Green Savers
Os resíduos que produzimos em casa ou no trabalho podem ter uma utilidade para além daquela que imaginamos. A valorização dos biorresíduos traz vários benefícios ao país, que vão desde o impulso da economia, à melhoria da qualidade dos solos e da qualidade do ar.
Num futuro em que o foco se centra na neutralidade carbónica, importa tomar medidas em todos os setores, de maneira a que haja uma transição rumo à sustentabilidade e à eficiência. A gestão dos resíduos passa assim por ser uma das áreas abrangidas, onde a prevenção da produção de resíduos e o seu devido tratamento e a reciclagem, são caminhos aos quais não podemos fugir. De acordo com os dados apresentados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), em 2020 foram produzidas 5,014 milhões de toneladas de resíduos urbanos em Portugal Continental, dos quais 36,90% correspondiam aos biorresíduos. Embora a produção, no geral, tenha sido inferior ao ano de 2019, grande parte dos resíduos, no geral, foi parar a aterro (41%). Os biorresíduos são resíduos biodegradáveis que, como define a legislação em vigor, resultam tanto do consumo alimentar, proveniente das casas, dos restaurantes, dos estabelecimentos e da própria indústria de transformação dos alimentos, mas também da limpeza dos espaços naturais, os ditos resíduos verdes. Sendo um material integrante da sociedade, e sendo impossível não os produzirmos – pelo menos de todo, a sua quantidade pode e deve ser reduzida – devemos por isso adotar práticas que garantam que estes são aproveitados, ou através da compostagem doméstica ou comunitária, ou da correta deposição no contentor do lixo. Cabe também, às entidades gestoras de resíduos promover e sensibilizar para a reciclagem, mas ainda de garantir que estes resíduos são corretamente encaminhados, e não acabam nos aterros, terminando o seu ciclo de vida. Como explica a APA à Green Savers, “Os biorresíduos constituem uma parte importante dos resíduos urbanos, quase 36%, pelo que uma gestão inadequada deste fluxo de resíduos poderá ter consequências significativas. A reciclagem destes resíduos, e concretamente o seu desvio de aterro, contribui diretamente para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, associadas ao setor dos resíduos, contribuindo também para a redução de odores e lixiviados que constituem um problema atual na gestão de aterros de resíduos”. Os biorresíduos não precisam de ser vistos como lixo, quando têm um grande potencial mesmo após a sua utilização nas nossas casas. “Da reciclagem destes resíduos resultam materiais fertilizantes cujos nutrientes podem ser aproveitados em solos agrícolas, substituído outros fertilizantes inorgânicos e contribuindo por isso também para uma redução das emissões associadas à sua produção e transporte. Em tratamentos por digestão anaeróbia há ainda a valorização do biogás de uma forma muito mais eficiente que no aterro, com ganhos ambientais e económicos significativos”, acrescenta a APA. Quando está a aproveitar a utilidade que estes resíduos têm numa “segunda vida”, está a poupar o planeta, mas também na sua carteira. Em paralelo, quando contribui para a correta reciclagem dos resíduos que produz em casa, está a garantir que não existe uma contaminação posterior de outros resíduos como as embalagens, que podem também ser recicladas e ganhar uma nova função. “Por último destacar que, pese embora a importância de reciclar, a melhor estratégia será sempre a aposta na prevenção de resíduos e neste caso a redução do desperdício alimentar, que a acrescer a todos os benefícios sociais e económicos terá em termos ambientais a vantagem acrescida de poupar recursos, nomeadamente solo, água e energia utilizados na produção do produto (ao longo de todo o seu ciclo de vida)”, esclarece a Autoridade Nacional de Resíduos. No sentido de garantir que cumpre com o seu papel enquanto membro da União Europeia, Portugal terá de investir na transição deste setor, garantido que as regiões implementam de modelos de recolha seletiva e reciclagem na origem, e que as instalações das entidades se adaptam à nova realidade. “Portugal baseou a sua estratégia nacional no tratamento dos biorresíduos recuperados a partir da recolha indiferenciada de resíduos (os resíduos eram recolhidos de forma indiferenciada, separados em unidades de tratamento mecânico e a fração orgânica encaminhada para unidades de tratamento biológico por compostagem ou digestão anaeróbia) estando grande parte do país servido por este tipo de tratamentos. No entanto, a alteração da Diretiva-Quadro Resíduos obriga a que os biorresíduos sejam recolhidos seletivamente (ou tratados na origem) a partir de janeiro de 2024, e Portugal terá, assim, de alterar o seu paradigma”, indica a APA. A nível nacional, o país já se começa a preparar para esta mudança. Cada vez há uma maior sensibilização para a correta deposição dos resíduos e a aderência dos portugueses começa a ser notória. Os dados mais recentes do Radar da Reciclagem da Sociedade Ponto Verde retratam bem essa evolução, revelando que 9 em cada 10 portugueses reciclam, e que este hábito se tem enraizado nas suas casas. Também a compostagem começa a ser uma realidade, e cada vez mais entidades promovem projetos para incitar os munícipes a aderir à nova tendência. Nascem também novas marcas e empresas nacionais, que apoiam e esclarecem os que querem ingressar neste novo estilo de vida. O futuro verde onde as novas gerações prosperam e o meio natural vive em harmonia com a espécie humana, só depende de nós. As ideias devem passar à prática, e os conceitos de prosperidade e de transição devem ser vistos como um resultado da união de todas as partes. Para isso a reciclagem é obrigatória, a redução dos resíduos que produzimos é urgente e a valorização dos resíduos é imprescindível. Já reciclou as sobras que tem aí em casa?.