O Jornal Económico Online
Duas ONGs mundiais apresentaram os resultados de um estudo em que se pede aos governos do sudeste asiático que fechem os mercados de vida selvagem como resposta à Covid-19. Especialistas defendem ainda que existe uma ligação direta entre estes mercados e a perda da biodiversidade no mundo.
Jéssica SousaDepois de recolher a opinião de cinco países e territórios do sudeste asiático, a WWF e a GlobeScan, duas Organizações Não Governamentais, concluíram que quase toda a generalidade do sudeste asiático apoia o encerramento de mercados ilegais e não regulamentados de vida selvagem, fazendo a ligação entre os mesmos e a atual ou potenciais pandemias.Na prática, 82% das cinco mil pessoas entrevistadas em Hong Kong, Japão, Mianmar, Tailândia e Vietname estão extremamente ou muito preocupados com o surto, com 93% dos entrevistados no sudeste asiático e Hong Kong a apoiar ações dos seus governos para eliminar mercados ilegais e não regulados devido às ameaças associadas à saúde pública.Esta nova pandemia traz à memória outras doenças zoonóticas (vírus com transmissão de vida selvagem para humanos) e que também se tornaram numa pandemia, incluindo a SARS, a MERS e o Ébola. Apesar de ainda haver muitas perguntas por responder sobre as origens exatas da Covid-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já confirmou que o novo coronavírus é de natureza zoonótica.Dos inquiridos, cerca de 9% afirmaram que os próprios ou alguém que conhecem compraram animais selvagens nos últimos 12 meses num mercado, mas 84% “não é provável” ou “é muito improvável” que compre produtos de animais selvagens no futuro.Atualmente, o surto do novo coronavírus já infetou 1.288.080 no mundo, tendo matado por sua vez mais de 70 mil pessoas. Apesar de existirem 272 mil pessoas recuperadas, a propagação do vírus não mostra sinais de abrandamento. Só nos Estados Unidos, que de acordo com a OMS se tornará no novo epicentro do surto, existem mais de 336 mil infetados e nove mil vítimas mortais.Em Itália, onde ainda existe o maior número de mortes, perto de 16 mil, a curva epidemiológica já começa a achatar. Ontem registou-se o menor número de infetados em duas semanas, 525 novos casos confirmados.Impacto dos mercados selvagens na biodiversidadeDe acordo com a nota enviada às redações, o comércio insustentável de animais selvagens é a segunda maior ameaça direta à biodiversidade em todo o mundo, depois da destruição de habitats. As populações de espécies de vertebrados no mundo caíram em média 60% desde 1970, e um relatório de 2019 da Plataforma Intergovernamental de Ciência e Políticas sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES) concluiu que atualmente, em média, 25% das espécies globais estão ameaçadas de extinção.As atividades humanas alteraram significativamente três quartos da terra e dois terços do oceano, mudando o planeta a ponto de determinar o nascimento de uma nova era: o “Antropoceno”.Mudanças no uso da terra que tornam mais próximas a vida selvagem, o gado e os seres humanos facilitam a propagação de doenças, incluindo novas estirpes de bactérias e vírus, explicam os especialistas.Paralelamente, o comércio ilegal e descontrolado de animais selvagens vivos cria oportunidades perigosas de contato entre os seres humanos e as doenças que estes possam ter.”Não é por acaso que muitos surtos recentes tiveram origem em mercados que vendem uma mistura de mamíferos domésticos e selvagens, aves e répteis, criando as condições para o desenvolvimento de novas e antigas zoonoses: doenças infeciosas que podem ser transmitidas de animais para seres humanos”, lê-se no documento da WWF e GlobeScan.A crise de hoje cria a necessidade urgente para uma reflexão aprofundada sobre a relação entre seres humanos e a natureza, os riscos associados ao desenvolvimento económico e como podemos proteger-nos melhor no futuro, continuam os ambientalistas