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Rios, Lagos e águas costeiras de transição estão poluídas com PFAS – substâncias químicas que persistem no ambiente com impactos significativos para a saúde humana e os ecossistemas naturais – segundo um estudo europeu. A Agência Europeia do Ambiente apela a mais e melhor monitorização e ao alargamento das substâncias a avaliar na diretiva de água da torneira
Cerca de 59% dos rios, 35% dos lagos e 73% das águas de transição e costeiras analisadas em 1.300 locais europeus estão contaminados com produtos químicos eternos (PFAS – substâncias químicas perfluoroalquiladas ) acima de limites aceitáveis, segundo o estudo “Poluição por PFAS nas Águas Europeias”/ “ PFAS pollution in European waters ” . O relatório da Agência Europeia do Ambiente (conhecida pela sigla do inglês EEA) foi esta segunda-feira divulgado e tem na sua base análises e monitorização feitas até 2022.
A EEA frisa que a contaminação por PFAS – incluindo PFOS (perfluoroctano sulfonato) – “pode prejudicar a saúde humana e o ambiente”. Estes contaminantes envolvem mais de 10 mil compostos orgânicos perfluorados, também conhecidos por “químicos eternos” por persistirem no ambiente e terem elevado potencial de bioacumulação e efeitos tóxicos.
O estudo contou com 52% de amostras recolhidas em rios, 40% em águas subterrâneas, 5% em lagos (5%) e 3% em águas costeiras (3%) e avaliou a presença de 15 PFAS diferentes (sendo o PFOS e o PFOA os mais monitorizados). Os PFOS começaram a ser regulados em 2010 e são um dos 24 PFAS avaliados no âmbito da Diretiva Quadro da Água. França e Itália foram os países que relataram o maior número de amostras.
Portugal apenas relatou um local de monitorização de águas costeiras em Vieira de Leiria (concelho de Leiria), com amostras recolhidas em 2018. “Isto não significa que não existem PFAS nas massas de água nacionais, mas simplesmente que são substâncias que não são monitorizadas e analisadas ”, explica ao Expresso Susana Fonseca, dirigente da associação Zero. Ana Pereiro, investigadora nesta área na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Nova (FCT-UNL), adianta ao Expresso que “essa recolha e monitorização está a começar a ser feita pela Agência Portuguesa do Ambiente”.
Apenas 29% das águas em bom estado
Tendo em conta que com base nas amostras analisadas na UE, apenas 29% das águas europeias monitorizadas atingiram um bom estado, entre 2015-2021 , a EEA propõe alargar a lista de substâncias a ter em conta e a revisão dos limites de PFAS na Diretiva Quadro da Água e na futura revisão da Diretiva de Água Potável. Também esperam que estes dados sejam tidos em conta pela Comissão Europeia na elaboração da Estratégia de Resiliência Europeia para a Água.
A necessidade de aumentar a monitorização das massas de água europeias é outra das constatações da EEA, tendo em conta a situação crítica desta contaminação e o facto destes compostos serem transportados por correntes marinhas e aerossóis, podendo ser encontrados em locais remotos. O organismo europeu dedicado ao Ambiente lembra que o objetivo da UE é alcançar um bom estado químico das massas de água, c om um ambiente livre de produtos tóxicos até 2027 e uma visão de “zero poluição” do ar, da água e do solo até 2050.
A origem e a proliferação dos PFAS
Quotidianamente estamos rodeados por estes “produtos químicos eternos” na roupa que usamos, nos têxteis da casa resistentes a fogo, água ou a manchas, assim como em tachos e frigideiras antiaderentes ou em recipientes plásticos. Os PFAS são usados também nos mais diversos materiais de que são feitos móveis e veículos automóveis, por exemplo, assim como em substâncias usadas nos extintores de incêndio comuns e nas espumas usadas pelos bombeiros, ou em fábricas, aeródromos e aeroportos. Estes compostos são nocivos para a saúde e o ambiente porque não se degradam e acumulam-se eternamente na natureza e na cadeia alimentar humana.
“É impossível evitar totalmente a exposição aos PFAS, uma vez que estão praticamente em toda parte” , frisa Susana Fonseca. A ambientalista lembra também que “não é possível fazer análises aos milhares de compostos eternos produzidos e que, por isso, é necessário restringir a sua produção” . Este é um dossiê em discussão em Bruxelas no âmbito do regulamento REACH, que tem por objetivo melhorar a proteção da saúde humana e do ambiente contra os riscos que podem ser colocados pelas substâncias químicas. Contudo a indústria põe-se fortemente a restrições a estas substâncias.
“A plataforma ‘Water Europe’ tem feito lóbi para que os produtores destes químicos eternos sejam responsabilizados pelas consequências destes compostos ”, conta Ana Pereiro que se encontra em Bruxelas no âmbito de uma conferência desta organização. Na qualidade de especialista e membro do grupo de trabalho que inclui a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), a Agência Portuguesa do Ambiente e a EPAL, a engenheira química lembra que “existem milhares de compostos de PFAS e que a diretiva de água potável só contempla 20”.