Água&Ambiente na Hora O projeto que inclui a construção de uma incineradora na Ilha de São Miguel, nos Açores, que irá queimar material reciclável proveniente?da recolha indiferenciada, vai ser apoiado com 70 milhões de fundos comunitários. O alerta é deixado pelo especialista em resíduos da Zero, Rui Berkemeier, em declarações ao Água&Ambiente na Hora. “Um quinto do orçamento para os resíduos, que é de 300 milhões de euros, será canalizado para queimar 70 mil toneladas por ano”, lamenta Rui Berkemeier. O projeto da empresa intermunicipal MUSAMI para um “Sistema Integrado de Tratamento, Valorização e Destino Final dos Resíduos Sólidos Urbanos da Ilha de São Miguel” recebeu luz verde do PO SEUR (Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos) a 27 de dezembro. A operação será financiada a 85 por cento. O valor global do investimento ascende a 82 milhões de euros.?Rui Berkemeier defende um redimensionamento do projeto que passa pela colocação de uma unidade de TMB (Tratamento Mecânico Biológico) à cabeça do equipamento. Esta solução permitiria recuperar 50 por cento do material reciclável da recolha indiferenciada. O restante seguiria para incineração. Com esta alteração seria possível poupar 20 milhões de euros.?A capacidade energética não seria colocada em causa e permitia criticar mais?emprego. O balanço seria ainda positivo ao nível das emissões de CO2 reduzindo-as para metade. Os municípios avançam para este processo sem ter a certeza se poderão dar destino à energia produzida durante a noite, já que a central hídrica reversível que estava prevista não irá ser construída, alerta. Rui Berkemeier critica o atual e o anterior ministro por não terem tentado saber o que se passava com este projeto. “Quando se fala de economia circular Portugal vai queimar resíduos que são recicláveis”. PROJETO PASSARÁ NO CRIVO DE BRUXELAS?Em resposta ao Água&Ambiente na Hora o Ministério do Ambiente esclarece que o processo não está totalmente concluído. Este projeto de grande dimensão, que já tem execução financeira realizada, será ainda objeto de avaliação por um painel de peritos independentes a selecionar pela Agência para o Desenvolvimento e Coesão (AD&C) que fará proposta de homologação ao Portugal 2020 e à Comissão Europeia, a quem caberá aprovação final. A tutela reconhece que é urgente que a AD&C realize estes procedimentos “com a maior urgência possível”.?A tutela explica que a “arquitetura da solução integrada” tem “caraterísticas específicas e especiais face à insularidade e ultra periferia características de ilha” e dá resposta a vários tipos de resíduos. O?projeto, sublinha, não se limita à construção da Central de Valorização Energética (CVE),?incluindo também uma central de triagem automatizada?para resíduos de embalagens de recolha seletiva,?sistema de túneis de compostagem, central de tratamento de resíduos de sub-produtos?animais de matadouros e para resíduos industriais banais e aterro sanitário. A CVE terá capacidade para 55 mil toneladas por?ano de resíduos urbanos indiferenciados. A capacidade total é de 70 mil toneladas, mas o diferencial destina-se a subprodutos de animais.