Expresso Online
Apesar de as embalagens de plástico, vidro e papel recolhidas nos ecopontos terem de ficar de quarentena nos centros de triagem, e as recolhidas porta-a-porta acabarem junto com o lixo indiferenciado em aterros ou incineradoras, a prática doméstica de separação para reciclagem não deve parar, alertam ambientalistas e sistemas do sector
Apesar de as embalagens de plástico, vidro e papel recolhidas nos ecopontos terem de ficar de quarentena nos centros de triagem, e as recolhidas porta-a-porta acabarem junto com o lixo indiferenciado em aterros ou incineradoras, a prática doméstica de separação para reciclagem não deve parar, alertam ambientalistas e sistemas do sector Em Lisboa, a Câmara Municipal suspendeu a recolha porta-a-porta de embalagens de plástico, vidro ou de papel e cartão para reciclagem. E quando os contentores de cada prédio ou casa de tampa amarela, azul ou verde se encontram na rua, o lixo acaba misturado com o indiferenciado no camião de recolha. Contudo, a recolha dos resíduos colocados nos ecopontos espalhados pela capital, assim como a de muitos outros municípios do país, estão a ser encaminhados para os respetivos centros de triagem, onde ficam numa espécie de quarentena por tempo indeterminado, antes de seguirem para tratamento final. Assim é “para garantir a proteção da saúde pública e dos trabalhadores envolvidos nas operações de recolha e tratamento de resíduos e, em simultâneo, controlar os fatores de disseminação da doença e contágio por Covid-19”, explica uma nota informativa da Câmara Municipal de Lisboa. Esta autarquia, como outras, veem-se na contingência de evitar a aglomeração de equipas em espaços coletivos, desfasando turnos, de modo a manter a distância social entre eles e porque precisam de ter gente na reserva. É o que recomenda a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) perante a pandemia por SARS-CoV-2 “Apesar da quarentena em que estão a ser colocados os resíduos para reciclagem, as pessoas não devem meter as suas práticas de reciclagem de quarentena”, alerta o ambientalista Rui Berkemeier. O especialista em resíduos da associação Zero sublinha que “estas medidas podem estender-se por dois ou três meses e as pessoas não devem perder o hábito responsável de separar o lixo”, já que Portugal está muito longe de cumprir as metas neste sector. Além disso, adverte, “as luvas descartáveis que as pessoas estão a usar por causa da pandemia devem ir para o contentor indiferenciado e não para o ecoponto”. É preciso reforço de equipamento de proteção Carla Velez, secretária geral da Associação para a Gestão de Resíduos (ESGRA), também sublinha que “o desejável é que não se perca a prática de separação de lixo neste período de quarentena, pois esses resíduos acabam por ser reciclados”. Falta é esclarecer quanto tempo têm de esperar para seguir esse caminho em segurança. A responsável da ESGRA entidade que representa as entidades intermunicipais que gerem 40% dos resíduos produzidos a nível nacional chama também a atenção para “a necessidade de reforço de equipamento de proteção de segurança para os funcionários destes sistemas”, uma vez que há atrasos nas entregas devido à retenção dos transportes nas fronteiras e porque é preciso controlar a especulação de preços. Estas preocupações já foram endereçadas à Agência Portuguesa do Ambiente e à entidade reguladora (ERSAR). O Ministério do Ambiente divulgou no início da semana um despacho que “garante os serviços essenciais nas áreas tuteladas”. No que respeita aos resíduos, é sobretudo salvaguardado “o funcionamento das infraestruturas de tratamento final dos resíduos urbanos, incluindo a incineração ou aterro; o reforço da periodicidade da recolha dos resíduos urbanos indiferenciados, sempre que necessário; e o reforço da higienização e da desinfeção dos contentores de resíduos urbanos, entre outras medidas. O Ministério e os sistemas de gestão de resíduos que o integram apelam também à população para ter especial cautela no manuseamento do lixo doméstico, particularmente se houver pessoas infectadas em casa ou noutros espaços. Nestes casos, o lixo deve ser colocado em sacos resistentes, com enchimento até dois terços da sua capacidade, fechados e colocados dentro de um segundo saco, devidamente fechado, que deve ser depositado no contentor de lixo comum ou indiferenciado e nunca ser deixado no chão na rua. E, apesar de muita gente de quarentena ter resolvido remodelar a casa ou livrar-se daquilo de que já não precisa, o conselho é para se refrearem os ânimos de limpeza, pois muitos municípios já suspenderam a recolha dos chamados ‘monos’.