Jornal de Negócios
Todos anseiam o mesmo desfecho: cidades inteligentes e eficientes. Para que tal aconteça, é preciso ultrapassar barreiras bem fortes. Os cidadãos são os grandes aliados desta batalha “verde”. A sustentabilidade ambiental está nas mãos das cidades Verde é a cor com que se pintam as cidades do futuro. E essa obra começa já nos dias de hoje. “A cidade inteligente é verde”, defendeu o presidente de Cascais, Carlos Carreiras, na conferência “Energy and Mobility for Smart Cities”, que teve lugar naquela cidade nos dias 25 e 26 de Novembro.O contraste entre aquilo que são os passos dados pela inovação e os comportamentos dos cidadãos ainda é acentuado. “Precisamos de estratégias que motivem as pessoas a participar e a fazer parte deste movimento de sustentabilidade”, aponta David Rua do INESC TEC.Na fase do “software” que se hoje se atravessa, estabelece-se uma “enormíssima oportunidade” para criar emprego e desenvolver as cidades. “E algo a que a sociedade tem que se agarrar e ficar entranhada”, recorda Carreiras.Mas também existem riscos: a tecnologia abre margem ao debate sobre a invasão da privacidade dos utilizadores por quem gere a rede. Instai ar a estrutura de carregamento na garagem do prédio pode trans- formar-se num sonho hipotecado na reunião de condomínio. Tudo porque falta informação sobre os reais benefícios e as ideias pré-concebidas acabam por ganhar.A chave está pois em fazer chegar a informação aos cidadãos, para que a mudança seja mais rápida do que o tempo de uma geração. A informação deverá juntar-se políticas de incentivos e preços mais acessíveis, amigos do bolso de quem queira comprar um veículo eléctrico ou painéis solares, por exemplo.”O futuro da sustentabilidade da humanidade depende daquilo que se fizer nas cidades”, recorda Paulo Ferrão do Instituto Superior Técnico. Porque é nas cidades que se encontra a maioria da população e a maior pressão ambiental sobre o planeta Terra.Como uma cidade inteligente não é um prospecto para ser visitado, mas um lugar para viver, é preciso traçar estratégias que combinem a sustentabilidade com o quotidiano. Monitorizar a um nível mais fino a informação é um dos caminhos que se apresentam.”A cidade produz muita informação que não conhecemos. Vá perguntar ao Airbnb [plataforma de aluguer de alojamento] como é que a cidade está hoje e daqui a duas semanas. Nenhum de nós conhece isso”, exemplifica o vereador do Ambiente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo.Com uma informação maistransparente, fica aberta a porta para um conjunto de poupanças: dos combustíveis à água, da electricidade ao papel, passando pelos transportes. Uma cidade inteligente tem de ser encarada como “um todo” e não como medidas avulsas. Lisboa, Cascais ou Porto já estão a executar planos nesse sentido, mas não se dão por satisfeitas.Há sempre algo mais que pode ser feito. Daí que José Sá Fernandes, vereador do Ambiente em Lisboa,defenda uma união mais eficaz entre o território português. “Falta interligar-nos como municípios para fazer passar essa informação”, perspectiva.Se o Governo e o poder local têm tomado as rédeas neste processo, Paulo Ferrão sugere outras alternativas para que o pensamento seja cada vez mais ecológico. “Se for um movimento civil que for apoiado, se calhar isto é capaz de funcionar”, diz. Um dos exemplos é afigurado Orçamento Participativo, onde Cascais tem servido de referência a outras cidades europeias e até a Nova Iorque.O que importa é trazer a investigação das universidades para o contexto do dia-a-dia. A investigadora Júlia Seixas, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, não tem dúvidas: “há informação mas ela está num tipo de acessibilidade muito difícil”. Urge democratizá-la, espalhar os tons de verde pela sociedade. É preciso explorar ainda mais a informação produzida pelas cidades, dizem os especialistas. A conferência “Energy and Mobility for Smart Cities” teve lugar nos passados dias 25 e 26 de Novembro em Cascais.