Água & Ambiente 05-01-2016 O projecto BINGO – Bringing Innovation to Ongoing Water Management, coordenado pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), está a captar forte interesse internacional, tal como outra iniciativa inovadora em curso que visa a criação de uma escola internacional de políticas públicas e regulação. A directora do Departamento de Hidráulica e Ambiente, Rafaela Matos, realça que a inovação não se esgota na dimensão tecnológica, incluindo também a vertente social e de governança. O projecto BINGO, apoiado pelo programa europeu Horizonte 2020, arrancou em Julho de 2015. O que foi já feito nestes primeiros seis meses?Estou muito satisfeita com o andamento do projecto. A equipa está muito mobilizada e estamos a cumprir rigorosamente o planeado. Já foram produzidos mais de dez produtos (deliverables) em seis meses, essencialmente relatórios de organização das equipas, o código de ética, os princípios para a verificação da qualidade científica dos relatórios, como vão ser gerados, organizados e armazenados todos os dados produzidos, o plano de comunicação e disseminação, o próprio website que foi também lançado e [as páginas de] Facebook e Twitter. Também já foram produzidos os primeiros dados de identificação das variáveis climáticas à escala de tempo e de espaço que está definida para esta fase pelos casos de estudo, que são células de 12 quilómetros e timings de dia a dia para os últimos 30 anos. É o que chamam incast: perceber como o modelo responde aos anos que já passaram para corrigir desvios. A partir daí, o modelo está preparado para fazer a simulação para situações futuras. Esses dados estão já a ser testados pelas equipas dos casos de estudo. Também houve uma reunião para delinear como vão decorrer os workshops com as comunidades de prática, a ligação entre os cientistas e as próprias comunidades. Vão começar agora em Fevereiro.O que está previsto em termos de envolvimento da comunidade?É um dos maiores desafios que temos no projecto porque, por um lado, precisamos de afinar o diálogo entre os cientistas e os utilizadores e comunicar de maneira a que eles percebam exactamente o que estamos a fazer. Por outro lado, ao fazer essa comunicação, eles também podem contribuir de uma maneira muito mais efectiva para aquilo que são as suas necessidades, para nós podermos ajustar-nos. Queremos produzir soluções que sejam técnica e cientificamente as melhores, mas que também sejam exequíveis e aceites.O LNEC tem a preocupação de incluir geralmente a componente das ciências sociais nos projectos…É uma preocupação de longa data, mas agora ainda é mais relevante, porque com o crescimento enorme das tecnologias de informação, as pessoas têm hoje acesso a imensa informação, de todos os lados. Portanto, quando estamos a fazer um trabalho científico e se pretende que haja uma solução para utilizadores em que eles estejam [envolvidos] desde o início, temos também de utilizar esse tipo de vínculo. Por outro lado, se não o utilizarmos, poderá haver grande ruído com outro tipo de informação que não é certa. Além disso, também por via das tecnologias de informação, as pessoas são hoje os melhores sensores daquilo que se passa numa relação de proximidade. Aquilo que tínhamos dantes – em que a Protecção Civil comunica formalmente à população que cuidados tem de ter e o que se passou exactamente no sítio X – pode ser reportado pelas pessoas que estão nesse sítio em primeira mão, de uma forma muito mais directa. Essa informação é útil também à Protecção Civil, que depois tem de a validar e transformar em algo que seja comunicado como aviso ou alerta. Para evitar que a Protecção Civil apareça tarde, com informação que não é a que é veiculada rapidamente pelas pessoas, é ela própria que tem de utilizar as redes sociais e [envolver] as pessoas com as mensagens certas. Hoje, as redes sociais também estão ao serviço da ciência.O caso de estudo português incide sobre o conflito de usos na bacia do Tejo. Porque é relevante este tema e porque foi escolhida esta zona paratestar soluções de equilíbrio entre diferentes usos?O Tejo foi escolhido por ser, por um lado, um caso de estudo já com longos anos de informação, com estudos feitos, pela proximidade a Lisboa, por ser um grande rio internacional. E a área de estudo escolhida – a Lezíria do Tejo – foi-o por ser uma área onde se conjuga a presença de três tipos de utilizadores muito importantes, todos eles grandes utilizad