Greta Thunberg e os seus promotores arriscam, por estes dias, transformar-se em inimigos do ambiente. E verdade que a emergência ambiental não é uma questão de gosto, mas sim de factos, mas não o é menos que estafulani- zação da causa tem efeitos perniciosos. O ideal que Greta transporta é legítimo, mas investi-la numa espécie de messias do combate às alterações climáticas é injusto para a própria e redutor. Nem Greta Thunberg pode personificar a luta em defesa do ambiente, nem esta se deve esgotar na adolescente sueca.
Este encantamento por Greta tem ainda o condão de dividir em vez de unir. De um lado dabarricada está uma certa esquerda, do outro uma determinada direita, que usam este território para um combate político, no qual os primeiros querem ser vistos como heróis e os segundos recusam ser tratados como vilãos. Aliás, aideologizaçãodo ambiente não só é um erro, mas também um travão a que se apliquem medidas à escala global.
Paralelamente, abre também espaço para iniciativas de natureza oportunística, como a carta que o ministro do Ambiente eAção Climática, João Pedro Matos Fernandes, resolveu escrever à ativista sueca que esta terça-feira chega a Lisboa. A utilidade de Greta está a gerar tantos anticorpos que até o Presidente da República, habitualmente mediático, se afastou da ribalta e não irá receber ajovem. “Pensei duas vezes, estar a misturar podia ser considerado um aproveitamento político por mim de uma realidade mais ampla e mais vasta e acho que não tenho esse direito”, explicou Marcelo Rebelo de Sousa.
Greta Thunberg trouxe novidade ao discurso ambientalista, surpreendeu pela inocência e convenceu porque ninguém encontrou no seu discurso vestígios de uma agenda paralela. O problema surgiu depois. Greta foi capturada por lóbis, explorada por políticos à procura de notoriedade e reconhecimento. Atai ponto que o debate sobre as alterações climáticas passou para segundo plano. O staff de Greta Thunberg deviaprotegê-la e não insistir em expô-la à saciedade, com efeitos contraproducentes.
Atualmente discute-se muito o papel da jovem ativista sueca e menos o que se deve fazer para reverter o caminho da catástrofe ambiental. Será possível falar de ambiente sem falar de Greta? Por estes dias parece que não e esse é o grande problema.