Liderança no Feminino
Diz gostar de sentir que tudo está equilibrado à sua volta, seja qual for o ramo da sua vida. No campo pessoal, o casamento já vai longo, e os dois filhos adolescentes são o fruto dessa união duradoura. Mas a nível profissional não fica nada atrás. Aqui o matrimónio é outro: as bodas de prata já foram celebradas há muito, pois há mais de 25 anos que trabalha na área do ambiente.
É difícil precisar quando surgiu o bichinho pela área das ciências e do ambiente, mas Rita Magalhães acredita que talvez tenha sido um pouco impulsionado pelo facto de a mãe ser bióloga. O certo é que cresceu fascinada por esse mundo, almejando um dia poder fazer parte dele. E foi esse propósito que a levou a dar as próximas passadas, em direção à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, onde se licenciou em Engenharia do Ambiente, na vertente de Sanitária. Findado o seu percurso académico, Rita Magalhães adentrou no mercado de trabalho, dando finalmente vida a um sonho que sempre habitou dentro de si.
Durante mais de 14 anos, desenvolveu atividade profissional, numa empresa de consultoria de engenharia e ambiente, onde desempenhava funções de Chefe de Projeto. Enquanto exerceu funções neste cargo, Rita efetuou a gestão de projetos ambientais em todas as componentes técnicas, financeiras e de faturação; relação com clientes e outras entidades; coordenação de equipas multidisciplinares; bem como elaboração de diversas propostas técnicas nas variadas temáticas ambientais. Rita Magalhães dedicou-se com alma e coração, tendo trabalhado bastante em estudos ambientais, incluindo “estudos de impacte ambiental, gestão ambiental, fiscalização e acompanhamento ambiental de obras, monitorização ambiental, gestão dos resíduos, estudos relativos à qualidade e usos da água, bem como a infraestruturas industriais rodoviárias, ferroviárias e aeroportuárias, aproveitamentos hidráulicos e sistemas de saneamento”, quer em Portugal, quer internacionalmente.
Em 2013, Rita assumiu um novo desafio: a Associação das Empresas Portuguesas para o Sector do Ambiente (AEPSA), com o intuito de exercer o cargo de Gestora de Projeto. Aqui, de modo geral, as suas tarefas passam por gestão e diagnóstico de estudos e projetos (genéricos ou de especialidade), no âmbito das áreas de intervenção da AEPSA. Atua em diversos temas do sector do ambiente e promove várias reuniões e grupos de trabalho sobre os diversos temas do ambiente do interesse da AEPSA e dos seus associados, nomeadamente acompanhamento da legislação nacional e comunitária, participação em consultas públicas, relacionamento com as diversas entidades nacionais e internacionais.
É uma atividade baseada numa eficaz relação com os associados, que obriga a uma postura dinâmica, para “equilibrar a rigidez regulamentar com as necessidades constantes e exigentes de um mercado empresarial de concorrência global”. Rita assegura ainda a componente administrativa da associação e dinamização de informação. O balanço que faz ao fim de 11 anos de casa é deveras positivo. “É um cargo muito interessante que me permite desenvolver atividades muito diversificadas”, afirma convicta. “Acabamos por estar envolvidos em muitos temas diferentes ao mesmo tempo, o que é sempre um desafio interessante”, completa.
O medo nunca foi impeditivo de nada. Rita Magalhães afirma que sempre gostou de desafios, e considera que talvez os maiores tenham sido os projetos que teve de “criar de origem, muitas vezes com processos concebidos de raiz”, numa época em que “o trabalho neste setor não é o que é hoje, nomeadamente em termos de due diligence, atendendo sempre a exigentes especificidades de legislação nacional e internacional”. Outro aspeto que confessa que também sempre a cativou foi trabalhar com equipas “multidisciplinares, nacionais e internacionais, em áreas diversas do ambiente e em projetos diferentes, onde muitas vezes se trilhavam novas formas e métodos de trabalho”.
Sendo profissional num setor tipicamente dominado pelos homens, principalmente no que toca a cargos de liderança, Rita deixa claro que nunca sentiu nenhuma diferença por ser mulher. “Inclusivamente, trabalhei durante muitos anos em ambiente de obra, em acompanhamento e fiscalização ambiental, onde por vezes poderia ser tipicamente mais difícil, mas a verdade é que sempre senti respeito e igualdade de tratamento entre os colegas”, refere. Acrescenta ainda que “a área do ambiente sempre foi bastante bem distribuída em termos de género”, existindo “muitas referências femininas com cargos de liderança, quer a nível empresarial, quer de associações ou organizações, quer mesmo ao nível de áreas governativas”.
No ano em que a AEPSA sopra 30 velas, Rita Magalhães rebobina a cassete e faz uma retrospectiva, lembrando as conquistas que marcam esta jornada, sem descurar os planos que ainda estão por concretizar. “Ao longo destes 30 anos, a AEPSA tem pugnado sempre pela defesa do setor do ambiente, nas suas diversas áreas, mas particularmente em termos de água, saneamento e resíduos”.
Rita não deixa de lado a defesa pelos “interesses coletivos dos seus associados” e sublinha que a AEPSA se constitui “como um interveniente essencial e dinamizador do desenvolvimento do setor do ambiente, um papel que tem desempenhado sempre ao longo do tempo com muito empenho e afinco”.
Num mundo que atravessa atualmente grandes obstáculos, a maior parte deles decorrente das alterações climáticas, Rita Magalhães crê que “o setor do ambiente torna-se central para ultrapassar os desafios da descarbonização e da sustentabilidade, estimulando mudanças de paradigmas, como a transição energética e a digitalização”. A Project Manager salienta também que a AEPSA “entende que para se atingirem estes novos desafios na área do ambiente é imprescindível um maior envolvimento do setor privado, alavancado na inovação e na sua capacidade de boa gestão e de financiamento”.
30 anos não são três dias, e ainda assim, nunca foi eleita uma mulher para presidente na direção da AEPSA. Da perspectiva de Rita, “é mesmo por acaso” e deve-se ao facto “de nenhuma ainda ter demonstrado interesse nesse objetivo específico”. Tendo em conta que a AEPSA já teve mulheres na sua direção – e conta atualmente com uma representante feminina na direção novamente – a Project Manager acredita mesmo ser uma “casualidade”. Faz ainda questão de reforçar que as mulheres estão presentes em peso na associação, a vários níveis.
Para Rita Magalhães, que sublinha que nunca sentiu “discriminação nenhuma ao longo da vida profissional”, existe “igualdade de género no sentido do tratamento e da paridade das oportunidades e acessos”. Na sua opinião, “a pessoa é adequada para o cargo, quer seja mulher, quer seja homem” e consolida a ideia enfatizando que “não faz absolutamente sentido nenhum incluirmos homens só por serem homens e mulheres também apenas para numerus clausus.” Revendo-se como adepta do sistema de base por meritocracia, Rita atribui a maior relevância às qualificações, competências e desempenho, frisando que “estes critérios devem ser independentes do género”. Ilustra ainda com um exemplo: “se abre um concurso para uma vaga e concorrem homens e mulheres, para mim faz sentido que as habilitações, competências e perfil do candidato estejam acima do género. O setor do ambiente até é, no geral, um setor onde se verifica uma preponderância feminina em cargos de liderança, quer em entidades públicas, quer em entidades privadas, em associações empresariais, ambientais e até mesmo em termos de regulação e de áreas governativas”.
Aos seus olhos, “uma líder perfeita deve ter o reconhecimento e respeito de e pela sua equipa, para que, de forma natural, consiga exercer a sua influência positiva na gestão de objetivos comuns”. Rita Magalhães destaca também outros pontos, como a capacidade de comunicação, gestão de conflitos e o conhecimento técnico.