferentes horizontes de previsão (de um a quatro dias) de forma a antecipar diferentes eventos de precipitação, melhorando-se o desempenho da empresa na mitigação de problemas operacionais, sobretudo durante ocorrência de eventos de precipitação intensa”, revela António Pereira da Silva.
Passou a ser possível, por exemplo, “antecipar a programação de intervenções das equipas de manutenção sempre que as condições meteorológicas assim o exigem”, exemplifica António Pereira da Silva.
Este sistema permite ainda o desenvolvimento de intercetores inteligentes, gerando distintos cenários de escoamento, assim como, o controlo de descargas em meio hídrico por incapacidade de transporte da rede intercetora.
Possibilita ainda a gestão de caudais afluentes às Estações de Tratamento de Águas Residuais em tempo real, tendo em conta a capacidade disponível de tratamento, com base nos modelos de previsão implementados no sistema.