Jornal de Notícias
Secretário de Estado considera “absolutamente inacreditável” que haja municípios com elevado desperdício, que chega a atingir os 80%.
O secretário de Estado do Ambiente, Emídio Sousa, defendeu ontem que a discussão em torno do setor da água, que o Governo pretende “revisitar”, deve focar-se nas perdas e não tanto no preço, como tem acontecido. Defendeu que as situações de maiores perdas de água, que por vezes atingem “80%” em alguns municípios, devem ser “denunciadas”, até porque quanto menores estas forem mais baixo será o preço. “Muitas vezes estamos demasiado focados no preço, que é importante obviamente, e devíamos focar-nos mais na eficiência e denunciar claramente aqueles que têm perdas de 30%, 40%, 50% e alguns 80%. Isto é uma coisa absolutamente inacreditável”, referiu Emídio Sousa, na sessão de abertura do colóquio “A Economia do Setor da Água – Realidade e Planeamento”, que decorreu em Viana do Castelo.
O governante afirmou também que o setor da água enfrenta “grandes desafios” e, por isso, foi colocado na agenda europeia pela sua “importância estratégica” e constitui uma prioridade para o atual Governo. “Ao fim de 20, 30 anos, as coisas envelhecem e precisamos de uma modernização. É isso que nós também esperamos do setor da água, sendo certo que o Governo está empenhado na sua otimização e disponível para dialogar com todos os ‘players’”, disse. Emídio Sousa indicou como uma das “linhas orientadoras” da tutela que a gestão da água em alta se centre na Águas de Portugal e a gestão em baixa nos municípios.
Sobre o preço da água, considerou que “pouca gente se queixa de uma fatura de telecomunicações que anda ali nos 80, 90 euros, por mês”, mas todos “se queixam de uma fatura de 20, 30 ou 40 euros da água, que é absolutamente fundamental”. Também sobre o tema, João Simão Pires, da Comissão Especializada de Legislação e Economia, da Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA), afirmou que o preço da água continuará a aumentar “acima da inflação”.
Mostrar mais os dentes
O responsável referiu mesmo que a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) deve “mostrar mais os dentes.”. João Simão Pires sustentou que “a ERSAR tem de mostrar os dentes, por exemplo, quando há municípios que nem sequer reportam dados, quando são deficitários na prestação do serviço e têm tarifas artificialmente baixas”. “Uma coisa é dizerem que não conseguem ter tarifas duas vezes superiores aos outros, agora manter uma tarifa abaixo de todos os colegas a nível nacional, também não é razoável”, frisou.
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Transvases são matéria “muito delicada”
O secretário de Estado do Ambiente, Emídio Sousa, considerou que os transvases entre bacias hidrográficas são “uma matéria muito delicada”, que deve ser encarada com prudência, e que, para serem tomadas decisões, há que aguardar pelas conclusões de um estudo que está a ser levado a cabo pelo grupo de trabalho, que envolve especialistas, designado pelo Governo. “Tem-se falado muito de levar água do Norte para o Sul e eu julgo que isso é uma matéria muito delicada, porque primeiro estamos a falar de investimentos que ninguém sabe exatamente de que números estamos a falar. E, às vezes, falamos destas coisas com alguma ligeireza e sem a profundidade que um assunto desta dimensão merece”, referiu. Acrescentou, a propósito, que a ideia de transportar água do rio Douro até ao Algarve lhe parece “pouco prudente e excessiva”.