CIÊNCIABarragem de Alqueva, no Alentejo, o maior lago artificial da Europa. Para o projeto LIS-Water, hoje o problema não é tanto a falta de água mas antes o facto de ela ser mal gerida Foto Tiago MirandaO LIS-Water envolve para já a participação de mais de 120 organizações nacionais e estrangeiras, tem garantido um financiamento nacional de €18,2 milhões e espera apoios de €12 milhões da Comissão EuropeiaTexto Virgílio Azevedo Juntar ciência, tecnologia e políticas públicas na gestão e regulação dos recursos hídricos e dos serviços de água, é o principal objetivo do Centro Internacional para a Água de Lisboa (LIS-Water), que vai nascer no campus do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). O LIS-Water envolve a participação de mais de 120 organizações portuguesas e estrangeiras, já tem garantido um financiamento nacional de €18,2 milhões e espera apoios de €12 milhões da Comissão Europeia.É o segundo centro de excelência europeu a ser criado em Portugal o primeiro foi o Centro de Investigação de Excelência em Medicina Regenerativa e de Precisão da Universidade do Minho e é promovido pelo LNEC em parceria com a Universidade de Cranfield, do Reino Unido, e a Sorbonne Business School, de Paris. A sede ficará instalada num edifício do LNEC que vai ser reabilitado para o efeito, estando a sua conclusão prevista para o final de 2020. E na zona envolvente será construído, como o apoio da Câmara de Lisboa, um Centro de Interpretação e o Jardim da Água, uma das novas infraestrutruras destinadas a assinalar a consagração de Lisboa como Capital Verde Europeia 2020. “A água tem sido muito abordada a nível internacional nas tecnologias, mas queremos também desenvolver a capacidade de governação e as políticas públicas”, afirma ao Expresso o coordenador do LIS-Water. Jaime Melo Baptista, investigador do Departamento de Hidráulica e Ambiente do LNEC, acrescenta que “o problema não é tanto a falta de água mas antes o facto de ela ser mal gerida”. É por isso que “há países em desenvolvimento com recursos hídricos abundantes mas que têm falta de água por falta de governação e de gestão adequadas”. Por outro lado, os centros de investigação dos recursos hídricos que já existem, “dedicam-se maioritariamente às questões relacionadas com a qualidade e a quantidade da água e as tecnologias para as gerir”. Ou seja, as questões de enquadramento político, jurídico e institucional são colocadas num plano secundário. Ser uma referência mundial em políticas públicasEm todo o caso, desde 2015 que a Associação Internacional da Água adotou a Carta de Lisboa, saída do Congresso Mundial da Água realizado nesse ano na capital portuguesa, recorda Jaime Baptista. O documento estabelece para todo o mundo as boas práticas de governação, de políticas públicas, ao nível nacional e local e na regulação dos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais. O LIS-Water vai ter, por isso, “uma lógica pluridisciplinar e integrada da água e pretende ser uma referência mundial em políticas públicas”.A sua atividade vai repartir-se por cinco áreas fundamentais. A primeira é a investigação e inovação, mas para esta ser transferida para a sociedade através do envolvimento dos decisores, profissionais da água, empresários e público em geral, o LIS-Water vai desenvolver também atividades de educação, formação e capacitação; assessoria estratégica para ajudar os decisores do setor da água; incubação e aceleração de novas empresas (startups) para apoiar o empreendedorismo e o desenvolvimento do setor; e promoção do envolvimento social, para disseminar a conciencialização do público relativamente às questões da água e melhorar a proteção dos consumidores. Além da Carta de Lisboa, Jaime Melo Baptista sublinha que “o LIS-Water pretende contribuir para dar resposta a outras recentes e importantes iniciativas internacionais, como o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e os Princípios de Governação da Água da OCDE”.As 120 organizações que já aderiram ao centro incluem governos, organizações internacionais, mais de vinte universidades (de Portugal, Espanha, Alemanha, Reino Unido, França e Brasil), centros de investigação, serviços públicos, associações, empresas privadas e media, cobrindo todas as atividades previstas e abrangendo os cinco continentes. 30 instalações experimentaisMas afinal, como conseguiu o LNEC acolher a futura sede do LIS-Water? “Temos instalações de trabalho adequadas para todos os investigadores, estudantes e outros intervenientes no nosso vasto campus de 22 hectares em Lisboa, incluindo salas de aula, quatro auditórios e grande biblioteca”, explica o coordenador do projeto. “Por outro lado, o centro vai ter acesso a 30 instalações experimentais já existentes, destacando-se a Unidade de Hidráulica Metrológica, a Unidade de Qualidade e Tratamento de Águas, as instalações experimentais de hidráulica fluvial e marítima ou a instalação de ensaios sísmicos”. Dentro do campus há ainda alojamentos, refeitório, cafés, centro médico e equipamentos desportivos. “E estamos a dez minutos de carro do Aeroporto Humberto Delgado”.Ao mesmo tempo Portugal ganhou prestígio internacional devido ao grande desenvolvimento do setor da água nos últimos anos e à organização em Lisboa de iniciativas como o Congresso Mundial da Água ou o Primeiro Fórum Internacional de Reguladores de Água. Portugal está também entre os 10 países do mundo com melhor ensino científico nesta área, segundo um recente estudo da OCDE. A primeira fase de preparação do LIS-Water já está concluída, foi financiada pela Comissão Europeia e envolveu a entrega de 19 relatórios. A proposta à segunda fase, no âmbito do programa europeu Teaming, já foi entregue, tendo sido recebidas 83 cartas de apoio de entidades nacionais e estrangeiras, das quais nove são de compromissos financeiros complementares ao financiamento de €12 milhões esperado da Comissão Europeia. São compromissos totais para os próximos sete anos de €18,2 milhões do Ministério do Ambiente, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, do próprio LNEC, Câmara de Lisboa, CCDR de Lisboa e Vale do Tejo, ERSAR dos Açores, Águas de Portugal, Agência Portuguesa do Ambiente e S317 Consulting.