Jornal de Notícias O mercado de obrigações verdes bate recordes sustentado por instituições soberanas. Portugal está a estudar uma emissão. No Banco Mundial, a gestora Mafalda Duarte diz que não falta procura É um mercado pequeno, com muita procura e crescente oferta. As emissões de dívida verde atingiram no ano passado – o décimo da sua existência – um valor recorde de 160,8 mil milhões de dólares. Há crescente diversificação para financiar a transição para uma economia limpa, em linha com os objetivos da ONU e acordos de Paris, mas o fosso a atravessar na mudança é ainda tão largo quanto um valor de 100 biliões de dólares. Todos os instrumentos ajudam.Com compromissos internacionais assumidos para limitar o aquecimento global a um máximo de 2 C, cada vez mais governos recorrem ao mercado de dívida verde soberana para financiar políticas de sustentabilidade. Portugal está entre os que estão a estudar a possibilidade, e entre os que mais investiram estão países como França (8,1 mil milhões de euros em duas emissões), Bélgica (4,5 mil milhões de euros) e Polónia (1,75 mil milhões de euros em duas emissões). Do lado da procura, estão sobretudo bancos centrais e fundos de pensões, responsáveis, por exemplo, pela compra de 42% das obrigações verdes belgas postas à venda em fevereiro último.”Aquilo que ouço é o interesse de ver mais ofertas no mercado e de maior dimensão. E de ver coisas diversificadas, porque a diversificação em mercados de capital é importante”, diz Mafalda Duarte.A portuguesa é a gestora dos Fundos de Investimento no Clima (FIC), criados em 2008 sob o Banco Mundial para “fazer algo que mais ninguém estava a fazer”.Os FIC contam já dez anos de mandato para financiar bancos multilaterais no combate às alterações climáticas e, em 2019, deverão passar a incluir um fundo de dívida pública verde.”Com base no capital que neste momento temos, e no portfólio de empréstimos a projetos que temos, o nosso objetivo é ir para o mercado e mobilizar 500 milhões de dólares de dívida por ano”, diz a gestora ao Dinheiro Vivo.Mafalda Duarte está a estruturar o fundo, que parte de ativos próprios para atrair mais capital. Bancos multilaterais e instituições financeiras internacionais são a primeira linha do financiamento a projetos como o desenvolvimento de energia renovável em países em desenvolvimento. Assumem custos mais baixos e por vezes assumem as primeiras perdas na formação de novos mercados e tecnologias que, muitas vezes, se tomam lucrativos na maturação.Mas, cada vez mais, os mercados financeiros começam a conviver melhor com objetivos de desenvolvimento. Além das obrigações verdes, há hoje obrigações ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável) emitidas, por exemplo, pelo banco HSBC, e sindicatos de crédito orientados por princípios de responsabilidade ambiental e sustentabilidade, como os dois mil milhões de euros recentemente levantados pela francesa Danone.”O setor financeiro começa finalmente a despertar para as oportunidades. Globalmente, hoje há mais financiamento para renováveis do que para combustíveis fósseis”, nota Rachel Kyte, representante especial do secretário-geral da ONU, António Guterres, no fórum Sustainable Energy for All, que se realizou esta semana em Lisboa.”O financiamento é uma grande peça do puzzle, mas não é a única peça que falta. Também são necessários governos que tenham uma visão”, afirma Kyte. “Aquilo que ouço é o interesse dever mais ofertas no mercado” diz Mafalda Duarte, gestora dos fundos verdes do Banco Mundial Cada vez mais governos recorrem a dívida verde para financiar políticas de sustentabilidade Países europeus dominam emissões no início deste anoA estreia da Bélgica no mercado de dívida verde em fevereiro último constituiu a segunda maior emissão soberana deste tipo, levantando 4,5 mil milhões de euros.Outro país europeu, França, lidera o ranking, com a venda de 7 mil milhões de euros em obrigações no ano passado – além de outros 1,1 mil milhões de euros já em abril deste ano.Países emergentes como a China e a índia animaram os primeiros anos de vida deste mercado, mas a Europ