Águas do Tejo lança hoje a Vira. Não é para comercializar, mas para mostrar como a água é cada vez mais tratada e reciclada
Uma cerveja feita a partir da água dos esgotos
LISBOA A Águas do Tejo Atlântico, a maior empresa de recolha e tratamento de águas residuais em Portugal, criou uma marca de cerveja. A Vira é uma espécie de “protótipo”, feita em colaboração com uma startup, que não vai ser comercializada , mas que serve para demonstrar à população dos 23 municípios das regiões da grande Lisboa e do Oeste, que a água resultante do tratamento dos esgotos e das chuvas pode “no limite chegar a ser utilizada para produzir uma cerveja artesanal”, explicou ao JN Hugo Xambre Pereira, administrador executivo da Águas do Tejo.
“Nunca seremos produtores de cerveja, mas queremos simplesmente demonstrar desta forma que a água residual urbana que passa pelas nossas estações de tratamento pode, em última análise, ter qualidade para fins potáveis”, assume ao JN. Mas para produzir esta cerveja, “a água teve de passar por um processo de afinamento que habitualmente não realizamos”. E o nome Vira não é ingénuo, “está relacionado com a necessidade de mudança de mentalidades e de comportamentos e de como devemos ser mais sensíveis às alterações climáticas.”
UMA FÁBRICA, NÃO UMA ETAR
Na lógica de uma nova economia circular, preocupada com os temas ambientais, o conceito de Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) foi alterado pelo de Fábrica de Água, “um local onde para além de se realizar o tratamento também reciclamos e valorizamos a água”, refere Hugo Xambre Pereira. “Fazemos uma aposta clara no aproveitamento das águas residuais que recebemos, ao contrário do que acontecia até ao início do nosso século. Possuímos uma marca própria, Água+, e temos vários acordos com os municípios para a sua utilização”, diz o administrador. “A nossa água serve para a rega de espaços verdes, agrícolas ou campos de golfe, lavagem de viaturas e vias públicas ou até para sistemas de aquecimento e arrefecimento”, explicou Hugo Xam- bre Pereira.
Cerca de 70% da água que consumimos diariamente nas nossas casas é reaproveitada para usos não potáveis (os restantes 30% são lançados no mar após tratamento), “mas ainda há muito que fazer nesta nova forma de pensar o ciclo da água”.
FUTURO DISCUTE-SE HOJE
Nesse sentido, começa hoje o Caminho da Inovação, uma iniciativa que reúne 400 convidados, desde técnicos a autarcas, para discutir o futuro da água no país. A Economia Circular e a Indústria 4.0 serão os temas centrais deste evento que decorrerá na Fábrica de Água de Alcântara, onde será apresentada a Vira. “Criar este evento faz todo o sentido para cruzarmos novos projetos de inovação que possam servir para sermos mais eficientes”, concluiu o administrador.»
A cerveja artesanal Vira, que não vai ser comercializada, foi criada para mostrar que as águas tratadas podem ter vários caminho
60% da água utilizada diariamente paia fins domésticos é gasta nos banhos e nas descargas de autoclismo e apenas i% é utilizada para beber.
20% é a meta traçada em março pelo ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, para a reutilização das águas residuais em 2030.
INICIATIVA
Caminho da Inovação
No programa da 3.a edição deste evento destacam-se os painéis de debate dedicados à reutilização e inovação no setor, uma exposição de projetos de investigação, sessões de networking e a atribuição de prémios aos vencedores do “Desafio à Inovação” e o lançamento de novos desafios para 2020. A Economia Circular e a Indústria 4.0 serão os temas centrais do evento aberto às comunidades municipais, empresariais, universitárias e científicas.