Dinheiro Vivo
Abraçar a transição energética é um bom negócio para Portugal, garante Bruno Esgalhado. O partner da McKinsey & Company vê potencial de crescimento económico, mas alerta que para o país conseguir colher os frutos da descarbonização deve tirar partido das vantagens que reúne na produção de hidrogénio vende.
Faltam 27 anos até á data mágica de 2050, altura em que grande parte das empresas e dos países deverá atingir a neutralidade carbónica. Neste campo, Portugal foi ambicioso e antecipou a meta para 2045, mas será necessário muito trabalho para que o país consiga aproveitar o potencial económico do “imperativo da sustentabilidade”. “Descarbonizando proativamente as indústrias atuais, Portugal pode duplicar a atração de capital até cerca de 20 mil milhões de euros por ano”, assegura o líder de sustentabilidade da McKinsey & Company para a Península Ibérica, no âmbito das Conferências do Estoril Bruno Esgalhado não poupa nas previsões e acrescenta ainda a possibilidade de o pois gerar “300 mil empregos” e fazer crescer o produto interno bruto (PIB) entre 10% a 20%. A captação de investimento será crucial para aumentar em 20% a velocidade de descarbonização da economia nacional, valor que a consultora considera importante para que seja possível cumprir o desígnio da neutralidade carbónica. A questão que se coloca, porém, é como é que o pais pode lá chegar. “Portugal pode transformar-se num dos principais hubs de hidrogénio verde na Europa”, sublinha o responsável O hidrogénio faz parte da estratégia portuguesa para a transição energética e reúne, aliás, 185 milhões de euros em financiamento proveniente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Sendo Portugal apontado a nível internacional como um dos futuros líderes na produção e distribuição desta energia, Bruno Esgalhado destaca “opo-tendal solar e a infraestrutura de exportações” como dois fatores que podem garantir a competitividade no mercado internacional. O país pode “atingir a viabilidade económica destas novas tecnologias cinco a sete anos antes dos seus parceiros na Europa Ocidental”, refere o analista. Em maio, a comissária europeia com a pasta da Energia, Kadri Simson, esteve na Assembleia da República, onde deixou claro quais as expectativas da Comissão Europeia (CE) em relação ao papel que Portugal pode ter na produção de hidrogénio verde. “Contamos com Portugal e com os produtores portugueses de hidrogénio para que uma fatia significativa deste hidrogénio, nesta década, possa ser produzida aqui”, afirmou. Numa corrida contra o tempo porá garantir a sua independência energética, a CE tem vindo a redobrar o financiamento para o desenvolvimento e expansão das energias verdes, algo que devera continuar a acontecer nos próximos anos. É preciso continuar acrescer “A corrida já começou. Estou a falar da corrida para ver quais são os países e as empresas que conseguem aproveitar as imensas oportunidades criadas pelo imperativo da sustentabilidade”. Foi assim que arrancou a intervenção de Harry Bowcott, sénior partner na McKinsey & Company, na última edição das Conferências do Estoril, onde esteve para dizer que” precisamos de fazer mais” para explorar o potencial económico da neutralidade carbónica. O primeiro desafio, acredita, é conseguir acelerar a maturidade das “tecnologias do clima”, como a energia eólia e solar, que, embora tenham avançado consideravelmente na última década, “precisam de crescer seis vezes mais”. A consultora estima que para atingir o marco das zero emissões líquidas em 2050 será essencial que a energia eólica cresça seis vezes mais, enquanto a energia solar precisa de multiplicar o seu desenvolvimento por 14, por 200 vezes no hidrogénio e a captação de carbono deve aumentar em 100 vezes. “Isto deve ser visto como uma oportunidade”, insiste Harry Bowcott. O especialista destaca onze áreas em que o potencial de crescimento em valor, á boleia da descarbonização, pode gerar até 12 biliões de dólares em receitas anuais até 2030. Entre elas, destaque para a agricultura, gestão da água, energia, transportes ou gestão de resíduos. Bowcott fala ainda na realocação de apitai motivada pelo necessário investimento em infraestruturas, que poderá vir a beneficiar de um crescimento de 60% em comparação com os níveis atuais. Velocidade parece ser a palavra–chave desta transição. “Há muito que podemos aprender com revoluções anteriores, como a das fintech ou das tecnológicas”, assegura. E uma das principais aprendizagens é a agilidade e a capacidade de desenvolvimento rápido. “Estamos a falar de mudar substancialmente a forma de fazer negócios”, acrescenta. A escala do investimento esperado pela McKinsey “permitiria criar 300 deca corns”, ou seja, empresas avaliadas em pelo menos 10 mil milhões de euros. “A vossa empresa pode ser uma destas”, desafia Bowcott. Em entrevista ao Dinheiro Vivo à margem das Conferências do Estoril (ver entrevista ao lado), o analista aponta alguns dos ingredientes que considera essenciais para o sucesso das empresas e dos países, incluindo Portugal, nesta jornada rumo á neutralidade carbónica.