Jornal de Negócios No final da Década Internacional para a Acção “Água, Fonte de Vida”, que termina este ano, muito já foi feito para estender os benefícios da disponibilidade de água potável e saneamento básico a toda a população humana. Mas o caminho ainda está longe do fim. Na Cimeira do Milénio, em Setembro de 2000, o maior conjunto de sempre de líderes mundiais adoptou a Declaração do Milénio, da qual emergiram os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Tra- ta-se de um conjunto de metas que visam estender os benefícios da globalização aos cidadãos mais pobres do mundo. O 10° pretendia cortar para metade o número de pessoas sem acesso a água segura para beber. Na cimeira de Joanesburgo, que decorreu dois anos depois, foi adicionado o saneamento básico a este objectivo. A partir de 2002 foram feitos progressos significativos em ambas as áreas, mas serão necessários esforços ainda maiores para estender estes serviços essenciais a quem não usufrui deles, a maior parte pessoas pobres. Dada a magnitude da tarefa, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou, em 2003, o período entre 2005 e 2015 a Década Internacional para a Acção “Água, Fonte de Vida”. A escassez de água e a sua baixa qualidade têm, em conjunto com o saneamento pouco eficiente, um impacto negativo elevado na segurança alimentar, nos meios de subsistência e oportunidades de educação para as famílias pobres em todo o mundo. Desastres naturais relacionados com a água como inundações, tempestades tropicais e tsunamis constituem um tributo pesado em termos de sofrimento e vidas humanas. Para além disso, secas cada vez mais regulares atingem os países mais pobres do mundo, agravando os seus problemas de fome e subnutrição. São os mais pobres que sofrem mais com os problemas relacionados com a água, muitos deles a viver em periferias em bairros de génese ilegal. Falta- lhes, para além da água para beber e sistemas de saneamento, serviços de saúde e habitações confortáveis e seguras. Hoje, cerca de metade da humanidade habita em cidades. Mas daqui a duas décadas quase 60% das pessoas viverão em zonas urbanas. Este crescimento demográfico está a decorrer mais rapidamente no mundo em vias de desenvolvimento, onde as cidades ganham cerca de cinco milhões de indivíduos por mês. E uma explosão demográfica que cria diversos desafios, entre os quais o acesso à água potável e ao saneamento básico. Enquanto entre 1990 e 2008,1052 milhões de pessoas passaram a ter acesso a água para beber e 813 milhões a saneamento básico, mais 1089 milhões de indivíduos juntaram-se à população das cidades. Com o crescimento da frequência de desastres naturais como secas prolongadas e inundações, esta tendência terá consequências significativas na saúde e bem-estar da humanidade, no ambiente, crescimento económico e desenvolvimento. Como recurso, a água, o seu fornecimento às pessoas e o saneamento básico são necessários para suprir necessidades básicas dos seres humanos. Mas também são essenciais ao desenvolvimento. A água é uma fonte importante de energia em diversas partes do mundo, enquanto noutras ainda permanece como recurso inexplorado. Também é necessária para a agricultura e muitos processos industriais e faz parte do sistema de transportes em diversas regiões da Terra. Hoje, e com um melhor conhecimento científico, a comunidade internacional passou a entender melhor o valor dos serviços dos ecossistemas relacionados como a água, incluindo o controlo de inundações, protecção contra tempestades e a sua purificação. Mas os desafios relacionados com este bem essencial irão aumentar nos próximos anos. O crescimento contínuo da população e dos seus rendimentos irá contribuir para o aumento do consumo de água e para a produção de mais resíduos. O problema irá afectar ainda mais as zonas urbanas dos países em desenvolvimento, que estão a crescer exponencialmente e a gerar uma procura muito superior à capacidade actual de fornecimento da economia e à actual infra-estrutura de saneamento. De acordo com o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial da Água das Nações Unidas, em 2050, pelo menos uma entre quatro pessoas irá viver em países afectados por problemas de escassez de água crónicos ou recorrentes. Ao que parece, há mais do que algumas razões para