Jornal de Negócios
A presidente do regulador do setor da água e resíduos, Vera Eiró, defende que a dessalinizadora vai “libertar mais água para outros fins, nomeadamente para a agricultura”, pelo que o investimento no projeto e os custos de produção deviam ser partilhados por todos os utilizadores e não apenas pelos consumidores urbanos.
A presidente da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR), Vera Eiró, defende que os custos para produzir água dessalinizada no Algarve não devem ser suportados apenas do lado do consumo urbano – famílias, empresas, comércio e serviços -, mas também pelos agricultores e regantes da região, por exemplo.
“O volume de água dessalinizada produzido e entregue na rede irá libertar mais água para outros fins, nomeadamente para a agricultura. A desalinizadora é um mecanismo de resiliência para todos”, explica, defendendo que “o financiamento e os custos de operação do projeto deveriam ser repartidos por todos os utilizadores de água no Algarve, que, na verdade, irão beneficiar deste seguro”. E não estarem “apenas refletidos nas tarifas do consumidor urbano”, diz a responsável.
Questionada sobre se o fabrico de água potável a partir da água retirada do mar deveria ser pago também por outros setores, como o da agricultura, a presidente do regulador responde afirmativamente. “Sim, deveria haver uma partilha de custos por todos os utilizadores e não apenas pelos consumidores urbanos.
É certo que ao nível do investimento inicial [108 milhões de euros], parte dele vai ter financiamento público do Programa Ação Climática e Sustentabilidade (Sustentável 2030), que não recairá apenas nos consumidores servidos pela Águas do Algarve. O que nós defendemos é que tanto o financiamento remanescente, como os custos operacionais, devem ser repartidos por todos os utilizadores para que as tarifas não aumentem significativamente no Algarve”, disse Vera Eiró.
Quanto ao custo de produção, por metro cúbico, de água dessalinizada, a presidente do regulador não avança um número, mas garante que “é mais elevado do que tem neste momento a Águas do Algarve” . “No entanto, toda a água tem custos associados, porque é preciso captá-la, tratá-la e distribuí-la, o que implica também consumo de energia”, refere, garantindo que a água dessalinizada não só é potável, como irá “ser entregue na rede pública para ser bebida”, com a sua qualidade a ser monitorizada pela ERSAR. Isto é o que já acontece na ilha de Porto Santo, morada da desalinizadora mais antiga da Europa.
Em termos de perdas de água, Vera Eiró diz que a situação era particularmente dramática no Algarve, algo que foi “diagnosticado” e está a ser resolvido. “Só para terem uma ideia, o volume de perdas reais medidas no Algarve é equivalente ao volume de água que vai ser produzido pela futura dessalinizadora. Houve trabalho já feito na região, para travar isto, que ainda não está medido e validado pelo RASARP, por é muito recente”, explicou Vera Eiró.
Por ano, a dessalinizadora irá produzir 16 mil milhões de água potável por ano, o que corresponde a 20% do consumo urbano atual do Algarve e equivale a 6.400 piscinas olímpicas. Numa segunda fase, este valor pode chegar a 24 mil milhões de litros de água. O consórcio luso-português responsável pelo projeto (Aquapor e GS Inima) garante que “até à data não há nenhum atraso”. É esperado que as obras tenham início ainda em 2025, com um prazo de execução de 21 meses.