Jornal de Negócios
A Tomra, pioneira na reciclagem de garrafas, abre um escritório em Portugal para aproveitar a onda que surgirá com a nova diretiva europeia dos plásticos. Uma entrada que também servirá de trampolim para o mercado espanhol. Vítor Rodrigues Oliveira | vitoroliveira@negocios.pt Quando dois irmãos se aperceberam, na década de 70, que uma mercearia norueguesa tinha dificuldade em lidar com a recolha de garrafas vazias, devolvidas manualmente pelos clientes para reutilização, decidiram meter mãos à obra. E assim nascia, na garagem da família Planke, a primeira máquina para recolha automática de recipientes de bebidas. Cinquenta anos mais tarde, a empresa que estes irmãos fundaram — a Tomra — está cotada na bolsa de Oslo, tem presença em 80 mercados com diferentes segmentos de negócio ligados à economia circular (empregando 4.600 pessoas em todo o mundo) e prepara-se agora para atacar mais um mercado, com a abertura de um escritório na Ericeira, no concelho de Mafra. “Ainda que Portugal seja um mercado relativamente pequeno, é de enorme importância estratégica”, diz a presidente executiva do grupo, Tove Andersen, ao Negócios. É que, a partir daqui, a empresa espera dar outro salto. “Muitas cadeias de retalho que estão em Portugal também estão localizadas em Espanha. Nós podemos beneficiar muito de um forte relacionamento com eles com vista a uma futura entrada no mercado espanhol”, explica a CEO. A tecnológica, que se apresenta como “líder mundial na área da recolha automática de vasilhame”, vê oportunidades de negócio à boleia de uma diretiva europeia que obriga todos os estados-membros a recolherem 77% das garrafas de bebidas em plástico de uso único em 2025 e 90% em 2029. À espera do Governo Em Portugal, no entanto, ainda não se sabe em que moldes vai funcionar o futuro sistema de depósito e reembolso, estando em funcionamento um projeto-piloto para recolher garrafas em máquinas automáticas de grandes superfícies (que foi alargado esta semana até ao final do ano). Para já, há uma candidata à gestão de todo o sistema, não só de recolha de plástico, mas também de vidro e metal. A Associação SDR Portugal, que junta 11 gigantes do mercado de distribuição e produção de bebidas (Central de Cervejas, Coca-cola, Sumol+compal, Super Bock Group, Unilever, Auchan, Intermarché, Lidl, Pingo Doce, Sonae MC e Mercadona) anunciaram no final de 2021 a vontade de gerir o futuro sistema. Agora, no entanto, surge a norueguesa Tomra, que ainda não decidiu se vai ser concorrência direta a esta associação ou se apenas tentará fornecer as máquinas automáticas para recolha. “Precisamos de mais detalhes sobre o sistema em Portugal antes de definirmos o nosso papel e modelo de negócio”, explica Tove Andersen. “Na maior parte dos países, apenas fornecemos as máquinas, mas há mercados onde assumimos uma parte maior da operação, como nos EUA ou na Austrália. E em alguns países detemos os pontos de recolha, sendo pagos em função do número de recipientes recolhidos”. “Lobbying” e testes-piloto A vinda neste momento visa, desde logo, “ter presença local” para “participar nas discussões que estão a ter lugar”, tentando convencer o Governo a adotar incentivos aos consumidores, e “lançar programas-piloto”, numa espécie de pré-venda junto de retalhistas. Sem querer avançar com previsões de investimento, a CEO adianta que, num país da dimensão de Portugal, estarão em causa entre 2.000 a 5.000 máquinas. Longe da invenção dos irmãos Tore e Petter Planke há 50 anos, estas máquinas integram agora a “Internet of Things” e “big data”, “para permitir que a reciclagem de vasilhames se torne digital, com opções de ‘vouchers’ de reembolso sem papel, análises para lojas sobre os padrões de devolução de seus compradores, um aplicativo de lojista com notificações sobre o status da máquina e um aplicativo de consumidor com funcionalidades para mapas e doação de devoluções de embalagens”, indica a empresa.