ÁGUA & AMBIENTE ENTIDADES GESTORAS TÊM FEITO PROGRESSOS, MAS SERVIÇOS MUNICIPAIS NEM SEMPRE ACOMPANHAM O RITMO. HÁ MAIS FUNDOS COMUNITÁRIOS PARA PROJETOS INOVADORES, MAS EMPRESAS DO SETOR AINDA ESTÃO POUCO ENVOLVIDAS NESTA DINÂMICA. O setor da água tem feito amplos progressos nas últimas duas décadas, também na área da inovação, mas tem ainda um caminho a percorrer. Apesar de um posicionamento internacional promissor, falta envolver mais os stakeholders – desde as entidades gestoras às empresas e decisores – para desbloquear este potencial. Em termos globais, o País é considerado um “inovador moderado”, segundo o Quadro Europeu de Inovação (“EU Innovation Scoreboard”) de 2017, ficando em 14.° lugar entre os parceiros europeus. Como pontos fortes desta- que-se o sistema de investigação e recursos humanos, e como pontos fracos, o investimento empresarial em investigação e desenvolvimento (l&D), a capacidade de estabelecer parcerias entre entidades públicas e privadas, assim como a exportação e colocação em mercado de soluções inovadoras.Pelas suas características, este setor é tipicamente visto como sendo mais conservador do que outros setores, nomeadamente os da energia ou telecomunicações. Perceber-se porquê: está associado a uma infraestru- tura de rede, com tempos de vida longos e um custo de investimento elevado.”É um setor menos associado a dinâmicas de inovação”, reconhece Miguel Carrinho, coordenador da Comissão Especializada de Inovação da APDA – Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas, destacando o custo elevado das infraestruturas como “constrangimento à adoção mais rápida de soluções inovadoras”. Por outro lado, na prestação de serviços de água, atuam um conjunto muito heterogéneo de entidades gestoras, quer em termos de dimensão, quer de modelos de gestão. “Nem toda a gente está a olhar para estas questões da mesma forma”, diz Miguel Carrinho, em termos de “intensidade” e de “velocidade”. Contudo, nota o representante da APDA, a dimensão não tem de ser um constrangimento. “Ser pequeno também pode ser sinónimo de maior agilidade”, ilustra. Ainda assim, segundo Jaime Melo Baptista, investigador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Portugal está numa posição de “charneira”, entre um quarto dos países mais desenvolvidos, que atualmente estão mais concentrados em resolver “problemas ambientais”, e três quartos de países menos desenvolvidos, ainda muito focados no acesso universal a serviços de água e saneamento. Sendo o país “pequeno e sem uma base industrial forte”, há oportunidades que se abrem, na sua opinião, relacionados com a consultoria estratégica a países que têm hoje “os mesmos problemas que tínhamos há 20 anos”, mas também de desenvolvimento de novas ferramentas de base digital “fáceis e baratas”, beneficiando de uma “nova geração de profissionais”, muito familiarizada com estas tecnologias. “Estamos num patamar muito interessante, se olharmos lá para fora”, observa também Frederico Fernandes, presidente da Águas do Porto, empresa que coorganiza, em representação da Câmara Municipal do Porto, o maior evento de inovação da Europa em 2017, a Porto Water Innovation Week, que se realiza já no próximo mês de setembro (ver pág. 58). E ainda que reconheça que existem “grandes discrepâncias”, em termos de escala e de conjuntura, entre as entidades gestoras do setor, o gestor considera que estas têm “tendência para serem reduzidas”.INOVAÇÃOE EMPRESARIALIZAÇÃOExistem poucos dados objetivos sobre o desempenho e a atitude das entidades gestoras de serviços de água face à inovação. Um estudo recente desenvolvido por Rui Cunha Marques, do Instituto Superior Técnico, e apresentado no final de junho, avalia o desempenho das entidades gestoras em relação a diversos critérios entre os quais a inovação. Para comparar as diferentes entidades gestoras, em função do seu modelo de gestão, foram considerados seis critérios para avaliar a adoção de “novas tecnologias” e “soluções pioneiras do ponto de vista administrativo”, nomeadamente a existência de sítio de internet funcional, modalidades de pagamento disponibilizadas, sistemas tarifários diferenciados, sistemas de informação geográf