Green Savers
Em 2050 estima-se que metade da energia em Portugal seja produzida pela solar, mas para tal acontecer é necessário criar uma estratégia nacional que inclua a sustentabilidade. Teresa Cotrim O sol assegurou a vida no nosso planeta. Em breve poderá ser uma das principais fontes energéticas não poluentes. Até 2050 metade da energia produzida em Portugal tem de ser solar. Há ainda um longo caminho a percorrer, isto porque, segundo o Boletim Eletricidade Renovável da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), apenas 4% da geração de eletricidade nacional provém da energia solar. Francisco Ferreira, presidente da Zero, Associação Sistema Terrestre Sustentável, acredita que esta será a principal fonte de energia renovável para gerar energia elétrica. “Em 2035, esperamos atingir os 100% de fornecimento de eletricidade através das renováveis. A energia solar será a melhor opção”, concretiza. Portugal é dos países da Europa com melhores condições para o aproveitamento deste recurso. Por cá, o sol brilha cerca de 300 dias por ano. As regiões portuguesas com maior radiação são o Algarve, o Alentejo e a Madeira. Tanta abundância para pouca massificação Para Elsa Agante, Team líder Energia e Sustentabilidade da DecoProteste, isto sucede porque “qualquer tecnologia não massificada no seu estágio inicial necessita de investimento para se desenvolver. Por outro lado, para existir um aumento generalizado da energia solar foi necessária a criação de legislação que regulamentasse uma série de questões, desde a produção à venda da energia excedente à rede elétrica”. Pedro Amaral, presidente da APREN, explica que Portugal passou por contratempos. “Em 2010 foi lançado um leilão para atribuir 150 MVA (energia de baixa tensão) de capacidade de injeção na rede para centrais solares fotovoltaicas convencionais e de concentração, bem como de solar termoelétrico, dando resposta a problemas de indisponibilidade da rede”. Concorreram 17 empresas e o Estado arrecadou, à cabeça, mais de 100 milhões de euros em contrapartidas. Mas, por essa altura, Portugal entrou numa recessão económica fruto da crise financeira de 2008-2009 e das dívidas soberanas de alguns países europeus, sendo obrigado a pedir ajuda externa. Chegou a Troika. E com esta, em 2012, um novo enquadramento legislativo que estabeleceu que a nova potência deveria entrar em regime geral (mercado) ou regime garantido atribuído em concurso. Por isto, todo o setor renovável esteve sete anos sem qualquer concurso para atribuição de capacidade de injeção da rede, permanecendo apenas com o incentivo à pequena produção. Crescer com sustentabilidade Pedro Amaral crê que “agora estão criadas as condições para que esta tecnologia conquiste um grande incremento, sendo a que mais potencial de crescimento tem na próxima década”. O responsável da Zero salienta apenas que tem de haver uma estratégia nacional com critérios de seleção dos melhores locais. “Tudo isto tem de ser feito com centro na sustentabilidade. Não se pode atropelar tudo para que apenas os objetivos sejam atingidos. Com um bom planeamento é possível investir na energia solar, minimizando o impacto no ambiente”, refere. A nível nacional, Pedro Amaral diz que será feita uma aposta no solar flutuante, em complemento e alternativa ao instalado no solo. “O objetivo é procurar áreas não terrestres contínuas significativas com painéis solares, recorrendo à utilização de albufeiras dos aproveitamentos hidroelétricos. Assim evita-se a ocupação de outras áreas em terra, úteis para outras atividades como a agricultura ou pastorícia, e pode aproveitar-se a ligação à rede elétrica já existente, sendo que as centrais hidroelétricas não a utilizam de forma contínua, visto que há mais sol quando há menos chuva e vice-versa.” Aliás, decorrem as candidaturas para um leilão nesta vertente. Mas há muito mais a explorar como, por exemplo, o AgriPV que combina a instalação de painéis fotovoltaicos e a agricultura. Ao invés de se utilizarem coberturas plásticas que têm de ser mudadas todos os anos, pode recorrer-se a esta solução. “A ser usado, este método resolveria um problema muito debatido a nível europeu, relacionado com a ocupação complementar e simultânea de terrenos agrícolas com centrais fotovoltaicas”, informa o presidente da APREN. Há já países europeus, como a Alemanha, a testar este sistema. Pode inovar-se ainda instalando sistemas PV em zonas em que os solos tenham menos valor económico, explorando assim a possibilidade de reabilitar zonas degradadas. Pedro Amaral, porém, adverte: “Será necessária a promoção de sistemas de menor dimensão, ocupando menores áreas de solo, aproveitando assim a sua modularidade e fomentando maior distribuição geográfica junto a grandes áreas de consumo.” A especialista da DecoProsteste aponta ainda o autoconsumo como um fator importante – nomeadamente através das comunidades de energia renovável (CER). Porque se para um particular o investimento pode ser elevado, mesmo com os incentivos existentes como o Programa de Apoio a Edifícios mais Sustentáveis, um grupo de condóminos, por exemplo, pode partilhar o custo de instalar os painéis solares, baixando desta forma o investimento a nível pessoal, mas também conseguindo melhor otimização a nível da utilização com redução de excedente. “Além disso, se houver esta partilha vai dinamizar mercados de eletricidade a menor escala”, acrescenta Agante. Uma alternativa é fazer contrato com um dos operadores do mercado (a EDI? por exemplo, tem o Bairro Solar; e a Cleanwatts tem uma plataforma onde as pessoas podem juntar-se e solicitar uma instalação) em que estes assumem o investimento de aplicação. Desta forma o consumidor dispõe do benefício de ter uma eletricidade mais barata e o operador assegura a produção. Mas a energia solar tem algumas batalhas pela frente. “Os principais desafios passam pela gestão de continuidade e qualidade do abastecimento. Retirar pressão da rede e robustecer a sua resposta quanto à emergência de novos vetores, como o autoconsumo ou o armazenamento de energia, são desafios atuais, a que se junta a digitalização”, conclui.