Dinheiro Vivo
Associados da APED abriram 50 novas lojas em 2021, até setembro, um número que superou as estreias de 2019, mais de metade no retalho alimentar, segmento onde o secretário-geral espera “bom senso” nas questões da associação, Gonçalo Lobo Xavier, admite ainda haver espaço para crescimento.
O aumento dos custos de energia, transportes e matérias-primas está a causar uma enorme pressão às empresas de distribuição – mas não só. O agravar dos números das contaminações por covid-19 criou taxas de absentismo que chegaram aos 15% em algumas semanas de janeiro, gerando atrasos na entrega de produtos por parte das fábricas, o que obrigou o retalho a “ir disfarçando e mitigando o problema com uma gestão de stocks muito eficiente”. E embora o setor esteja a “gerir as operações no limite”, o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de garante que não há risco de faltarem produtos nas prateleiras. Do novo governo, espera “bom senso” nas questões da sustentabilidade e ambiente. “Não podemos esperar que a transição verde seja feita por decreto, sem ouvir as empresas. Todos nós queremos soluções para o uso responsável dos plásticos e para o ecodesign das embalagens, todos queremos induzir comportamentos responsáveis e sustentáveis aos consumidores, mas não podemos, por decreto, obrigar a transformações radicais, sem tempo e sem espaço para a adaptação das empresas a novas realidades, quando muitas vezes não há ainda soluções credíveis e economicamente viáveis para substituir as existentes”, defende Gonçalo Lobo Xavier, sublinhando que o setor “não quer onerar o consumidor com produtos e soluções que depois vão ter consequências no seu poder de compra”. Sobre a maioria absoluta do PS, o dirigente é perentório: “Não sabemos ainda que tipo de governo vamos ter, mas é sempre melhor ter um governo que não está capturado pela esquerda radical, que é contra o desenvolvimento da economia, o crescimento das empresas, a livre iniciativa e a concorrência”. O diretor-geral da APED não tem dúvidas de que foram “essas amarras “que “prejudicaram tremendamente” as empresas e que “influenciaram terrivelmente” a legislação laboral. E acredita que o novo executivo “não estará condicionado por ideologias que não fazem bem à saúde da economia”, impedindo o crescimento. A APED pede agora uma “maior preocupação” com a capitalização das empresas e o desenvolvimento de uma política de formação que seja “realmente útil” às necessidades das companhias. “A digitalização está a acontecer e vai transformar muito a realidade do trabalho no nosso setor; a descarbonização é algo imperativo e tudo isso são oportunidades de negócio, de crescimento e de criação de emprego. Mas, para isso, precisamos de fazer o reskilling e o upskilling dos que já estão a trabalhar connosco e dos que queremos que ganhem competências para virem trabalhar para o nosso setor, que está em franco crescimento e quer continuar a crescer”, frisa. E a questão dos salários não é algo que possa pôr em causa a atratividade do retalho em Portugal. “Os salários são uma questão relevante – e não é surpresa para ninguém que o setor já paga acima do salário mínimo nacional, o que tem consequências em todas as outras categorias profissionais mas não são o único atrativo, há questões relevantes, como a perspetiva de carreira, o equilíbrio entre família e trabalho ou a flexibilidade das empresas para acomodarem perspetivas de formação”, defende Gonçalo Lobo Xavier. Apesar de não haver, ainda, dados completos das novas aberturas em 2021, os números até setembro mostram que os associados da APED abriram no ano passado 50 novas lojas, com uma área total de venda de 41781 metros quadrados. Números que superam os de 2019, quando, no mesmo período, houve 46 aberturas, num total de 33114 metros quadrados. Os números são ” reveladores” da dinâmica do setor que, apesar de um ano “tão difícil e com tanta incerteza”, ainda conseguiu encontrar oportunidades para crescer Mais de metade das aberturas, ocorridas nos primeiros nove meses do ano, foram estabelecimentos do retalho alimentar são 31 novos supermercados, com uma área total de venda de 22 349 metros quadrados. Mais crescimento Confrontado com a questão sobre se ainda há espaço para a distribuição alimentar continuar a crescer, Gonçalo Lobo Xavier responde com pragmatismo: “É uma pergunta que terá de ser feita às insígnias. Mas, a verdade é que, comparando com os nossos parceiros europeus, estamos ainda abaixo da média por habitante.” E a verdade é que o setor abrandou a expansão em 2020, por via da pandemia – no período homólogo só abriram 23 lojas em Portugal, das quais 18 do retalho alimentar e cinco do especializado mas retomou em força em 2021. “O retalho alimentar é um setor altamente competitivo e o que vemos é que há espaço para todos. A capilaridade do setor é absolutamente extraordinária e essencial para a fixação das populações e para o desenvolvimento da economia nas várias regiões.” Desafios para 2022 A própria APED ganhou 20 novos associados, dos quais 11 são de retalho especializado, designadamente das áreas da eletrônica e da moda, duas “das mais fustigadas” pela covid-19. “Não temos ainda dados finais de vendas, mas diria que ambas estarão ainda uns 10 pontos percentuais abaixo de 2019”, refere Gonçalo Lobo Xavier. Mas também houve associados a sair – oito, metade deles do retalho alimentar As razões foram diversas. Enquanto no alimentar se tratou de empresas em dificuldades, no especializado deveu-se a fusões entre grupos e a encerramentos de operações em Portugal A APED tem agora 177 associados, responsáveis por 137 mil postos de trabalho. Em 2020, os associados da APED asseguravam um volume de negócios de 23 mil milhões de euros e, embora ainda não haja números de 2021, tudo indica que este valor tenha crescido. Sobre as perspetivas para 2022, Lobo Xavier destaca a expectativa de retoma do retalho especializado para níveis de 2019. “Precisamos que a situação pandémica estabilize e que o turismo regresse ao dinamismo anterior”, diz. Quanto ao alimentar, “esperamos manter o crescimento e ter níveis de eficiência ainda maiores, aguentando o embate do crescimento dos custos das matérias-primas e da energia, e tentando mitigar ao máximo os seus efeitos, para que possamos manter uma oferta equilibrada do ponto de vista da bolsa dos consumidores”.