Jornal Económico
As perdas reais de água na rede em Portugal atingem valores preocupantes. Empresas e regulador defendem uma gestão mais eficiente no sector das águas no país. O desperdício atinge os 188 mil milhões de litros de água por ano em Portugal, uma questão que assume uma maior importância perante as alterações climáticas.
Todos os dias são desperdiçados 515 milhões de litros de água em Portugal, num total de 188 mil milhões de litros de água anuais. Esta água perde-se pela rede de abastecimento e revela que ainda há um longo caminho a percorrer para tornar o país mais eficiente na gestão da sua água. Com 30% de perdas na rede nacional, empresas e regulador pedem mais eficiência.
Para a Associação das Empresas Portuguesas para o Sector do Ambiente (AEPSA) existe mesmo uma urgência para atuar. “É necessário e urgente, quer por razões económicas, quer por questões de sustentabilidade ambiental, até tendo em consideração o crescente desafio das alterações climáticas que têm impacto no quotidiano dos portugueses, que sejam implementados os procedimentos concursais necessários para que o país possa atingir um nível global de eficiência hídrica muito mais elevado do que hoje se verifica”, afirma Eduardo Marques da AEPSA.
Já o presidente da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos (APRH) aponta que “um dos maiores desafios que o sector enfrenta na próxima década será o entendimento geral de que uma gestão eficiente nos serviços de água, em todas as suas dimensões, só será possível com a garantia de escala, seja ela, uma escala em recursos humanos técnicos e operacionais, uma escala do sistema a gerir ou a escala de consumidores a servir”.
“Não será possível manter entidades gestoras a gerir redes de distribuição com menos de 25 a 30 mil consumidores, com uma diminuta capacidade técnica e um baixo nível de técnicos superiores e operacionais, e ainda assim querer que essa mesma entidade gestora seja económica e tecnicamente autossuficiente. Neste sentido será essencial a criação de escala através de uma mudança de paradigma no sector, seja através de agregações de várias entidades gestoras, garantindo uma gestão multimunicipal ou intermunicipal, ou através de concessões, sejam elas totalmente públicas, públicas ou privadas ou até totalmente privadas”, diz Carlos Coelho da APRH.
Por sua vez, a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) sublinha que “em primeiro lugar, importa distinguir o indicador das “perdas reais de água”, que não deve ser calculado em percentagem, do indicador “água não faturada” expresso em percentagem (%).Embora algumas entidades gestoras ainda apresentem valores elevados de perdas reais, a ERSAR tem verificado, ao longo dos anos, que muitas entidades gestoras implementam metodologias com vista à deteção e redução das perdas reais nas suas redes, que resultaram na melhoria, mesmo que ligeira, no indicador das perdas reais a nível nacional”.
A presidente do regulador, Vera Eiró, destaca que a “regulação da qualidade de serviço pela ERSAR permite o conhecimento da situação real de perdas por parte das entidades gestoras, o que deve ser o primeiro passo e que nem sempre existe. Além disso, no ciclo de regulação da qualidade da água, a ERSAR monitoriza anualmente a reabilitação de condutas, situação intrinsecamente relacionada com o indicador de perdas. A prática continuada de reabilitação de condutas constitui, para além das medidas de deteção ativa de perdas, uma prática fundamental que, em conjunto, permitirão diminuir os valores de perdas reais de água”. Já Pedro Perdigão, presidente do grupo Indaqua, considera mesmo que a situação é “grave”.
“É certo que as perdas (Água Não Faturada) globais do país rondam, há pelo menos uma década, os 30%, mas se olharmos para os concelhos com piores desempenho podemos verificar que em 70 concelhos portugueses os valores ultrapassam os 50% (mais de metade da água captada não é faturada ao utilizador final). Estes valores de perdas têm de ser drasticamente diminuídos e essa é uma responsabilidade de todas as entidades gestoras. Existem já soluções que permitem a qualquer empresa diminuir a água que desperdiça num curto espaço de tempo e com um investimento seguro. Concretamente, os projetos que eficiência hídrica – em que a Indaqua foi a primeira entidade a ser contratada em Portugal – é estabelecido um modelo de parceria em que a remuneração depende do atingimento dos objetivos traçados para a diminuição de perdas”.