Água&Ambiente Online
Se, no início da década de 90 do século passado, pouca Engenharia existia sobre o tema das perdas de água, desde então foi percorrido o caminho necessário para haver respostas técnicas, eficazes e eficientes, nesta matéria. Conceitos como: balanço hídrico; zonas de medição e controlo, perdas por erros de medição, perdas reais mínimas e inevitáveis (e a sua relação – ILI) e a tecnologia associada são já inquestionados e estão disponíveis há cerca de 20 anos.
Sendo assim, como se justifica então que, pelo menos desde 2011 (primeiro RASARP com dados de todas as entidades gestoras nacionais), a Água Não Faturada – ANF (%) se mantenha em Portugal constante e em torno de uns medíocres 30% (aqui os vizinhos de França e Espanha rondam os 20%)?
Se usarmos a mais recente ferramenta de análise de dados setorial, disponibilizada ainda este mês pela APDA, o SIIPA (Sistema de Informação de Indicadores de Perdas de Água) podemos, num ápice, retirar duas conclusões muito relevantes sobre a evolução das perdas de água em Portugal (ANF): 1) as entidades gestoras públicas mantêm valores constantes e acima dos 31%, enquanto que as privadas evoluíram para valores inferiores a 18%; 2) no grupo das entidades públicas a estagnação, e no das privadas a melhoria, verificam-se desde as zonas predominantemente urbanas às predominantemente rurais.
O que falta então a algumas entidades gestoras para fazerem a sua parte no que deve ser um desígnio nacional e imediato para o setor? Eu diria – motivação. De facto, um modelo em que as tarifas são calculadas de forma a (uma vez deduzidas outras transferências) cobrir os custos não gera, por si, incentivos à eficiência. Além disso, a redução de perdas implica uma abordagem global integrada, em que a agilidade e a rapidez na ação são cruciais, o que é particularmente difícil no quadro legal existente para a gestão pública.
Neste contexto temos visto surgir, em Portugal, um modelo de envolvimento dos privados que passa por tirar partido da sua experiência e das condições de gestão de que dispõem, remunerando-os com parte da poupança económica gerada com a efetiva redução de perdas. Neste novo modelo assegura-se, em simultâneo, a motivação necessária e o alinhamento dos interesses de todos os envolvidos que será tão maior quanto melhor for a repartição do risco e dos ganhos.
Acresce que o nível de ineficiência é de tal ordem que, em várias entidades gestoras, nem sequer implica necessidades de financiamento (noutras é relativamente pequeno) uma vez que é possível, ordenando corretamente as diferentes ações a implementar, pagar o investimento necessário com o pelo do cão. Temos aqui uma oportunidade para resolver um problema, rapidamente, sem ser da forma tradicional que conhecemos em Portugal: a de atirar dinheiro para cima.
As previsões de escassez hídrica e a necessidade de reabilitação das redes construídas nos anos 80 e 90, que se preveem já para esta década, dizem-nos que o momento é agora. De outro modo continuaremos, eternamente, a educar as populações para reduzirem o consumo e pediremos, todos os anos, às tarifas ou aos impostos, mais 200 milhões de euros para reabilitar redes, enquanto desperdiçamos 30% ou, seja, 70 milhões de euros em perdas de água.
Pedro Perdigão é professor no Mestrado de Economia e Gestão Ambiental na Faculdade de Economia da UP. Administrador no grupo Indaqua, com responsabilidade nas operações das suas empresas que, em Portugal, asseguram o abastecimento de água e saneamento a mais de 600.000 habitantes. É ainda gerente na empresa de Operação e Manutenção do grupo (Aqualevel) e administrador na Águas de São João da Madeira.
Após a licenciatura em Civil, Pedro Perdigão concluiu o mestrado em Estruturas e foi professor na Faculdade de Engenharia da UP. Tem funções técnicas ou de gestão no setor do abastecimento de água, desde 1996, ano em que iniciou a sua carreira profissional na Águas do Douro e Paiva. Em 2007 saiu do setor para Diretor da Habiserve (grupo de promoção imobiliária) onde foi responsável pelos departamentos de Gestão de Negócio, Sistemas de Informação e Pós-Venda, assim como, Diretor Executivo da empresa de importação de materiais desse grupo – Imperbor. De 2008 a 2009 foi Diretor Geral da Tgeotecnia, SA, empresa do grupo DST para obras de geotecnia. Em 2009 regressou ao setor como Diretor Geral da Águas de Gondomar. Ainda no mesmo grupo, de 2011 a 2016, assumiu as funções de Diretor Geral da Águas de Cascais