Ambiente Online Existe uma crescente perceção de que temos que ir palmilhando os caminhos da economia circular, e as entidades gestoras dos serviços de águas têm naturalmente um papel importante. Significa ir adotando ponderadamente novos procedimentos, não apenas para a água, mas também para os materiais e a energia, que lhe estão associados. Vamos neste texto analisar alguns caminhos para a água em direção à economia circular que importa intensificar. As entidades gestoras devem ponderar a viabilidade de aumentar os investimentos a montante dos sistemas, nomeadamente em medidas de proteção e conservação nas bacias hidrográficas onde se localizem as suas captações, o que permite reduzir custos de tratamento. Devem também ponderar a viabilidade de adotarem infraestruturas naturais (ou verdes), que reduzem custos de investimento e permitem aproveitar processos naturais de tratamento da água, controlo de temperatura, minimização de sedimentos, retenção pluvial, redução de cheias, captura de carbono e mesmo produção alimentar. Para isso necessitamos de incluir os custos dos serviços ambientais nas tarifas e de criar incentivos à utilização de infraestruturas naturais. Em termos de mercado é necessário demonstrar o retorno sobre o investimento para as infraestruturas naturais e outros investimentos a montante dos sistemas. As entidades gestoras devem avaliar a viabilidade de aumentarem a reutilização de águas residuais para a agricultura e a aquacultura, reduzindo a procura de água nas origens tradicionais e aproveitando nutrientes. Isso exige no entanto tratamento adicional e tem custos significativos, não apenas no tratamento mas principalmente no transporte até aos utilizadores. Para isso carecemos de regulamentação para a utilização segura de águas residuais sem prejudicar a saúde pública. Em termos de mercado necessitamos de incentivos à procura destas águas pelos sectores agrícola e da aquacultura, bem como de melhores modelos de contratualização entre fornecedores e utilizadores, com adequada partilha de risco. Devem também ponderar a viabilidade de aumentar a reutilização de águas residuais para a indústria destinada a processos de arrefecimento, aquecimento, lavagem e mistura, reduzindo a procura de água nas origens tradicionais. Para isso carecemos de regulamentação para a utilização segura de águas residuais e águas cinzentas para o setor de alimentação e bebidas e para torres de arrefecimento. Em termos de mercado, a reutilização reduz o custo com a compra de água e diminui as águas residuais, podendo ainda minorar a necessidade de aquecimento se for reciclada água quente. Devem também ponderar a viabilidade de reutilização de águas cinzentas para a agricultura e a aquacultura, reduzindo a procura de água e aproveitarem nutrientes, o que no entanto exige tratamento e ainda tem custos significativos. Para isso carecemos de regulamentação para a utilização segura de águas cinzentas nessas utilizações. Em termos de mercado é necessário criar maior procura pelos setores agrícola e da aquacultura. Devem também ponderar a viabilidade, em novas urbanizações, de reutilização de águas cinzentas para produção de água não potável, reduzindo a procura de água de origens tradicionais, o que é em geral apenas aplicável a nível localizado e implica custos elevados. Para isso é necessária legislação incentivando a reciclagem de águas cinzentas especialmente em urbanizações e edifícios altos. Em termos de mercado é necessário criar procura pelo consumidor, diminuir a relação custo/benefício dos sistemas domésticos de recolha e tratamento, reduzindo assim o seu período de retorno sobre o investimento, e criar incentivos através de preços diferenciados função da qualidade da água. Há finalmente que estudar a viabilidade, em geral a nível de pequenas comunidades ou domiciliar, do aproveitamento da água da chuva, o que permite reduzir não apenas a procura de água, mas também as cheias, a erosão do solo e a contaminação das águas superficiais com fertilizantes e pesticidas. Para isso carecemos de regulamentação que permita o tratamento e a utilização domiciliar de água da chuva. Em termos de mercado é necessário criar procura pelo consumidor, diminuir a relação custo/benefício dos sistemas domésticos de recolha e tratamento da água da chuva e assim reduzir o seu período de retorno sobre o investimento, bem como criar mecanismos financeiros