Diário de Notícias ENTREVISTA: JORGE MOREIRA DA SILVA Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia Acaba de realizar uma missão aos EUA. Com que objetivos? Havia um objetivo político de aprofundar o diálogo entre Portugal e os EUA, e nomeadamente a Califórnia, que é a sétima maior economia do mundo, o de dar visibilidade a Portugal nas energias renováveis e, mais importante, atrair investimento para as empresas e para o País. E porquê agora? A Europa está a tomar decisões e vai aprovar, em breve, um quadro clima-energia para 2030. Paralelamente, estamos a sofrer os efeitos da crise na Ucrânia e no abastecimento de gás natural e, já está a ser discutida a construção de novas interligações. E os EUA têm intenções de tomar decisões no plano da energia. Que decisões vão tomar os EUA? Obama tomou uma primeira grande medida para reduzir 30% das emissões em 600 centrais elétricas até 2030. E existe a possibilidade de os EUA exportarem gás natural. Se a Europa está a tomar decisões sobre interligações e os EUA falam em exportar, é o momento de nos posicionarmos. Qual é a ideia? Portugal, e Espanha também, podem ser uma verdadeira ponte para o gás na Europa. A Europa tem apenas 12 terminais de Gás Natural Liquefeito (GNL) e sete estão na Península Ibérica, seis em Espanha e um em Portugal, no porto de Sines, que tem capacidade para receber 7% de todo o gás importado da Rússia. Com as ligações previstas entre Portugal e a Espanha e entre a Espanha e a França, a Península Ibérica pode substituir 9% das importações de gás da Rússia. E se se fizerem as outras ligações, que já foram discutidas entre Espanha e França, podemos chegar aos 40%. E não há o risco de beneficiar mais a Espanha? Não, porque na última cimeira, Portugal e a Espanha acordaram aprofundar o mercado ibérico do gás e articulá-lo como já acontece na eletricidade. Qual foi o feedback desta proposta nos EUA? Reuni-me com o ministro da Energia dos EUA, Ernest Moniz, e a reação foi muito positiva, tal como a das empresas e associações do sector. Há um manifesto interesse das empresas norte-americanas em exportar gás para a Europa através de Portugal e por isso é que, do ponto de vista do gás, esta missão foi coroada de êxito. Houve outros temas em debate, como as energias renováveis… Todas as renováveis vão ter um grande salto nos EUA e foi por isso que quisemos dar visibilidade aos nossos casos de sucesso. Porquê visitar a Califórnia? O terceiro pilar desta missão estava relacionado com a atração de investimento para empresas portuguesas e foi nesse âmbito que reunimos com o governador da Califórnia, Jerry Brown. No âmbito da atração de investimento, que decisões concretas foram tomadas? A Universidade de Berkeley está muito interessada em trabalhar com centros de competência e empresas portuguesas e pedirei ao Laboratório Nacional de Engenharia e Geologia (LNEG) que articule com o Laboratório de Engenharia da Universidade um protocolo de colaboração na área da economia verde. Mas só na área científica? Não. A Universidade deverá servir de hubentre empresas portuguesas e californianas. Qual foi o feedback que recebeu das empresas? As 17 empresas e entidades portuguesas desta missão saíram dos EUA com três certezas. A primeira de que haverá procura para os seus produtos. A segunda, de que há grandes oportunidades para projetos apoiados pelo Banco Mundial nas águas, resíduos e abastecimento de energia em África e América Latina Terceiro, os EUA querem investir na Europa na área verde.