INTERAÇÃO ENTRE RECOLHAS PODE CRIAR SINERGIAS
Integrar a recolha seletiva e indiferenciada é possível e o caso de Cascais é um bom exemplo disso. Em 2017, Cascais deixou de recorrer aos serviços de uma empresa privada, que recolhia os indiferenciados em metade do concelho, para passar a garantir essa tarefa através da empresa municipal, o que permitiu poupar por ano cerca de meio milhão de euros. O administrador da Cascais Ambiente, Luís Capão, fala da partilha de meios, como os veículos, como uma das grandes vantagens deste sistema Com esta solução “pode gerir-se melhor e adaptar-se os circuitos diários tendo em
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conta avarias dos equipamentos ou outras vicissitudes do dia-a-dia”, exemplifica Luís Capão. A recolha integrada, como evidencia a AEPSA (Associação das Empresas Portuguesas para o Setor do Ambiente), permite poupanças muito significativas nos custos da recolha de resíduos urbanos, dado que “substituirá, progressivamente, a atual e absurda frequência diária das recolhas indiferenciadas pelo incremento das frequências das recolhas seletivas, utilizando as mesmas equipas de recolha”, Com uma gestão única para os dois tipos de recolha poderá existir “uma frota única de veículos de recolha comum para todos os fluxos, caso se adopte o método de recolha porta-a- -porta, eliminando ou reduzindo, drasticamente os inestéticos ecopontos da via pública”, sugere a AEPSA. Mas há mais benefícios associados a esta solução. “As sinergias criadas em toda a linha de atividades de suporte, tais como a manutenção, aquisição de equipamentos e consumíveis, otimização de equipamentos e pessoal, bem como todo o know-how”, sublinha Nuno da Costa, da SUMA.
Para o especialista da ZERO, Rui Berkemeier, a mudança do sistema de recolha poderia ter impactos benéficos na relação com a população. Facilitaria a comunicação e permitiria atingir taxas de recolha seletiva muito superiores, principalmente no plástico. “A integração das recolhas num sistema porta-a-porta também vai permitir introduzir gradualmente a recolha seletiva de orgânicos e PAYT’ (Pay As You Throw/ Pagar pelo produzido, garante.
ALGUMAS BARREIRAS
Apesar da integração dos sistemas de recolha seletiva e indiferenciada apresentar inúmeras vantagens há alguns condicionalismos à sua implementação. O administrador da Lipor, Fernando Leite, defende que urge melhorar a situação muito deficiente em que nos encontramos. “O documento publicado ultimamente pela ERSAR pouco ajuda no apontar de soluções, limita-se a constatações e isso é pouco”, avalia Para Rui Berkemeier a maior dificuldade em integrar as recolhas de resíduos em Portugal prende-se com “a existência de uma empresa privada a EGF, que faz a recolha seletiva de grande parte dos sistemas de resíduos urbanos, enquanto a recolha indiferenciada é feita pelas câmaras municipais”. Segundo o especialista da ZERO, “seria fundamental que a recolha seletiva voltasse para as autarquias, ficando a EGF com o tratamento dos resíduos”.
A AEPSA entende no entanto que esta operação deve estar sob a mesma gestão efetiva independentemente de ser municipal ou privada
Uma outra questão que se coloca a propósito de um sistema único para recolha seletiva e indiferenciada de resíduos está relacionada com a dimensão de alguns concelhos. Em Cascais a opção foi possibilitada por um elevado nível de eficiência e economias de escala conseguidas neste município que é o quinto maior concelho do país. “Em municípios de pequenas dimensões, por exemplo, dificilmente haverá capacidade tecnológica e know-how para assumir este tipo de responsabilidade”, analisa