Portugal tem vindo a ganhar consciência da importância da água de forma natural: porque é um país, cada vez mais, seco e quente. Mas muito há ainda a fazer sobretudo na mudança de hábitos e no conhecimento dos esforços que existem para que haja fornecimento de água.
Miguel MidõesOs portugueses dão a água como um bem adquirido, e o sentimento generaliza-se a toda a Europa. As convicções são de Céline Hervé-Bazin, a principal convidada do PURA 2019, o encontro da APDA – Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas, que decorre em Coimbra e que quer discutir a melhor forma de comunicar a água e a forma de preservá-la.A especialista em comunicação sobre água e desenvolvimento sustentável está em Portugal para partilhar experiências com os profissionais da área da comunicação e da educação ambiental.Céline Hervé-Bazin cresceu em Marrocos, tal como lhe cresceu o amor pela água e hoje é consultora em comunicação especializada sobre água e desenvolvimento sustentável.Chegou a Coimbra. Bebeu um copo de água da torneira. Parou para falar à TSF e contar as razões porque este recurso assume tamanha importância na sua vida. Falar sobre água, no século XXI, é mais comum do que a fonte seca que o tema era há 20 anos. Gota a gota a comunicação sobre a importância da água vai assumindo o seu lugar. “É simples e complicado. Simples porque cada um é responsável e nós temos um dever para com ela. Uma história que me marcou foi a de um canadiano que agradecia a água sempre que abria a torneira. Ao mesmo tempo é complicado, porque a água é algo também técnico: há a produção, distribuição e a reciclagem das águas usadas. Estamos a falar de coisas muito íntimas e muito dependentes da visão cultural da sociedade em que vivemos”, afirma.Por isso é quase como que entrar na vida íntima de cada um. Mas alguém tem de fazer esse trabalho. Nós, comunicação social, por exemplo.Em Coimbra, Céline Hervé-Bazin vai falar a Portugal uma quase verdade: só sentimos necessidade de falar sobre água quando nos falta na torneira.No mundo, as mensagens contraditórias sobre a importância da água. Céline Hervé-Bazin considera que, no contexto da Europa, Portugal é dos países com maior consciência do valor da água, mas isso aconteceu de forma natural porque “penso que Portugal, como a Espanha, como os países mediterrâneos, na minha opinião, faz parte de um conjunto de países que adquiriu uma consciência natural, porque vivem num país quente. Mas, tal como noutros países, é um dado adquirido e há incompreensão quanto ao seu valor. Há ainda muito a fazer em Portugal também sobre os esforços que estão por detrás do fornecimento da água e sobre o saneamento. Há ainda muito a explicar ao público”.Para mudar a forma como os humanos veem a água é preciso, acima de tudo, aprender a olhá-la.”É talvez estúdio. É talvez simples. Observar as fontes, os rios, ir às cascatas. Ver as montanhas e o mar. Dar tempo ao reconhecimento. Dar um lado precioso e sagrado à água. Mas depois é preciso ter em conta os gestos quotidianos: água fechada enquanto se lava os dentes; tomar duches pequenos, beber água da torneia, esta é claramente a minha primeira mensagem: parar de beber água em garrafa de plástico. É anti-lobby aquilo que acabo de dizer, lamento”. Um lamento irónico de Céline, que adianta que em Portugal há 98% de acesso a água potável. O mesmo não se passa em muitos países. Aqui, Céline Hervé-Bazin aconselha a que se beba água da torneira.Em Coimbra, vão juntar-se especialistas portugueses e estrangeiros, no PURA 2019. Teresa Fernandes está à frente da organização. O Pura 2019 surge assente num triângulo de pilares: comunicação ambiental, educação e sustentabilidade.A água é um bem essencial, mas é difícil de comunicá-la, assegura Teresa Fernandes, da Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas, à qual pertencem entidades gestoras de água e saneamento de todo o país.