As emissões de gases de efeito de estufa continuam a disparar e as temperaturas médias globais dirigem-se para uma subida de 3,2º Celsius, mais do dobro do que os cientistas consideram adequado para a vida no planeta. É urgente agir, sublinha a ONU
As emissões de gases de efeito de estufa continuam a disparar e as temperaturas médias globais dirigem-se para uma subida de 3,2º Celsius, mais do dobro do que os cientistas consideram adequado para a vida no planeta. É urgente agir, sublinha a ONU A oito dias do início de mais uma cimeira do clima das Nações Unidas, os alarmes voltam a soar. O mundo corre o risco de não conseguir refrear o aumento global das temperaturas nos 1,5ºC, como ambicionado no Acordo de Paris, e os termómetros tendem a subir mais do dobro (3,2ºC) até ao fim do século, alerta um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), divulgado esta terça-feira. O “Emissions Gap Report que avalia o fosso entre os compromissos e as emissões reais indica que se não se cortarem as emissões de gases de efeito de estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO2), em 7,6% por ano, durante a próxima década, perder-se-á a oportunidade de impedir que as temperaturas médias globais subam mais de 1,5ºC. E com base nesse cenário, as projeções científicas apontam para ondas de calor, secas, intempéries ou inundações ainda mais extremas que as vividas nos últimos anos. “O nosso falhanço em agir cedo e a sério em relação às alterações climáticas, mostra-nos que todos países, cidades, regiões, empresas e cada indivíduo – temos que agir agora e não podemos esperar até ao fim de 2020”, sublinha Inger Anderson, diretora executiva do PNUA, em comunicado. A responsável deste organismo da ONU reforça a ideia de que a urgência climática está aí e lembra: “Precisamos de ganhos rápidos na redução de emissões já em 2020, os países têm que reforçar as suas contribuições nacionais e transformar verdadeiramente as suas economias e sociedades”. Se assim não for, reforça, “o objetivo de 1,5ºC estará fora de alcance antes mesmo de 2030”. “Este relatório mostra como estamos longe dos compromissos da conferência de Paris e que os cumpridores são uma excepção”, diz ao Expresso o presidente da associação Zero, Francisco Ferreira. Para o ambientalista, é premente acelerarmos mudanças na economia e na forma como vivemos para se atingir o objetivo de impedir as temperaturas médias globais de subirem mais de 1,5ºC. Caso contrário: “Podemos vislumbrar a fotografia da catástrofe para a qual caminhamos”. O documento do PNUA mostra como as emissões de CO2 e de gases equivalentes dispararam nas últimas duas décadas (ver infografia), sobretudo na China (o maior poluidor mundial) e como os EUA continuam a ser os principais emissores de CO2 per capita do mundo. Também indica que os países do G20 as 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia são responsáveis por 78% das emissões globais. Apesar de em conjunto, o G20 se ter comprometido em tomar medidas para reduzir as suas emissões, a verdade é que 15 dos mesmbros não apresentaram qualquer prazo para se tornarem neutros em carbono; seis (Canadá, Indonésia, México, República da Coreia, África do Sul e EUA) não vão cumprir as metas de redução de emissões a que se comprometeram até 2030 e nem definiram políticas nesse sentido; e três (Argentina, Arábia Saudita e Turquia) não apresentaram sequer metas ou estas estão longe de ter significado. Apenas 65 países, entre os quais Portugal, se comprometeram em chegar a 2050 com emissões zero, ou seja, compensando com floresta ou outros sumidouros aquilo que continuarem a emitir. Mas é preciso antecipar as metas para a neutralidade carbónica. Um outro relatório, divulgado esta segunda-feira pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), mostra que as concentrações de CO2 na atmosfera atingiram em 2018 um novo pico de 407,8 partes por milhão (PPM). Ou seja, desde que passaram a barreira simbólica das 400 ppm em 2015, as emissões de CO2 têm estado sempre a crescer. Níveis comparáveis de concentrações de CO2 na atmosfera não existiam desde há 3 a 5 milhões de anos, quando as temperaturas médias globais rondavam 2 a 3ºC acima das atuais e o nível do mar estava 10 a 20 metros acima do que está hoje. Com base nas contribuições nacionais apresentadas pelos signatário do acordo de Paris, em 2015, algumas das quais reforçadas na cimeira de Nova Iorque em setembro último, o PNUA estima que as projeções de emissões para 2030 têm de ser cortadas em 32 gigatoneladas de CO2 se quisermos impedir os termómetros de subirem mais de 1,5ºC. E lembram que em jogo estão também a qualidade do ar que respiramos e os objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU.