Ambiente Online
A Conversa Online de hoje abordou ‘O setor da reciclagem em Portugal’, e contou com a presença de Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde (SPV) e de Quitéria Antão, da Associação Portuguesa de Bioenergia, e antiga presidente da APOGER. João Levy, presidente da Ecoserviços e professor no Instituto Superior Técnico, moderou o debate, João Levy começou por recordar o aparecimento da SPV, há mais de duas dezenas de anos, e do “muro de lamentações” que era o setor na altura, onde os municípios se queixavam que as contrapartidas na recolha de resíduos não cobriam os custos desse serviço.. “Não havia qualquer visão da redução dos produtos descarregados em aterro”, lembrou João Levy, “e todos se queixavam de que gastavam muito dinheiro em recolha seletiva e o valor da contrapartida nem pouco mais ou menos pagava o custo”. João Levy enumerou todos as entidades que se mostravam contrariadas na altura, desde os embaladores à SPV, passando pelos centros de triagem. E que hoje ainda muitos desses problemas não estão resolvidos, apontou. Ana Trigo Morais reconheceu que “há um conjunto de problemas que carecem de alguma urgência de serem resolvidos se queremos chegar a algum lado”, porque “as questões basicamente são as mesmas, continua a faltar dinheiro ao sistema, assim como faltam eficiência, eficácia e equilíbrio”. E sublinha que “temos de olhar para o futuro porque as metas e o PERSU 2030 estão aí, havendo uma necessidade de abordar o tema dos modelos de custo das operações para se poder perceber o que cada um tem de financiar, a quem, e como”. A responsável pela SPV afirmou ainda que “temos de redesenhar o sistema pois ele está igual há dez anos. O sistema precisa de inovação, de investimento, de um novo modelo de custeio e responsabilização por parte de todos os atores da cadeia de valor”. Ana Trigo Morais frisou também que é “necessária uma cultura de colaboração, porque o que tem havido até agora no setor dos resíduos é uma cultura de tensão”. Quitéria Antão começou por referir que “durante 25 anos não houve a preocupação suficiente de utilizar o investimento privado para alavancar o atingimento das metas, pois o investimento privado custa muito pouco (ou nada) aos consumidores”. A especialista acredita que é possível atingir as metas recorrendo aos privados, pois “temos muito bons recicladores na área das embalagens, é necessário é mantê-los no mercado e fazer com que eles percecionem que esse mercado lhes oferece oportunidades”. Acrescenta ainda que “as entidades gestoras deveriam investir muito mais em investigação porque ainda há certas matérias que não se sabe como reciclar, como é o caso de fibra ótica. alguns tipos de têxteis ou alguns resíduos hospitalares”. Quitéria Antão defendeu também que as pequenas empresas poderiam fazer pequenas recolhas de resíduos que as câmaras municipais não tenham interesse em fazer, por serem pequenas quantidades. E conclui que “os privados poderão ser um enorme contributo para o atingimento das metas”.