I Podemos estar em crise, mas temos das melhores águas da Europa. Para quê gastar dinheiro e estragar o ambiente? Nos anos 60 e 70, a par do facto de a água não ser potável e a rede de abastecimento público ser deficiente e de qualidade duvidosa, ainda havia maus hábitos higiénicos, a maioria das pessoas vivia em locais rurais em convívio estreito com animais e moscas e a água vinha de furos e poços. A realidade mudou, do que é prova a existência de sistema de abastecimento público de água e de saneamento básico, que nas últimas duas décadas passou de abranger 50% para 99,7% da população. Portugal tem das melhores águas da Europa, sujeita a controlos regulares pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e supervisionada pela Entidade Reguladora dos Serviços de Agua e Resíduos, ao contrário das águas de garrafa (também chamadas minerais ou “de fonte”) cujo controlo é feito apenas de quando em quando. Uma das consequências da ingestão de água de má qualidade são as gas- troenterites e infecções em geral. As bactérias e vírus são “inteligentes” e procuram o que precisam para viver e multiplicarem-se – é por isso que vivem nas pessoas e nos animais, ou nos líquidos orgânicos (fezes, urina, leite, saliva, secreções). A água potável, como acontece com a que corre nas torneiras das nossas casas, é isenta de substratos e é pura, no sentido bacteriológico. Por outro lado, a água da torneira vem de diversas fontes – riachos que desaguam em rios, trazendo minerais das múltiplas terras que atravessam. Salvo casos em que seja preciso restringir algum desses minerais, a água da torneira é a mais completa. Quanto ao preço, façamos as contas. Uma garrafa de 33 cl pode custar, por exemplo, em cafés ou restaurantes de zonas balneares, 1,5€… o preço que em média no abastecimento público corresponde a 1500 litros, ou seja, 4500 vezes mais! Incrível, não é? Mesmo considerando o preço de um garrafão de 5 litros num supermercado, a diferença ainda é abissal. Por outro lado, para fabricar um litro de água de fonte são necessários quase 80 litros de água (um desperdício!)… para lá de gerar 600 vezes mais CO2 no seu fabrico, já sem falar nas centenas de milhares de garrafas de vidro e de plástico que, não sendo em grande parte recicladas, ficarão a poluir o ambiente… durante pelo menos 500 anos. As garrafas têm de ser “protegidas da luz solar e conservadas em lugar fresco e seco” – é o dizem os rótulos, mas vemos garrafas expostas à luz, quando não mesmo ao sol, em camiões ou montras -, já que a luz pode fazer crescer algas e bactérias e os ultravioletas fazem passar bisfenol A, uma substância que existe no plástico das garrafas, para o interior, podendo provocar, especialmente nas crianças, alterações na tiróide. Será que estas dicas, cientificamente correctas, mesmo entrando em choque com a prática, não devem ser ponderadas? Por vezes as pessoas queixam- se de que a água “tem sabor”. Se se deixar um pouco o copo ao ar livre, perdê-lo-á. Finalmente, cada pessoa se habitua à agua do sítio onde vive e não fica mais obstipado ou com diarreia por causa disso. Poderão ser excepção, sim, as pessoas que têm um intestino muito sensível, e nesse caso consumirão água engarrafada quando vão de férias… todavia, curiosamente, é raro consultarem os rótulos para saberem se a água tem, por exemplo, mais ou menos cálcio! Quanto às crianças, esterilizar biberões ou ferver a água é perda de tempo, um gasto inútil e os pais terão coisas muito mais interessantes para fazer. Quem transmite doenças são as pessoas. Se temos medo da água da torneira (salvo quando vem de um poço ou de um furo), então deveríamos andar de escafandro como os astronautas! Torneirex: a marca da água que eu bebo e que deveríamos exigir nos cafés e restaurantes!