Ambiente Magazine online
O Fórum da Energia e Clima (FEC), que está a acompanhar a CP27, alerta para o incumprimento das das compensações. “Os países vão finalmente comprometer-se com o Phase Out do Carvão e com a transição energética mais rápida? Como serão transferidas as verbas acordadas em 2009 em Copenhaga e que tardam em chegar aos países mais pobres e vulneráveis?”. Estas são as duas questões que o Fórum da Energia e Clima (FEC), observador consultivo da CPLP, quer obter resposta da COP27 (27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas), que decorre em Sharm El Sheikh, no Egito. “Nesta COP há dois elefantes no meio da sala: um é o atraso na transição energética e o outro é a falta de cumprimento do acordado pelos países na COP15 de Copenhaga – a transferência dos 100.000 milhões de dólares anuais para os países mais pobres que são os mais vulneráveis e os que mais sofrem com as alterações climáticas”, reitera Ricardo Campos, presidente do Fórum da Energia e Clima. Para o presidente do FEC há uma “divida histórica, moral e ecológica do hemisfério norte para com o hemisfério sul. Os países mais ricos despejaram na atmosfera nos últimos 100 anos uma quantidade enorme de dióxido de carbono pela queima de carvão, petróleo e gás natural, mas agora são os países mais pobres do hemisfério sul os que mais sofrem. O G20 é responsável por 80% das emissões, enquanto pouco mais de 50 países em África representam apenas 5%”. Além disso, “em África há lugares onde as pessoas já não podem viver, as secas têm como consequência uma enorme escassez de alimentos, originando situações dramáticas como na Somália e em outros países”, atenta. O presidente do FEC considera “não ser aceitável que o dinheiro chegue depois das catástrofes, depois do sofrimento e das vidas se perderem, o Fundo para Losses and Damages (Perdas e Danos) é necessário, mas mais importante é investir antes das catástrofes para que os países possam aumentar a sua resiliência aos eventos extremos, para se adaptarem a um clima que já mudou. Este, a par com a transição energética, será o tema mais importante nesta COP.” Tal como relembra Ricardo Campos, nos últimos 100 anos a concentração de dióxido de carbono na atmosfera passou de 275 partes por milhão, para as 350 partes por milhão em 1990 (o limiar do aceitável), até às quase 420 partes por milhão em 2022: “Não foram os países mais pobres que queimaram todos estes fósseis e que provocaram este dano. Não foram os países arquipelágicos que estão agora ameaçados, como as Maldivas que pode perder até 40% do seu território, que criaram a Crise Climática”. Por isso, “nesta COP é quase certo que os países africanos da CPLP e outros países vulneráveis do mundo irão batalhar novamente pela retirada do termo doação ou financiamento e a introdução do termo ‘compensação’, sempre que se mencione ou quantifiquem investimentos para o cumprimento do Objetivo Global de Adaptação”, sustenta. A CPLP na COP27 Para o Fórum da Energia e Clima, que conta com mais de 2500 membros nos 9 países da CPLP, é importante que esta cimeira seja também um momento de aproximação e do aprofundar de posições conjuntas entre os países que falam português. “O regresso do Brasil, com a presença do recém-eleito Presidente Lula da Silva é um sinal de grande esperança, vamos ter novamente o Brasil que representa 3 a 4% das emissões globais com uma nova agenda que inclui finalmente preocupações com o ambiente”, destaca Ricardo Campos. O FEC defende que a CPLP pode ser um espaço de concertação para acelerar a transição energética nos diferentes países. “Portugal que se quer constituir como exemplo na Europa, com a determinação também de Angola que tem a presidência da CPLP e que ainda este ano inaugurou vários centros electroprodutores fotovoltaicos, a sensibilidade que já existe nos restantes países africanos e Timor Leste, constitui uma aliança da língua portuguesa que representa um bloco de mais de 270 milhões de pessoas que podem fazer a diferença”, lê-se num comunicado, divulgado pelo Fórum. A transição energética irá necessitar de 2400 biliões de dólares de investimento anual, cerca de 2,5% do PIB mundial ao longo dos próximos anos. “Esta é uma oportunidade de desenvolvimento económico e social que a economia verde irá trazer, que devia aproximar as empresas dos países de língua portuguesa para se tornarem um player relevante quer no mercado interno quer no mercado global, em áreas como a energia solar, eólica, na eficiência energética, na mobilidade elétrica, no hidrogénio verde e gases renováveis, nas baterias eletroquímicas, na reciclagem de baterias porque não há qualquer dúvida que o futuro passará por aí”, remata o presidente do FEC.