portugal news Dois mil e quinze ficará na história, entre outros temas, pela conclusão da reestruturação territorial e operacional da Águas de Portugal (AdP), uma reforma há muito esperada e há muito prometida e que levará à harmonização tarifária entre interior e litoral e redução de custos das funções de suporte as 19 empresas regionais sob a alçada da AdP passarão a cinco. Em entrevista exclusiva ao Green Savers , o presidente da AdP, Afonso Lobato Faria, abordou os temas que marcam a actualidade da empresa e não fugiu a nenhuma questão. Explicou que o preço da água aos consumidores estará sempre dependente dos municípios, que a rede em Baixa tem de ser renovada e que o sector das águas não é perfeito em Portugal. Depois de 54 minutos de entrevista, as (muitas) informações por nós recolhidas não podem ser abordadas numa único artigo, pelo que, no decorrer dos próximos dias, todos os temas abordados serão publicados no Green Savers. Fique com a primeira parte da entrevista, que incide, especialmente, sobre a reestruturação da empresa portuguesa. No final de Fevereiro, o ministro Jorge Moreira da Silva disse que a reestruturação do sector da Águas de Portugal (AdP) estará concluída em Março. Confirma? A reestruturação da AdP é um processo vasto. O senhor ministro estava certamente a referir-se a diplomas legais, uma vez que esta reestruturação tem uma base legal e há vários timings em cima da mesa. Em que consiste esta reestruturação? Existem duas componentes. A primeira é a territorial. Neste momento, o grupo AdP tem a maioria do capital de empresas regionais como a Águas de Trás-os-Montes e Alto Douro, Zêzere e Coa, Águas do Centro ou Norte Alentejano, por exemplo. São 19 empresa e haverá uma agregação territorial, passando [este número] para cinco. Este é o primeiro pilar da reestruturação da AdP, que obriga à criação de novas empresas Águas do Norte, Águas do Centro Litoral ou Águas de Lisboa e Vale do Tejo. O sector da água está organizado de uma forma a que estas empresas têm de ser criadas por decreto-lei, por isso o senhor ministro [falou nesse timing]. Após a efectivação do decreto-lei há todo um processo de implementação, no terreno, desta agregação. E os segundo pilar? É uma reorganização corporativa. O grupo AdP é gerido de uma forma conjunta, mas há uma grande autonomia de cada uma destas empresas. Esta autonomia vai continuar, mas vamos reorganizar-nos corporativamente, no sentido de reduzirmos custos nas funções de suporte, tentando haver uma maior partilha destas funções. Vamos aproveitar para aumentar a eficiência e ter uma lógica mais coordenada e coesa do grupo AdP. E estamos a trabalhar para que estas empresas sejam criadas ainda no primeiro semestre do ano. Quais as principais mudanças desta reforma? Esta reestruturação já era necessária há algum tempo e tem uma componente importante de justiça social. Neste momento, cada uma destas empresas regionais tem uma lógica independente do ponto de vista tarifário. A tarifa das empresas do grupo AdP só tem a ver com questões regionais. A população portuguesa está, essencialmente, concentrada no litoral, por isso existem áreas pequenas com população elevada, pelo que os investimentos são distribuídos por mais pessoas. No interior, infelizmente, temos uma população cada vez mais escassa, mas o investimento é superior ao feito no litoral existem locais de difícil acesso, montanhas. Neste momento, existem tarifas, no interior, três vezes superiores às tarifas do litoral. Mas não para o consumidor final, porque [esse preço] cabe aos municípios passar. Mas o preço de venda das empresas do grupo AdP para os municípios, neste momento, é duas ou três vezes mais caro no interior. E o que mudará? Com esta reforma consegue-se integrar a lógica entre interior e litoral, e a tarifa passa a ser a mesma. A banda tarifária não passa a ser zero, porque cada uma destas empresas tem a sua tarifa, mas a banda tarifária passará para 11% o que é muito reduzido. As pessoas do interior passam a pagar pela Alta o mesmo que paga uma pessoa do litoral. Os municípios do interior, e com razão, diziam que estavam a ser penalizados em relação ao litoral. Este é um aspecto interessante de coesão social que esta reforma traz. E que outras medidas serão tomadas?