FRONTLINE
Quem está ligado à gestão empresarial ou à área financeira, mas não só, estará familiarizado com a sigla ESG (Environmental, Social and Governance) e as práticas que lhe estão associadas.
Carlos Mineiro Aires Engenheiro Civil, Bastonário da Ordem dos Engenheiros 2016-2022
Em Portugal, a sigla ESG poderia ser traduzida como “Ambiente, Social e Governação”, não fora a “moda” das terminologias anglo-saxónicas serem normalmente utilizadas com a designação de origem. No fundo, as práticas ESG espelham preocupações com novas posturas e objetivos que decorrem dos objetivos estratégicos da Agenda 2030 (que não vai poder ser cumprida dentro dos ambiciosos prazos aprovados) e dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que lhe estão associados, e constituem critérios para a avaliação do desempenho das empresas e instituições em matéria de atuação responsável com práticas sustentáveis. Desta forma, as práticas ambientais, sociais e de governação das empresas passaram a ser auditáveis por força de imposições políticas e sociais, sendo que a existência de informação monitorizável veio facilitar a tarefa. Por outro lado, é a forma de garantir o empenho empresarial nos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, enquanto geradores de riqueza e detentores de capital humano, inovação e tecnologia. A adoção de práticas ESG constitui, assim, uma forma de aproximar e envolver as empresas e as organizações no respeito de determinados princípios que devem nortear as suas atividades e os negócios, e que basicamente estão ligados a preocupações de natureza ambiental e ao estabelecimento de uma nova economia assente em atitudes mais justas e inclusivas e preocupada com a crise climática. No fundo, os fatores ESG permitem medir o grau de compromisso das organizações com os ODS mediante o estabelecimento de indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa, ou seja, a avaliação do desempenho das empresas e instituições em matéria de sustentabilidade, também no quadro europeu das finanças sustentáveis. As empresas ficam sujeitas a reportes não financeiros e financeiros, onde o seu grau de engajamento com as práticas ESG atinge destaque e torna-se indispensável para o sucesso do negócio, para a aceitação do mercado e para a valorização da empresa. Componentes ESG Em termos de reporte não financeiro, nas três componentes ESG, as empresas deverão ter em conta: E – atividades relacionadas com políticas ambientais, sistemas de gestão ambiental, programas ambientais e de formação e sensibilização ambiental focados na proteção do planeta e dos riscos climáticos, tais como a gestão de resíduos, reutilização de matérias-primas (eficiência material), ou a sua substituição por materiais menos lesivos do ambiente, medidas de eficiência energética e de eficiência hídrica, aposta numa economia circular, redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e preservação da biodiversidade, entre outras. S – políticas de contratação e de direitos humanos, combate à discriminação de qualquer natureza, igualdade salarial, sistemas de saúde e segurança no trabalho e bem-estar, medidas para aumentar a diversidade e inclusão da força de trabalho, igualdade de género, qualificação de trabalhadores, medidas de conciliação entre a vida pessoal e profissional, ligação à comunidade, redes e parcerias locais, etc. G – os gestores terão de garantir práticas que garantam a salvaguarda de valores éticos, de transparência, de conformidade legal, de combate à corrupção, de políticas salariais justas e adequadas, de diversidade de género na gestão, de políticas de compras responsáveis, de existência de códigos para fornecedores e para as cadeias de abastecimento, etc., onde alvita a importância interna dos códigos de ética e de conduta. Gestão responsável Sucintamente, a avaliação de uma empresa já não se resume aos resultados económicos dos exercícios anuais e ao balanço, pois deixaram de ser dissociáveis da forma como foram obtidos, nomeadamente em termos de gestão responsável e dos contributos do negócio para objetivos globais ambientais e sociais, o que conduziu a uma nova forma de calcular o valor da empresa e que também consubstancia um modelo de desenvolvimento económico baseado na sustentabilidade em lato sensu. A atomização do quadro empresarial nacional, onde proliferam as pequenas e médias empresas, não facilita a adoção e internalização das práticas ESG, pois muitas delas não têm capacidade para lidar com um quadro regulamentar algo complexo, pelo que as associações empresariais setoriais podem ter um papel de relevo, incentivando a introdução do processo e assegurando alguma formação e partilha de informação por parte das empresas que estarão mais avançadas. Outra questão importante, uma vez que cada organização é um caso, é a necessidade de identificar e colocar o foco nos temas que mais diretamente impactam na imagem, nas pessoas e no ambiente, priorizando os mais relevantes. A existência de dois aspetos fulcrais para o negócio e que hoje também têm novas exigências, a imagem e o acesso a financiamentos bancários, veio colocar alguma pressão. Na verdade um mau desempenho empresarial nas vertentes ambientais, sociais e na governação, afasta os clientes e inquina o mercado, sendo que num quadro de alienação do negócio existem princípios que norteiam os investidores e que os levam a rejeitar a aquisição de empresas que não têm boa imagem e práticas adequadas. Quanto ao segundo aspeto, a banca comercial está muito atenta à informação de fatores de sustentabilidade empresarial e, quando esta é inexistente ou não suficientemente credível, pode rejeitar o crédito solicitado ou influenciar o pricing da operação. Nos mercados existem competições em que não nos devemos deixar ficar para trás.