Capital verde
transição digital é um caminho sem retorno e uma gestão de resíduos que se queira fundamental para o funcionamento da economia circular não pode estar à margem desta evolução.
4560 000 000. Este é o número dos resultados da pesquisa, feita em meados de maio, da palavra digital no Google. Googlar tornou-se hoje um ritual diário que ninguém dispensa e a digitalização é também algo que nenhum sector ou cadeia de valor está em condições de adiar. Nos resíduos, a transformação digital está em curso, mas é preciso acelerar o processo e envolver todos os stakeholders do setor, desde as autarquias à comunidade académica, passando pela indústria e as marcas.
35 700 000. Se voltar ao Google e procurar a palavra Holy Grail este é o resultado que aparece. Embora com menos referências que a palavra digital, o Santo Graal é uma referência incontornável na História, desde os tempos dos Celtas até ao filme dos Monty Phyton. Mas o que pouca gente deve saber é que esse é o nome de um projeto revolucionário no ecossistema dos resíduos: o HolyGrail 2.0. Dos resíduos e não só, começa também logo pela transformação nos bens de grande consumo.
Trata-se de um projeto da AIM (European Brands Association) que propõe a criação de um sistema de “marcas de água” digitais e que funciona como uma espécie de passaporte digital para a reciclagem. Este passaporte pode conter indicações sobre as características dos produtos, das embalagens, dos materiais utilizados e a sua reciclabilidade.
Pode ainda contribuir para a sua monitorização quanto à aplicação de material reciclado, garantindo um nível de traceabilidade e confiança no sistema que promove também uma maior adesão à reciclagem e a envolvência de todos na cadeia de valor da embalagem até ao seu final de vida.
O passaporte ajuda a escolher uma embalagem e a percecioná-la nos seus atributos e que destino lhes dar no seu fim de vida. O projeto HolyGrail 2.0 foi lançado em 2020 e deverá entrar na sua fase “industrial” em 2022.
A transição digital do sector dos resíduos é fundamental para cumprir metas de reciclagem e estimular um maior envolvimento de cidadãos e instituições públicas e privadas nestes temas. Esta transição resultará sobretudo em ganhos de eficiência de todo o sistema e em vantagens ambientais e económicas.
Um exemplo: atualmente muitas das rotas de recolha de resíduos baseiam-se num conhecimento algo empírico do nível de enchimento dos contentores. Contudo, este conhecimento, por ser falível, pode resultar em alocação de viaturas para recolher contentores que afinal não estão assim tão cheios ou a recolha de contentores que estavam demasiado cheios e até a transbordar, o que significa uma má qualidade de serviço ao cidadão.
Esta situação pode ser ultrapassada através da sensorização. Apesar de já estar a ser utilizada por algumas câmaras do país, há ainda muito a desenvolver num projeto que, aplicado às cidades, tornaria todo o sistema bastante mais eficiente e com melhores níveis de serviço prestado, contribuindo para desenvolver ainda mais o conceito de smart city. Precisamos de escalar estas soluções e aumentar os níveis de eficiência dos serviços do setor dos resíduos.
Outros dos aspetos inovadores da sensorização é o dos ganhos nos processos de triagem e reciclagem. Por exemplo, numa estação de triagem, se existir uma melhor monitorização nas quantidades processadas (quantidades triadas por triador, gestão de recursos humanos alocados, tempos de pausa) será possível otimizar os processos com ganhos de aumento de quantidades processadas, melhorando-se, assim, a eficiência de toda a estação e o rendimento dos turnos.
A transição digital é um caminho sem retorno e uma gestão de resíduos que se queira fundamental para o funcionamento da economia circular não pode estar à margem desta evolução. Internet of Things, big data, automação e inteligência artificial são o futuro da cadeia de valor dos resíduos. Basta googlar para perceber a sua dimensão e importância, procurando o caminho para mudar o paradigma, da gestão de resíduos, à gestão de recursos.