Expresso Online Os portugueses reconhecem a importância da água e os riscos de escassez em alturas de seca, mas, apesar de tal consciência, não só não poupam água, como admitem desperdiçar este recurso. Este panorama resulta de um estudo da holding Águas de Portugal, divulgado esta terça-feira, que tem por base um inquérito realizado a 1662 indivíduos de todo o país, com mais de 16 anos. Os portugueses reconhecem a importância da água e os riscos de escassez em alturas de seca, mas, apesar de tal consciência, não só não poupam água, como admitem desperdiçar este recurso. Este panorama resulta de um estudo da holding Águas de Portugal, divulgado esta terça-feira, que tem por base um inquérito realizado a 1662 indivíduos de todo o país, com mais de 16 anos. Uma das recomendações do estudo, que o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, em entrevista ao Expresso, apelidou de “Ovo de Colombo”, consiste na simples alteração da apresentação da fatura, que em vez de informar, em metros cúbicos, o quanto um agregado familiar consumiu em água, passa a fazê-lo em litros. Por exemplo, em vez de 10 metros cúbicos passaria a ler-se 10 mil litros de água. Esta alteração vai abranger, até ao fim do ano, 350 mil clientes da EPAL no concelho de lisboa e 90 mil clientes da Águas do Norte em oito municípios. Para os restantes sistemas de distribuição de água ao domicílio a mudança será apenas sugestiva. Esta intervenção, por muito simples e insignificante que pareça, faz sentido. Por um lado, é mais percetível para o consumidor o conceito de litro do que o de metro cúbico. Muitos bens que hoje consumimos, como a água engarrafada, refrigerantes e outras bebidas, estão em recipientes que nos informam da capacidade nesses termos. E sendo verdade que é fácil converter os metros cúbicos em litros, em geral, as pessoas não conhecem ou não se lembram dessa conversão. Mais, dado que o montante numérico em litros será superior, é possível que se crie uma sensação, ainda que ilusória, de maior consumo e se reaja a este. Esta ilusão numérica existe. Recorde-se, por exemplo, aquando da adesão ao euro, o preço de um café passou de 50 escudos para cerca de 50 cêntimos, sem que houvesse um grande impacto no consumo porque muitos portugueses pensavam que estavam a pagar o mesmo, quando na realidade estavam a pagar o dobro. A dissonância entre o que fazemos e o que achamos que deveríamos fazer, mas não fazemos, está presente em muitas decisões do dia-a-dia, tendo particular incidência no consumo de bens e serviços que geram custos futuros e incertos, para além do custo de aquisição. Por exemplo, a decisão entre comprar um carro mais ou menos poluente implica ponderar o prazer que se tem em conduzir determinado carro no presente com eventuais custos ambientais futuros, que podem ou não afetar as gerações atuais. Estes custos são de difícil perceção, até porque o buraco do ozono não é visível a olho nu, nem se cheiram diretamente as emissões de dióxido de carbono. Um outro exemplo clássico é o consumo de tabaco. Muitos fumadores estão informados das consequências nefastas para a sua saúde e revelam até uma intenção em abandonar o hábito, mas não o fazem. Como os perigos para a saúde são, de certa forma, incertos, e muitas vezes relacionados com a genética do fumador, é natural adiar a decisão de deixar de fumar. E pior ainda, cai-se na chamada dissonância cognitiva, caraterizada por frases como estas: “Se fumar matasse, o Sr. Raul, que hoje tem 90 anos, já estaria morto há muito tempo” ou “o desporto é que mata, porque a vizinha do 3º andar que nunca fumou e corria todos os dias está com cancro”. A intervenção sugerida pela Águas de Portugal pode fazer algumas maravilhas, mas seria interessante e importante testar outras intervenções de cariz comportamental. Por exemplo, informar os consumidores sobre o quanto consomem em comparação ao consumo dos seus pares. Foi isso que fez, em 2007, Paul Ferraro e a sua equipa da Georgia State Univeristy. Mais especificamente, foi enviada uma carta a 100 000 residências de Atlanta informando sobre o seu consumo de água no verão anterior em relação ao consumo médio dos vizinhos. Esta intervenção conduziu a uma redução imediata de 5% no consumo. Sete anos mais tarde, os residentes que receberam a carta, utilizavam entre 1.5 a 2.5% menos água do que os residentes que não receberam a informação extra.