Ambiente Magazine
Numa Europa marcada pela “inflação, taxas de juros, dívidas corporativas, familiares e estatais ou incertezas devido à pandemia e, agora à Guerra”, com “ruturas nas cadeias de fornecimento” e, consequentemente “problemas de entrega em tempo útil” e, com uma “inflação da produção industrial em quase 27%” em Portugal, nunca fez tanto sentido fazer “revisões de processos” e de “ineficiências”. Ou seja, “nunca fez tanto sentido começar a pensar a sério nas questões da Economia Circular para ter menos custos, mais certezas e ter uma economia que, para além de ser mais sustentável e ambientalmente melhor, do ponto de vista do modelo económico é mais racional”. Este foi o ponto de partida para Paulo Portas, antigo primeiro-ministro, partilhar uma certeza, num momento marcado pela incerteza: “ Se há um momento para abrir a cabeça das pessoas quanto à economia circular é agora. E se tudo continuar como está, se não fizermos algumas poupanças e não ganharmos algumas certezas, é muito difícil navegar nesta instabilidade, sobretudo em certos setores económicos”.
O também ex-ministro dos Negócios Estrangeiros falou esta quinta-feira na “Conferência Smart Growth: O papel da Economia Circular”, promovida pela Associação Smart Waste Portugal, em parceria com a Fundação Serralves, e considerou que a Guerra na Ucrânia fez com que “tudo o que, para nós, europeus” era relevante” deixasse de o ser: “as certezas sobre a paz ou ameaça; a convicção do que é a Rússia, sobre o quão precisamos da NATO; a perceção sobre o epicentro de gravidade da Europa ou sobre os nórdicos e sua neutralidade”. E algo que também mudou foi o “calendário” quanto à energia: “O problema é o confronto entre o que é urgente para amanhã de manhã e o que essencial para daqui a 10 anos”, declara, notando que, do ponto de vista energético, é preciso ser-se pragmático: “Vamos perder ilusões e fundamentalismos: numa Europa, onde há 15 países que têm uma dependência de gás e petróleo da Rússia superior a 40% e que não podem ficar sem luz, sem empresas e sem mobilidade assistimos a factos e medidas urgentes que contrariam as nossas orientações essenciais”.
Para Paulo Portas, o que se deve seguir é o “prolongamento de algumas centrais a carvão”, o “revivalismo do nuclear”, as “interconexões e instalações feitas aceleradamente para o LNG” e o “crescimento da percentagem da competitividade das energias renováveis”: “Só fazendo isto, ao mesmo tempo, é que poderemos ter um passaporte para uma maior independência energética e não voltar a cair nesta situação”. Reconhecendo ser “mais fácil dizer o que fazer”, o atual comentador político volta a alertar para o fundamentalismo, lembrando que aquilo que os governo europeus estão a tentar fazer é garantir energia suficiente para o próximo inverno: “Às vezes, isso não é compatível com os excessos de fundamentalismo em matéria de calendário da transição”, pelo que “a única garantia estrutural que temos de maior independência energética é ir pelas renováveis”. Mas esse caminho não deve prender-se, exclusivamente, a Portugal: “Temos de olhar para o Continente que mais nos pode ajudar nesta matéria, que é África”. O objetivo é, portanto, conseguir “calendarizar os nossos objetivos energéticos”, deixando os fundamentalismos de fora: “Caso contrário, deixamos uma Europa sem luz”, reitera.
Voltando à Economia Circular, Paulo Portas relembra o dia 31 de dezembro de 2021 como um “dia administrativo suspeito”, citando aquela foi a decisão do Governo na publicação de uma portaria, que adiciona impostos a produtos de plástico. “Mesmo aqueles que já só têm 5 a 10% de plástico nos copos de papel (esses copos custam três cêntimos cada), agora, por cada copo, acresce uma taxa de 30 cêntimos: a taxa é 10 vezes superior ao preço”, sublinha. Nesta “altura do campeonato”, o ex-político defende a criação duma “maior proximidade com quem produz e com cria riqueza”, não criando “obstáculos administrativos aos obstáculos que já existem por causa da energia e dos custos de produção na nossa economia”, lamenta.
Em jeito de apelo, Paulo Portas dirige-se aos autarcas, dirigentes e empresários, no sentido que se façam “esforços de revisão de processos” e, assim, “perceber-se onde podem ganhar eficiência através da economia circular”.