INDÚSTRIA E AMBIENTE (05-05-2018) A EXPERIÊNCIA DO ÚLTIMO ANO HIDROLÓGICO E A SUA IMPORTÂNCIA PARA O FUTUROO ano hidrológico iniciado em outubro de 2016 foi urn dos menos pluviosos desde que há registos.Talvez seja precipitado inferir que tais condições sejam o reflexo direto de alterações climáticas que hoje poucos se atrevem já a questionar. Particularmente nos países do sul da Europa, as condições de escassez de água nas origens dos sistemas de abastecimento obrigou as entidades gestoras dos serviços de águas à adoção de medidas de adaptação. Em Portugal, a pressão colocada nos sistemas de abastecimento veio demonstrar que os investimentos realizados nos últimos anos com à vista ao aumento da capacidade de reserva das origens foram adequados e evitaram situações de rotura. É o caso da barragem Veigui- nhas construída e gerida pela Águas do Norte, que evitou que Bragança, cidade capital de distrito da Terra Fria transmontana, cortasse a água aos seus consumidores a partir do dia 4 de outubro de 2017.Por outro lado, a cidade de Viseu, outra capital de distrito mais a sul, esteve a escassos dias de ver a sua origem principal (Albufeira de Fa- gilde) totalmente esgotada. Uma sociedade que não aprende com as experiências do passado e não se prepara para um futuro que é cada vez mais exigente no domínio da gestão dos recursos hídricos, está inevitavelmente a sujeitar-se a episódios de ru- tura com consequências difíceis de antecipar. É neste contexto de progressiva pressão nas origens, resultante das severas condições climáticas, que associaram, no último ano hidrológico, a baixa pluviosidade a um prolongado período seco, que entidades gestoras responsáveis pelo abastecimento de água desenvolveram planos de contingência de curto prazo e estão a desenvolver planos de médio e longo prazo de adaptação às alterações climáticas Em períodos de seca, para além da diminuição da disponibilidade de água nas origens dos sistemas de abastecimento, a qualidade da água bruta tende a degradar-se, gerando problemas adicionais aos gestores dos serviços de abastecimento.É, portanto, quer ao nível da quantidade querda qualidade que a gestão dos sistemas se tem de concentrar.OS IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NO SERVIÇO PÚBLICO DE ABASTECIMENTO DE ÁGUAImpactos na Quantidade O abastecimento público de água é considerado um serviço público essencial, assim classificado pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), dado tratar-se de uma atividade absolutamente vital ao dia- a-dia dos cidadãos.É um serviço público que deve ser ininterrupto e assegurar a qualidade adequada ao consumo humano.As entidades gestoras portuguesas foram capazes de antecipar alguns dos efeitos das alterações climáticas e, nos últimos anos, construíram infraestruturas de abastecimento de água adequadas ao atendimento das populações. Por um lado, investindo no reforço das origens, passando a basear as captações em meios hídricos capazes de sustentar Eduardo Gomes Presidente do Conselho de Administração da Águas do Norte Pedro BastosDiretor de Exploração da Águas do Norte o abastecimento de água ao longo dos anos hidrológicos, armazenando em períodos de maior produtividade hídrica, para garantir os consumos em períodos de escassez, A Águas do Norte, por exemplo, construiu no período de 2002 a 2015, sete barragens, com uma capacidade global de armazenamento de 15,1 hm3.Associados aos investimentos realizados no reforço das origens ao longo dos últimos anos, as principais entidades gestoras nacionais construíram mfraestruturas capazes de captar, tratar e transportar água em qualidade e quantidade compatíveis com as necessidades dos utentes do serviço. Ninguém pode negar que Portugal deu nos últimos vinte anos um salto enorme na qualidade dos serviços de águas. Sem embargo do progresso realizado, os últimos anos têm sido marcados por flutuação das condições de pluviosidade. Estas alterações dos perfis de pluviosidade têm vindo a dar razão aos alertas dos cientistas. O ano hidrológico iniciado em outubro de 2015 veio comprovar que as alterações climáticas podem assumir formas cada vez mais severas e que o seu impacto pode ser muito significativo.Em várias albufeiras geridas pela Águas do Norte foram atingido