Ambiente, social e governo das sociedades – (ESG, na sigla em inglês). São as três palavras do momento. Com os investidores mundiais cada vez mais preocupados com o impacto do seu investimento, as principais gestoras de ativos mundiais já estão a incorporar os critérios ESG nos seus modelos de gestão. Em Portugal também já há várias entidades a introduzir estes fatores nos seus investimentos.
Identificar as melhores oportunidades de investimento já não passa apenas por analisar relatórios financeiros e antecipar estimativas de crescimento de resultados. E muito mais que isso. É preciso verificar se a empresa cumpre boas práticas, se tem iniciativas para promover a descarbonização do ambiente ou reduzir a dependência de matérias poluentes, promove a igualdade salarial ou se faz uma comunicação transparente com os seus acionistas. Tudo isto são exemplos de preocupações sociais, ambientais e de governo societário. E não basta manter esforços relacionados com questões ambientais ou sociais. Tem que se estar comprometido com as três.
Enquanto há uns anos, estes temas pouco ou nenhuma influência tinham nas escolhas de investimento, atualmente não mostrar um compromisso com a sustentabilidade pode afastar uma empresa do radar de um gestor. Em Portugal há ainda poucos fundos com o selo ESG, mas estes começam a aparecer.
CGD, Santander e IMG A lideram aposta
Além da CGD, que foi a primeira a lançar um produto com preocupações sustentáveis – Caixa Investimento Socialmente Responsável -, também a IMGA e o Santander já aderiram à moda da sustentabilidade. No caso da IMGA a gestora de ativos decidiu introduzir critérios de gestão ESG nos seus fundos de ações e dívida ibérica, os quais passaram a designar-se IMGA Ibéria Equities ESG e IMGA Iberia Fixed Income ESG. Já o Santander lançou o Santander Sustentável. Trata-se de um fundo misto, que privilegia uma lógica de investimento socialmente responsável. Ainda a Caixa, alterou a política de investimento do fundo Caixa Ações Europa, que adotou também a denominação Socialmente Responsável.
Esta aposta surge em resposta a um movimento forte e depois do próprio regulador, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) ter dedicado especial atenção ao tema das finanças sustentáveis nos últimos meses. Um dos alertas deixados pela entidade tem a ver com a necessidade de garantir que os produtos ditos “verdes” são, de facto, verdes. Mas o ambiente é apenas um dos três vértices do investimento ESG. E preciso garantir que as empresas implementam medidas focadas também em questões sociais e de governo de sociedades. “O E [ambiente] é importante, mas também o é o lado social (S) e de governo (G)”, alerta Kevin Murphy, gestor da Schroders.
FUNDOS COM CRITÉRIOS SUSTENTÁVEIS RENDEM ATÉ 30% ESTE ANO
Os fundos que seguem critérios sociais, ambientais e de governo das sociedades nas suas decisões de investimento conseguem entregar desempenhos positivos no último ano. Os produtos com as melhores rendibilidades sobem entre 20% e 30%, um retorno que compara favoravelmente com fundos que não cumprem métricas de sustentabilidade. A maioria dos gestores mostra-se mais otimista para o mercado de ações norte-americano, com as principais apostas localizadas nos EUA. O setor tecnológico e o consumo surgem em destaque. Ainda assim, não há apenas um domínio das empresas mais conhecidas no “top” das posições mais relevantes nas carteiras.
DWS com ganho de 30% em 2019
Lançado em outubro de 2018, o fundo DWS Invest ESG European Small/Mid Cap lidera os retornos dos fundos com selo ESG no último ano. O fundo, que obtém uma avaliação de sustentabilidade por parte da agência Morningstar acima da média para as três vertentes do investimento sustentável, sobe mais de 15% nos últimos 12 meses e dispara mais de 30% em 2019. A estratégia de investimento do fundo passa por investir em ações de empresas de pequena e média dimensão, prevendo ainda a possibilidade de adquirir instrumentos de mercado monetário. A Zona Euro capta cerca de dois terços do património, sendo os setores da indústria e do consumo cíclico as maiores apostas do fundo, com 27% e 22% do capital aplicado, respetivamente.
A holandesa Royai Vopak é a maior posição da carteira, com 2,82% do capital. A empresa armazena e lida com vários óleos e produtos químicos.
0 grupo Ingenico é outra das apostas. A companhia publica um relatório com as medidas no âmbito da responsabilidade social e corporativa.
Goldman aposta em gigantes tech
O fundo de ações globais de grande crescimento do Goldman Sachs que privilegia nas suas decisões de investimento critérios ESG é um dos mais rentáveis no investimento sustentável. O Goldman Sachs Global Equity Partners ESG sobe mais de 29% desde o início do ano, animado pelo forte desempenho das ações americanas, mercado onde o fundo mantém o grosso do investimento: 62,3%. A Zona Euro capta apenas 7,5% do investimento da carteira Os serviços financeiros, as tecnológicas e a saúde lideram a preferência, com estes dois setores a receberem 17% e 16,4% do património gerido. Apesar do bom comportamento do fundo, os investimentos do produto surgem abaixo da média do “rating” de sustentabilidade da Morningstar nos critérios sociais e governação.
A dona da Google, a Alphabet, recolhe perto de 5% do património do fundo do Goldman Sachs.
A Intercontinental Exchange (ICE) é uma das apostas do fundo.
0 mercado de matérias-primas e derivados tem vários índices sustentáveis.
Schroders mais otimista para EUA
O Schroder ISF QEP Global ESG é um dos fundos mais rentáveis em 2019. Com um “rating” de sustentabilidade da Morningstar de 4 estrelas, o fundo privilegia uma aposta diversificada por setores e regiões, sendo que, pelo menos, dois terços do património terá que estar investido em ações. Apolítica de investimentos do fundo prevê a exposição a empresas com potencial, mas que mantenham um foco no impacto ambiental e social da sua atividade, bem como uma política de governo de sociedade forte. Uma estratégia que se tem revelado rentável. Lançado em 2018, o fundo da Schroders sobe cerca de 24% este ano. As principais apostas são o mercado norte- -americano, que capta mais de metade do capital, enquanto a Zona Euro pesa cerca de 14%.
0 eBay é uma das principais posições do fundo. A empresa de venda de produtos eletrónicos pesa mais de 1% da carteira.
A farmacêutica japonesa Astellas Pharma, que resultou da fusão da Yamanouchi Pharmaceutical e da Fujisawa Pharmaceutical, é uma das apostas da Schroders.
Amundi com aposta verde
Focada no investimento em empresas relacionadas com o setor da ecologia, o fundo Amundi Fds Glb Ecology ESG é um dos produtos com maior histórico no segmento sustentável e garante nota máxima em termos de avaliação, atribuída pela Morningstar, fruto da aposta em empresas que cumprem as três métricas do investimento sustentável: ambiente, social e governo das sociedades. Algo que está em linha com a política de investimento do fundo, que prevê uma carteira diversificada em títulos que contribuam para o desenvolvimento de um ambiente mais limpo e saudável. E o caso de empresas nas áreas de controlo da poluição do ar, energias alternativas, reciclagem, incineração de resíduos, tratamento de águas residuais, purificação de água e biotecnologia.
As duas maiores apostas do fundo da Amundi são duas grandes empresas: a Procter & Gamble e a Microsoft. Captam juntas 5,65%.
A Danaher é outra das grandes posições do fundo, com 2,6% do capital. A companhia desenvolve tecnologias na área do diagnóstico e das ciências da vida.
BlackRock distribui jogo
O fundo ESG multi-ativos da BlackRock mantém a distribuição do capital do fundo por várias classes de ativos. Com um retorno de cerca de 20% em 2019, o produto tem perto de 50% do património em ações, 35% em obrigações, 10% em liquidez e o restante da carteira está distribuído por outros instrumentos. Ainda que o setor tecnológico seja o preferido, com um peso de quase 25% na carteira, o fundo combina o investimento direto em títulos de dívida e de empresas e em índices e fundos de sustentabilidade. O iShares JP Morgan ESG, o Áquila European Renewables Income Fund e o iShares MSCI USA SRI ETF USD são alguns dos instrumentos em carteira. No “top” das participações estão ainda investimentos numa linha de dívida de Itália e dos EUA .
A Microsoft e a Adobe são as representantes do setor tecnológico na lista das 10 maiores posições.
0 Triple Point Social Housing REIT é uma das apostas. Capta 2,19%.
0 Foresight Solar Fund recebe 1,6% da carteira. Investe
em empresas do setor solar.