Ambiente Online Há uns dias atrás, dizia-me o Eng. Francisco Machado (FM), da empresa SISAQUA, que tem acompanhado, no decurso das suas frequentes idas a São Paulo, o drama que a população está a enfrentar com a escassez de água. A região sudeste do Brasil enfrenta a sua pior crise hídrica da sua história. A principal reserva de água da região de São Paulo – o reservatório da Cantareira, donde é captada água que abastece cerca de 9 milhões de pessoas (5 milhões das quais não têm fonte alternativa de água) – nunca recebeu tão pouca chuva como no ano passado, desde que há registos – há 125 anos! Some-se (ou talvez se deva multiplicar…) tal situação ao significativo crescimento populacional observado e ao caótico desordenamento territorial e facilmente se compreende a conjuntura a que São Paulo chegou. Perante a situação, a Sabesp – a empresa estadual que gere a água e saneamento de São Paulo – reage. E reage reduzindo pressão na rede, acudindo a roturas, lançando gigantes obras “emergenciais” e incentivando à poupança no consumo (propondo, por exemplo, bónus na fatura da água a quem atinja reduções de consumo significativos). Ou seja, perante um desastre iminente, faz o que pode… Aqui em Portugal, isto vem a propósito da atual fase de participação pública relativa às Questões Significativas da Gestão da Água identificadas nas Oito Regiões Hidrográficas, que tem por objetivo preparar o processo de revisão dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica (PGRH). Perante o exemplo do que se passa em São Paulo, afigura-se da maior atualidade, não só a discussão, mas, sobretudo, a implementação das medidas que estão consignadas nos respetivos estudos. Os efeitos das alterações climáticas já se sentem em muitas geografias do nosso Planeta e, infelizmente, estão cá para durar. A situação que a Sabesp está a atravessar é um dramático alerta para a absoluta necessidade de planear a longo prazo soluções que possam mitigar situações extremas que, estatisticamente, teriam períodos cíclicos superiores 1.000 anos, mas que, como provam os extremos climáticos atuais, têm seguramente ciclos incomparavelmente inferiores. Dizia FM que receia que a escassez de fundos disponíveis para investimento público possam comprometer muito a implementação dessas medidas, fundamentais para a proteção dos recursos e para a segurança da água. Provocação do mês: É fundamental evitar que se possa vir a passar pela quase catástrofe que algumas entidades gestoras passaram em 2005, numa (ainda não esquecida) escassez de água. É fundamental prevenir em vez de reagir. Diogo Faria de Oliveira é licenciado em Engenharia Civil com especialização em Hidráulica, Recursos Hídricos e Ambientais. É Administrador Executivo da Aquapor (desde 2001), Presidente da Associação das Empresas Portuguesas para o Sector do Ambiente, Conselheiro da ERSAR e membro do Conselho Nacional da Água. Escreve, por opção, ao abrigo do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.