Exame Informática A entrada no laboratório onde a AAqua in Silico tem trabalhado transporta o olfato para uma nova dimensão. Bárbara Almeida, Jorge Santos e Pedro Cardoso, os três mentores da startup iniciada no Grupo de Engenharia Bioquímica da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/ UNL), são “habitués”. Já não dão pelo cheiro que pode ser descrito como uma mescla de aromas entre fruta putrefacta, água estagnada e leite azedo. Aparentemente, o olfato passou a bloquear-lhes o mau cheiro. O que é uma vantagem para quem está apostado em desenvolver o primeiro sistema operativo para Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) do mundo. «Já temos um software de apoio à decisão, mas vamos criar nos próximos tempos uma solução que permita receber dados e atuar nos vários equipamentos de uma ETAR», refere Jorge Santos, líder da Aqua In Silico e investigador da FCT/UNL.Numa época em que tudo está conectado e a interatividade é um f ator de sucesso, qualquer leigo poderia ser levado a crer que um software “à antiga” que se limita a fazer cálculos e a apresentar resultados teria os dias contados. Só que nos tratamentos de águas residuais a informática encontra-se num estágio de evolução bem diferente: «Como não há nada no mercado, este primeiro software já é algo que será muito valorizado», explica Jorge Santos.O primeiro software produzido pela Aqua in Silico começou a ganhar forma durante o doutoramento de Jorge Santos. Hoje, os responsáveis descrevem- -no como «software offline», para diferenciá-lo da versão futura que deverá estar apta a recolher informação em tempo real e a enviar comandos para os vários equipamentos de uma ETAR, mas na verdade esta primeira solução não dispensa Internet. Depois de participarem no programa de aceleração HiSeedTech, os investigadores estão apostados em avançar para a estreia comercial com a distribuição de software através da Net.Além de um eventual registo de patente, a Aqua in Silico também pretende captar investimento para a entrada nos mercados americano, europeu e australiano. «Este software incorpora todo o conhecimento produzido nestes laboratórios nos últimos 30 anos», sublinha Jorge Santos, sem deixar de apontar Maria Ascensão Reis, responsável pelo Grupo de Engenharia de Bioquímica, como uma das principais referências científicas. Pedro Cardoso, Jorge Santos e Bárbara Almeida, desenvolveram o software da Aqua In Silico noslaboratórios da Universidade Nova de Lisboa, CaparicaO novo software compila 113 processos de tratamento de resíduos, com o objetivo demelhorar o desempenho das bactérias de uma ETAR BACTÉRIAS EM AÇÃOO software da Aqua In Silico é composto de zeros e uns, mas tem por objetivo produzir efeitos em cenários orgânicos: Nas ETAR, os resíduos e os detritos que vêm dos esgotos são literalmente decompostos pelas ações de «consórcios de bactérias» que, de forma concertada, facilitam a depuração e núnimizam impactos gerados por matérias poluentes.Os mais desatentos podem ser levados a subestimar o papel das bactérias neste processo – mas é aí que reside a oportunidade de negócio da Aqua in Silico. «O funcionamento das ETAR é composto por várias etapas, e as mais importantes são aquelas em que se verificam os processos biológicos. O problema é que esses processos dependem do desempenho de bactérias, que estão em situação de instabilidade entre 50% e 80% do tempo», descreve Jorge Santos.São vários os fatores que podem afetar o desempenho das bactérias: as chuvas que aumentam a quantidade de água que entra para tratamento, as variações de temperatura, o arejamento, ou até as configurações dos tanques. Os estudos compilados pela Aqua In Silico revelam que, em média, os custos operacionais de uma ETAR que serve uma população de 50 mil pessoas ascendem a dois milhões de euros anuais – sendo que metade desta verba está dependente do desempenho das bactérias. Resultado: nem sempre é fácil saber como é que se combinam os diferentes fatores que ajudam a manter o desempenho otimizado dos micro-organismos. E por isso, muitas entidades que gerem as ETAR recorrem hoje a consultoras que indicam os diferentes ajustes necessários para garantir que não há quebras na performance bacteriana.Nos cenários em