Visão
Mais de 100 mil postos de trabalho vão ser criados, nos próximos anos, para assegurar a transição energética e uma recuperação económica sustentável. Pode estar à vista uma revolução nas profissões, com mais futuro, solidez e salários acima da média. Os setores com maior procura, as melhores oportunidades.
m 1998, no início da febre dos telemóveis, João Guerra, recém-formado em Informática de Gestão, entrou para o setor das telecomunicações. Em 2016, mudou-se para a mobilidade elétrica, mesmo a tempo de ver os primeiros carros elétricos das principais marcas chegarem ao mercado. Em 2020, quando se avizinhava a explosão da energia solar (deverá crescer 900% em Portugal até 2030), integrou uma empresa de painéis fotovoltaicos.
“Tenho tido a sorte de acompanhar negócios emergentes”, diz o diretor de marketing e comunicação da Helexia. E não há dúvidas de quão emergente é este negócio. “A energia está a sofrer uma transformação brutal. Cada vez mais empresas estão a instalar painéis para produzir a sua própria energia e a apostar na eficiência energética. Estamos a mudar tudo. Mobilidade elétrica, hidrogénio, fontes renováveis… Temos mercado para 20 anos.” Os salários, acrescenta, “estão claramente a crescer”, e a procura suplanta a oferta. “Já não é fácil encontrar pessoas na engenharia. Vamos precisar de muita gente. Um exemplo: com o aumento dos elétricos no parque automóvel, os mecânicos vão ser substituídos por engenheiros eletrotécnicos.”
Estamos a entrar na era dos empregos verdes. “Empregos decentes”, na definição da Organização Internacional do Trabalho, “que contribuem para preservar ou restaurar o Ambiente, em setores tradicionais, como manufatura e construção, ou em novos setores verdes emergentes, como energia renovável e eficiência energética”. O compromisso da União Europeia de atingir a neutralidade carbónica até 2050, decorrente do Acordo de Paris, e o Pacto Ecológico Europeu, apresentado no final de 2019, já eram uma garantia de que o futuro passava por aqui. Mas a crise económica pode até reforçar esse caminho: 37% dos fundos europeus de recuperação (€750 mil milhões) têm de ser aplicados em projetos de sustentabilidade.