Comissão Europeia aprova candidaturas do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO) da Universidade do Porto que representam um investimento total entre os 130 a 150 milhões de euros. Será o maior financiamento já atribuído a um centro de investigação existente em Portugal.
A Comissão Europeia aprovou duas candidaturas do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO) da Universidade do Porto a um programa europeu que visa “reforçar a excelência da investigação”. As duas propostas envolvem um orçamento estimado entre os 130 e 150 milhões de euros, para investir durante os próximos dez anos na investigação em biologia ambiental, ecossistemas e agrobiodiversidade. A verba, ao abrigo do programa “Widening”, do Horizonte 2020, vai servir para o projecto Biopolis, que propõe ampliar e melhorar o actual centro de investigação do CIBIO instalado em Vairão, Vila do Conde, e para o reforço de uma rede de laboratórios especialmente dedicada à biodiversidade tropical e ecossistemas em países da África Austral.
O biólogo Nuno Ferrand, director do CIBIO-InBIO da Universidade do Porto, parece extremamente feliz e com razões para isso. “É extraordinário termos conseguido isso. Não estávamos à espera de ter as duas propostas aprovadas”, admite. A aprovação das duas candidaturas ao programa “Widening”, uma na categoria Teaming e outra na ERA-Chair, instala uma bem-vinda confusão sobre prazos, objectivos e financiamentos. Numa breve explicação ao PÚBLICO por telefone, Nuno Ferrand começa por referir que o programa Widening, que já existe há alguns anos, visa diminuir as assimetrias na investigação na Europa, para aproximar os países. “O projecto aprovado na categoria ‘Teaming’ é a construção de um novo centro ou, que é o nosso caso, o que chamamos upgrade do CIBIO. A ‘ERA-Chair’ é para formar uma equipa dentro do centro. O que é extraordinário é que não só ganhámos para melhorar o CIBIO como também ganhámos para construir uma equipa ainda melhor só dedicada à nossa colaboração com países da África Austral”.
Assim, a ERA-Chair vai servir para formar uma maior e melhor equipa de investigação em biologia tropical assente na rede de cinco laboratórios que já estão instalados em Angola, Moçambique, Namíbia, Zimbabué, África do Sul. Em resumo, o CIBIO vai agora poder crescer no espaço (infra-estruturas) e na equipa (em recursos humanos). O apoio dado ao projecto das parcerias existentes nos laboratórios geminados instalados em África deverá ser suficiente para que, no prazo de cinco anos, duplicar a equipa dos actuais 50 elementos (investigadores, alunos e técnicos). Esse é o plano. Uma ambição que passa também por conseguir nos próximos anos que esta rede, que já conquistou uma cátedra, se transforme num centro de investigação da UNESCO, ligado ao cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas.
A título de exemplo do trabalho que se poderá fazer, Nuno Ferrand apresenta o caso do laboratório da Namíbia, em Windhoek, onde se encontra já uma “equipa mista” com investigadores portugueses e locais, dedicado à biologia tropical e que deverá reforçar o projecto de gestão e monitorização das espécies que existem nos parques e reservas do país, com o apoio da universidade da capital e do Ministério do Ambiente e Turismo. “A ideia é termos um reforço. A nossa estrutura existe, está no terreno mas é frágil. E a filosofia destes programas é dar solidez, consistência e sustentabilidade aos projectos a longo prazo”.
O projecto Biopolis é coordenado pelo consórcio que junta o CIBIO à Universidade de Montpellier e à Porto Business School e envolve ainda um conjunto diversificado de agentes do sector publico e privado nacional e internacional, incluindo os decisores políticos, as universidades e centros de investigação, as empresas e a sociedade civil, adianta um comunicado do centro de investigação. Neste caso, o plano é crescer nas instalações existentes no campus de Vairão, no concelho de Vila do Conde, que foram cedidas pelo ministério da Agricultura à Universidade do Porto e que têm vindo a ser recuperadas. Com a aprovação desta candidatura, será possível “terminar a recuperação da parte física e de um conjunto de edifícios”, diz Nuno Ferrand, que quer também fazer um significativo reforço de recursos humanos e criar plataformas de divulgação científica acessíveis a outros investigadores e não só.
No total, somando as duas candidaturas e os apoios concedidos pela Comissão Europeia e por outras fontes de financiamento, Nuno Ferrand refere que estamos a falar de um investimento entre os 130 e 150 milhões de euros para fazer nos próximos dez anos (a candidatura da ERA-Chair é para cinco anos e a Teaming visa projectos com dez anos). “Espero que seja ainda mais do que isso, mas essa é a estimativa conservadora, num cenário de contenção”, afirma o director do CIBIO.
Apenas sobre as contas do Biopolis, Nuno Ferrand explica que “de contribuição liquida imediata há 15 milhões de euros da Comissão Europeia, uma verba idêntica da Comissão de Coordenação da Região Norte, 20 milhões que vêm de um conjunto de várias empresas que fazem parte da proposta, 25 milhões da Fundação da Ciência e Tecnologia e ainda 5 milhões de laboratórios que se associaram”. A estes 80 milhões somam-se outros contributos que o plano de negócios prevê para os próximos dez anos. “Assim, num cenário conservador temos o tal orçamento que está entre os 130 e 150 milhões de euros”, conclui. A ERA -Chair é integralmente paga pela Comissão Europeia com 2,5 milhões de euros para cinco anos.
O director do centro de investigação faz ainda questão de sublinhar que estes objectivos foram cumpridos com o apoio de Eduardo Maldonado, presidente da Agência Nacional da Inovação. “Até agora, nunca nenhuma unidade de investigação em Portugal tinha conseguido ganhar uma proposta Teaming. Menos ainda com uma ERA-Chair associada. Isso é único, extraordinário”, diz Nuno Ferrand, que acredita que com estes impulsos “o CIBIO e a sua visão serão projectados para um patamar de nível mundial”.