Diário de Notícias
Das 90 mil toneladas que a indústria de extrusão consome ao ano, um terço é de alumínio reciclado. O objetivo é chegar aos 50% até 2050.
O plano estratégico da Associação Europeia do Alumínio para 2050 prevê que o aumento da reciclagem deste material pode gerar cerca de seis mil milhões de euros de ganhos para a economia europeia, além de evitar até 39 milhões de toneladas de emissões de CO2 ao ano. Portugal quer ter uma palavra a dizer neste domínio e o presidente da Associação Portuguesa do Alumínio (Apal) estima que este mercado possa crescer qualquer coisa como 200 milhões de euros. Para isso, diz, é preciso aumentar o mercado da recolha de sucata, de modo a que a indústria atinja um consumo de 50% de alumínio reciclado. Mas é preciso que o consumo de alumínio cresça também. A questão é que, na hora de escolher os materiais para a construção, o alumínio nem sempre é tido em conta porque não é percebido como um elemento sustentável. Ou, sendo-o, pensa-se que o alumínio reciclado que existe no mercado é importado. Quando, na verdade, garante Rui Abreu, Portugal tem já todo o ciclo do alumínio 100% reciclado implementado no país e, por isso, “a indústria quer ser chamada na hora de se decidir alguma coisa sobre a sustentabilidade dos edifícios”. Um setor que dá emprego a 4000 trabalhadores A Apal abrange 90% das empresas de extrusão (que produz, por exemplo, perfis de alumínio para janelas ou outros fins), num total de 53 empresas, que dão emprego a cerca de 4000 trabalhadores. Geram um volume de negócios anual que ronda os 500 milhões de euros e contribuem, direta e indiretamente, com 1% do Produto Interno Bruto nacional. Quanto ao consumo, Rui Abreu revela que a indústria de extrusão consome cerca de 90 mil toneladas ao ano de alumínio, das quais cerca de 30% são de alumínio reciclado. O objetivo é chegar aos 50% até 2050. “Não há qualquer limite para a reciclagem, o alumínio pode ser reciclado infinitamente e para o mesmo fim. Ao contrário da madeira usada numa janela, que, no fim de vida, pode ser reciclada, mas não voltará a ser uma janela, o alumínio pode ser reintroduzido no processo de fabrico e voltar a ser uma janela”, garante. Mais importante ainda são as poupanças a nível de pegada de carbono. É que, por cada quilo de alumínio produzido na Europa – na Islândia ou na Noruega, com recurso a energias renováveis – são emitidos 6,7 quilos de CO2 na atmosfera, contra os 20 quilos de emissões que a mesma produção na China origina, já que é feita com recurso a carvão. Vantagens consideráveis em termos de emissões Na produção com recurso à reciclagem, diz Rui Abreu, as emissões são de meio quilo por cada quilograma de alumínio produzido. Um valor que poderá ainda vir a ser reduzido quando a indústria puder substituir o gás natural que atualmente utiliza para a fusão do alumínio por hidrogénio verde. “Os testes já estão a ser feitos, em Espanha, por exemplo, para que, quando for possível utilizar o hidrogénio verde de forma industrial, já estejamos preparados para isso e possamos reduzir a zero a pegada de carbono do alumínio reciclado”, acrescenta o responsável. E há cada vez mais alumínio na sucata para reciclar, não apenas porque o negócio das sucateiras está cada vez mais orientado para a separação dos metais e a sua valorização numa economia circular, como a própria economia mundial recorre cada vez mais a este material, e não apenas na construção. A mobilidade elétrica ajuda a este desenvolvimento. Novas utilizações em perspetiva “Os veículos elétricos usam consideravelmente mais alumínio do que antes, porque é um material que os torna mais leves, permitindo que, com baterias menores, se percorram distâncias maiores. É uma indústria que vai gerar grandes volumes de alumínio para reciclar”, acredita. Portugal conta com quatro fundições de alumínio para utilizar na extrusão, três a norte e uma na região de Lisboa, que contam com uma capacidade produtiva instalada de 50 mil toneladas por ano. 40% do que produzem é destinado à exportação. “Todos os desperdícios do processo produtivo do alumínio são já hoje reintegrados, além do aproveitamento dos desperdícios da construção e de diversas indústrias. A única área mais atrasada em Portugal é o sistema de recolha das latas no segmento alimentar”, frisa o presidente da Apal. “Todos os desperdícios do processo produtivo do alumínio são já hoje reintegrados. (…) A única área mais atrasada em Portugal é o sistema de recolha das latas no segmento alimentar.”