Ambiente Online “Vamos deixar passar mais uma oportunidade de liderar a mudança na Europa?”, questiona o responsável. Por Diogo Faria de Oliveira, AEPSA Desde criança que vejo imagens de praias recônditas, em Africa e na Ásia, cheias de navios ferrugentos em degradação. É um cenário que tem décadas e que não se compreende. O mundo evoluiu tanto e o Homem provou ser capaz de controlar fenómenos complexos como o crescimento do buraco do ozono, mas não soube resolver um problema simples como o desmantelamento – civilizado e controlado – de navios. E a situação mundial é cada vez mais delicada, com exigências legais mais restritas na navegação marítima, (como a necessidade dos navios petroleiros passarem a ter casco duplo), que têm vindo a contribuir para a morte de centenas de navios. Ora, há uns dias, dizia-me a Isabel Batista (empresa BATISTAS, S.A.) que “os navios têm diversos componentes perigosos na sua composição e são uma interessante fonte de metais e, consequentemente, de matéria-prima para as indústrias de fundição. Desta forma, a reciclagem de navios surge como uma atividade cujo desenvolvimento tem interesse económico e ambiental, sobretudo quando se tem vindo a assistir a uma redução da oferta de metais no mercado nacional, sendo necessário as siderurgias recorrerem à importação de matéria-prima.” Portugal reúne condições privilegiadas para esta atividade, devido à sua localização geográfica. Contudo, o incremento desta atividade tem estado limitado pela falta de implementação de medidas, por parte dos órgãos decisores, que passem pela redução da concorrência desleal que se vive atualmente neste sector entre a Europa e o Sul Asiático. “Estas medidas podem passar pela criação de leis que reduzam a burocracia relativa ao processo de importação de navios destinados a reciclagem e punindo aqueles que contornam a legislação existente, pois estes são os principais entraves com que se debatem habitualmente as poucas empresas nacionais que laboram nesta área”, dizia a Isabel. Outra medida que poderá contribuir positivamente para este nicho de mercado é a criação de incentivos para as empresas que queiram apostar nesta área para melhorarem as condições das suas instalações, de modo a favorecer a reciclagem de navios ambientalmente correta. Prevê-se que o aumento da reciclagem de navios em Portugal se possa traduzir num impacte positivo na economia, resultante da criação de postos de trabalho diretos em estaleiros e empresas de reciclagem e na redução de importação de metais. Indiretamente, também poderão beneficiar outras empresas como aquelas que removem amianto ou recolhem hidrocarbonetos e, visto com otimismo, poderemos vir a ser campeões nesta área, com o surgimento de novas empresas competitivas e especializadas. Provocação do mês: Vamos deixar passar mais uma oportunidade de liderar a mudança na Europa? Ou vamos assumir o tão falado “cluster do mar” com medidas concretas, contribuindo para a economia nacional e para um planeta mais verde e com oceanos menos poluídos? Diogo Faria de Oliveira é licenciado em Engenharia Civil com especialização em Hidráulica, Recursos Hídricos e Ambientais. É Administrador Executivo da Aquapor (desde 2001), Presidente da Associação das Empresas Portuguesas para o Sector do Ambiente, Conselheiro da ERSAR e membro do Conselho Nacional da Água. Escreve segundo o novo acordo ortográfico