Jornal de Negócios ENTREVISTAAFONSO LOBATO DE FARIA CEO DA ÁGUAS DE PORTUGAL”Na AdP há toda a vontade de reduzir custos”O Ministério do Ambiente deverá apresentar na próxima semana os detalhes da reestruturação do sector da água. A Aguas de Portugal (AdP) será pedida mais eficiência. O presidente da AdP, Afonso Lobato de Faria, garante, em entrevista ao Negócios, que a empresa está empenhada nesse objectivo. Porque falham tantas vezes os pressupostos na base das concessões de água a privados? Quando se lida com contratos de longo prazo, as estimativas têm de ser mais arriscadas. E difícil acertar em cheio. O que é importante é que essas estimativas sejam feitas de uma forma o mais realista possível. E é importante haver mecanismos nos contratos que permitam que haja flexibilidade. Em Portugal grande parte da infra-estrutura no sector da água está montada e o investimento está feito. Quais são os principais desafios no sector? Nós estamos a sair de uma fase de infra-estruturação para entrar numa fase de gerir bem aquilo que construímos. Mas isso não deve fazer-nos esquecer que ainda há infra-estruturas a construir. Em termos de tratamento de águas residuais ainda não temos 100% do País coberto. Ainda vamos ter de fazer alguns investimentos. O novo desafio é conseguirmos rentabilizar as infra-estruturas que construímos, reduzir custos (a questão da escala é extremamente importante). Com a actual arquitectura do sector, Portugal está preparado para uma eventual privatização total do sector das águas? Essa é uma matéria que cabe ao Governo. Não tenho comentários. Com a privatização da EGF, a AdP vai perder uma parte do seu negócio. Em contrapartida, vai conseguir reduzir o seu endividamento. Vê nesta operação outras vantagens para a AdP? E uma decisão do nosso accionista. O grupo AdP desde o início deu todo o apoio a esse processo, que correu muito bem. Acho que estão lançadas as fundações para que o sector dos resíduos continue a progredir como até agora tem progredido. No programa de eficiência operacional, em que o Governo pretende que haja uma redução de custos na Águas de Portugal, vai ser fácil cumprir a missão? O grupo obviamente tem feito um esforço grande para ser eficiente. Agora, como tudo na vida, há sempre a possibilidade de conseguirmos mais. E evidente que se alterar algumas características do enquadramento, nomeadamente a dimensão das empresas, começa a haver espaço para haver ganhos de eficiência maiores. Do lado do grupo AdP há todo o interesse, toda a vontade e toda a energia para concretizar as sinergias e a redução de custos, mantendo a qualidade do serviço. Este plano pode passar por uma redução do quadro? Será um movimento significativo? Será feito por via de reformas antecipadas e rescisões amigáveis? Esse é um assunto que vamos ter de desenvolver. Do lado da AdP, obviamente vamos fazer tudo para obter eficiência. Agora, sempre que for tomada uma decisão nesse sentido, será feita com todo o respeito pelos trabalhadores. Há novos desafios para os trabalhadores do grupo AdP e é nesse sentido que estamos a trabalhar. “O grupo tem feito um esforço grande para ser eficiente. Como tudo na vida, há sempre a possibilidade de conseguir mais. Alterando a dimensão das empresas, há espaço para ganhos maiores.” Haverá um modelo ideal para gerir a água? Esta semana, Lisboa tem sido o epicentro do debate internacional sobre o recurso hídrico, com a realização do Congresso Mundial da Agua. O evento, que termina esta sexta-feira, levantou múltiplas questões neste domínio. Entre elas, a dos modelos de gestão. Haverá uma forma ideal para gerir a distribuição de água? Quanto maior a escala de um sistema, melhor? Aziza Akhmouch, analista da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), garante que “não há uma escala óptima da gestão de água”. “Há diferentes modelos de país para país e até dentro de um mesmo país. Não há um modelo óptimo, mas sim um leque amplo de situações”, notou a especialista da OCDE num dos debates do Congresso Mundial da Agua, onde também esteve o presidente da Aguas de Portugal. Afonso Lobato de Faria defendeu que a reestruturação em curso no grupo será benéfica, dadas as economias de escala. Uma das medidas previstas é a fusão dos 19 sistemas regionais hoje exist