Secretário de Estado garante que não há mina se o impacto for negativo
“O povo é quem manda, não és tu Galamba”
Secretário de Estado da Energia visitou local da prospeção em Boticas, mas a população não o quis ouvir
minas A guerra à exploração de lítio no Barroso (Boticas e Montalegre) ficou ontem ao rubro. O secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, foi visitar o Centro de Informação de Covas do Barroso, Boticas, que explica o projeto mineiro previsto para aquela localidade botiquense, e levou com a ira da população que não quer uma mina a céu aberto perto de casa.
“O povo é quem manda, não és tu Galamba”, gritaram dezenas de populares à passagem do secretário de Estado. “Não à mina, sim à vida”, insistiram enquanto rodeavam o carro que o transportava. “Estamos aqui a mostrar a nossa indignação, porque em Boticas e Montalegre também há gente e queremos que respeitem as nossas terras”, explicou Nélson Gomes, presidente da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso. Prometeu que a população está disposta a “fazer tudo o que estiver ao seu alcance” e que “nunca vai desistir” para evitar que a mina se instale, salientando que “o povo nunca foi ouvido” sobre o projeto da empresa inglesa Savannah “que põe em causa a vida de toda esta gente”.
Aos jornalistas, João Galamba disse que “estava à espera de poder falar com as pessoas” em Covas do Barroso, mas como o grupo que o recebeu “não parecia muito disponível para conversar” acabou por só falar com alguns populares “de uma aldeia próxima”, após visitar o local onde foram feitos trabalhos de prospeção e pesquisa de lítio. “Num ambiente mais descontraído, as pessoas fizeram críticas e expressaram as suas dúvidas”, disse, garantindo que “se o estudo de impacte ambiental for negativo ou se as medidas compensatórias forem de tal ordem que a empresa não tem condições para as aplicar, não haverá mina”.
AUTARCA NÃO CONVENCIDO
O presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiro- ga, aproveitou a visita de João Galamba à zona da prospeção para lhe mostrar como “a paisagem está degradada e devastada”.
Do secretário de Estado ouviu que a exploração de lítio “não traz prejuízo para as populações”. O autarca contrapôs que este não é o seu ponto de vista, porque acredita que “vai prejudicar, e muito, as populações e o meio ambiente”. Isto para além de que pode “colocar em causa” o estatuto de Património Agrícola Mundial recebido o ano passado da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, “selo que não pode ser perdido”.»
João Galamba foi recebido em Covas do Barroso com cartazes e o protesto da população. Só no final da visita ao local da prospeção de lítio falou com populares, perante a vigilância da GNR
Pedreira de granito
“A extração de lítio é exatamente equivalente a uma pedreira de granito”, disse João Galamba, lembrando que “entre duas das principais termas do país. Pedras Salgadas e Vidago, há uma grande pedreira de granito e “continua a haver turismo e agricultura”.
Receios
As populações que poderão ser abrangidas pela exploração de lítio temem a contaminação de rios e ribeiras, albufeiras de abastecimento de água ao domicilio, danos irreversíveis na agricultura, nas paisagens, no modo de vida e no potencial turístico.