Ambiente Online
Sob o tema ‘Limpeza Urbana – como acabar com as micro lixeiras em que se transformam os contentores de indiferenciados e os ecopontos’, as Conversas Online do Jornal Água&Ambiente prosseguiram hoje, com a participação de José Matos, responsável pela área de Limpeza Urbana da Maiambiente, e Paulo Rodrigues, Chefe de Divisão Ambiente da Câmara Municipal de Matosinhos. A moderação do debate esteve a cargo de Rui Berkemeyer, responsável pela área dos resíduos na associação ambientalista ZERO. Paulo Rodrigues começou por chamar a atenção para um fator no setor dos resíduos do qual “sempre se fugiu um bocadinho de abordar, mas que é importante”. Esse fator é a “questão da fiscalização: a fiscalização dos produtores e a fiscalização da deposição”. O responsável mencionou que “não há uma partilha de dados entre as entidades dos resíduos nem partilha de informação”, mas sublinha que” embora não se consiga ter um polícia ao lado de cada contentor, a fiscalização tem de existir”. Em relação aos grandes produtores de resíduos, Paulo Rodrigues refere que “por vezes estes provocam o enchimento dos contentores, o que causa danos nos equipamentos”. E isto porque “o nível de saturação dos aterros está a levar a que muitos resíduos não urbanos vão parar aos contentores de resíduos urbanos”, o que muitas vezes danifica os equipamentos e as viaturas de recolha porque “nem sempre se consegue ver o que está dentro dos contentores”, explicou. Os equipamentos estão sujeitos a grande pressão porque “se já era um problema quando serviam os grandes produtores urbanos, agora começa a ser um problema acrescido porque têm de servir o setor residencial, o não residencial e o não urbano”, frisou Paulo Rodrigues. José Matos abordou a questão do financiamento: “a limpeza pública ainda está separada da gestão de resíduos, e os municípios não aplicam uma tarifa sobre a limpeza pública”, esclareceu, adiantando que “alguns fluxos de resíduos são problemáticos, como os têxteis e os RCD (resíduos de construção e demolição), pois as deposições clandestinas em ecopontos em zonas de muitas obras causam sérios problemas”. A partir de 2023 os municípios vão deixar de prestar este serviço aos grandes produtores, o que, na opinião do especialista, “vai contribuir para o agravamento do problema da recolha deste tipo de resíduos, porque as empresas e outras instituições que estão a procurar soluções no mercado privado não estão a ter respostas ajustadas àquilo que estavam (mal) habituadas”. Concluiu que “se não prestarmos serviço de uma forma, teremos de prestar serviço de outra maneira, que é a limpeza”. “Por outro lado, os RCD são muitas vezes uma mistura de resíduos”, continuou Paulo Rodrigues, “e até de resíduos perigosos, o que traz mais um problema aos municípios, os quais terão de contratar empresas especializadas” para remoção desse tipo de resíduos. Sobre as microlixeiras, o responsável especificou que elas “terão por base dois fatores: diretos e indiretos, estando entre os primeiros a recolha e os próprios equipamentos de deposição coletiva suscetíveis de estarem contaminados”. Outra questão “é o grau de sensibilização das pessoas”, vincou. Nesse sentido, Rui Berkemeyer, “com base na sua experiência na ZERO”, deu o exemplo daquilo que se verifica “em muitos centros urbanos, em zonas onde há especialmente núcleos de restauração e algumas zonas comerciais, quando a recolha dos resíduos é feita através quer de contentores indiferenciados quer através dos ecopontos para os materiais recicláveis (e agora também os ecopontos para os biorresíduos)”. Nestes locais “há uma pressão enorme sobre as infraestruturas dos ecopontos, referiu o ambientalista. “E enquadrando com a questão dos resíduos orgânicos”, continuou, “nos locais onde foram colocados contentores para biorresíduos estes continuam a funcionar como contentores de indiferenciados, em parte por falta de informação ou de sensibilização dos consumidores”. Terminou, sublinhando que “é preciso integrar os restaurantes prioritariamente quer na recolha porta-a-porta, quer inclusive no sistema PAYT.”