Ministro do Ambiente fala em benefícios, mas Quercus diz que há “contrassenso”, já que o lítio será para exportar.
Exploração de Lítio.
João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Transição Energética, defendeu ontem que a exploração deste mineral é necessária para cumprir as metas de neutralidade carbónica até 2030. Uma declaração que surgiu depois de o i ter noticiado o impacto negativo da exploração de lítio para as metas de descarbonização.
À margem da inauguração da obra de requalificação das áreas de acolhimento da Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, em Aveiro, Matos Fernandes referiu que, neste momento, a única alternativa à exploração do lítio em Portugal é a sua importação – já que ainda não há exploração – e que as baterias de lítio são essenciais para armazenar energia de fontes renováveis. O responsável pela pasta do ambiente defendeu que a exploração deste mineral é fundamental para cumprir as metas de descarbonização.
A Quercus tem uma visão diferente da de João Pedro Matos Fernandes: se a exploração do lítio for para a frente, as metas de descarbonização estarão comprometidas. Face às palavras do ministro do Ambiente, está “ainda por explicar como é que vai ser promovida a descarbonização ao emitir mais CO2”, disse ao i Pedro Santos, da Quercus.
O lítio pode, efetivamente, ser um auxílio para a descarbonização em Portugal se for utilizado para fazer baterias para os carros elétricos e substituir os carros movidos a gasolina e gasóleo. Mas, segundo os planos de lavra das minas de Barroso, Argemela e Sepeda, o objetivo da extração é a exportação do mineral.
“Se esse lítio vai ser para exportação, como é que ele depois vai compensar as nossas emissões?”, questiona a Quercus, acrescentando que “o lítio, para compensar as emissões em Portugal teria de ser utilizado em Portugal no sentido de haver poupança na emissão de CO2, e não é isso que está previsto – existe aqui um contrassenso que tem de ser explicado”.
A nível mundial, refere a Quercus, do total de lítio extraído, aproximadamente, 55% vai para a construção de baterias automóveis e 45% é direcionado para outras utilizações, como medicina, indústria de cerâmica e tecnologia “Se 55% do lítio explorado em Portugal fosse para a construção de baterias, era bom, não fosse o caso de nos planos de lavra estar previsto que o concentrado de lítio vai ser exportado”, alerta Pedro Santos.
A Quercus publicou ontem um estudo baseado nos planos de lavra já existentes, cujas conclusões revelam que as emissões de C02 vão ser prejudiciais para atingir as metas de descarbonização.
Segundo os ambientalistas, se o Estado avançar com a campanha de exploração deste mineral, o programa de neutralidade carbónica não será cumprido. “Fizemos uma estimativa do impacto que isto [emissões de C02] tem no Plano Nacional de Energia e Clima apresentado pelo Governo no início do ano”, disse ao i Pedro Santos. O plano apresentado pela tutela tem com objetivo atingir a neutralidade carbónica até 2030.
Contactado pelo í, o ministério do Ambiente não quis acrescentar informação às palavras de João Pedro Matos Fernandes, relembrando apenas as declarações do ministro no início de julho: “Não haverá em Portugal alguma exploração de pedreira de lítio, sem um estudo de impacte ambiental”.
A Quercus acusa, no entanto, o Governo de pôr a “carroça à frente dos bois”. Isto, porque estudo de impacto ambiental relativo à mina de Sepeda ainda não está concluído e já existe “um contrato assinado com a própria empresa de exploração, muito embora esse contrato refira que está à espera do Estudo de Impacto Ambiental”.