Automotive
A entidade GVB – Gestão e Valorização de Baterias, promoveu um importante encontro para debater a reciclagem das baterias de lítio e as suas implicações.
Intitulado “trocar chumbo por lítio – a outra face da bateria”, o evento teve como intuito analisar, expor e debater as diferentes consequências que a crescente utilização de baterias de lítio (principalmente nos automóveis elétricos), irá ter na economia dos resíduos.
Rui Cabral, diretor geral da GVB, abriu a sessão com o balanço da atividade da GVB no biénio de 2020/2021, relativo à recolha e encaminhamento de baterias de chumbo para reciclagem em Portugal. A exemplo da entrevista que concedeu à Revista Automotive em julho deste ano, todos os indicadores mostraram que a quantidade de recolha de baterias em fim de vida em 2020 em Portugal, ficou ligeiramente acima do que se registou ao longo de 2019, num ano sem pandemia.
Seguidamente apresentou Graça Martinho (UNL-FCT), onde a sua responsabilidade neste domínio da gestão de resíduos, resultou numa apresentação provavelmente vocacionada para determinadas entidades e pouco percetível para o público profissional do setor automóvel presente.
Transportes
João Cezília, diretor geral da empresa Tutorial e vice-presidente da CNTMP (Comissão Nacional do Transporte de Mercadorias Perigosas), apresentou as especificidades do transporte de baterias de lítio por rodovia, no âmbito das mercadorias perigosas e transporte ADR. De forma resumida, este transporte vai ser diferenciado por peso e capacidade (watts) das baterias, requerendo a utilização de embalagens específicas, diante de uma maior perigosidade das baterias de lítio face às baterias de chumbo.
Outro dos exemplos é a isenção de ADR no transporte rodoviário até 1 tonelada de baterias de chumbo usadas, sendo que para as baterias de lítio essa isenção baixa para os 333kg, tendo em conta o maior risco associado ao transporte das mesmas. Esses e outros exemplos foram abordados com clareza e conhecimento, baseados na legislação vigente e na qual está a ser preparada para albergar a nova realidade das baterias de lítio.
As apresentações foram finalizadas por Filipe Mateus da Exide Technologies, que fez uma abordagem realista ao mercado do lítio, bem como às utopias criadas à volta dos automóveis elétricos. A “segunda vida” que se quer dar às baterias de lítio, nada mais é do que um adiar do problema, porque ao contrário das baterias de chumbo que são recicladas em 99%, as baterias de lítio são apenas em 5%. Outro exemplo é que as escassas recicladoras existentes de baterias de lítio, não estão certificadas.
Filipe Mateus expôs também a origem do cobalto (componente importante das baterias de lítio), onde o Congo é responsável por 70% da extração mundial, recorrendo a trabalho infantil e escravo. A discussão sobre complexidade gestão da exploração do lítio em Portugal e da sua posterior reciclagem, foram o ponto alto do evento da GVB, onde Rui Cabral afirmou que “em Portugal ainda não há soluções para a reciclagem do lítio”.