Expresso A ÁGUA NÃO É ETERNA, PELO MENOS AQUELA DE QUE PRECISAMOS PARA VIVER. O PROBLEMA É QUE CONSUMIMOS, E POLUÍMOS, COMO SE A FONTE NUNCA SECASSE Se a Terra fosse uma maçã, a água que nela existe seria o equivalente a uma casca muito fina. No entanto, aquela que está disponível para uso humano não seria muito maior do que uma das suas sementes. A imagem com um fruto que, na verdade, tem 84% de água na sua composição serve para exemplificar como é raro este recurso, do qual depende a espécie humana, a saúde dos ecossistemas e, na equação final, a vida no planeta. Sem ela, não há nós. As crianças aprendem cedo na escola que, apesar de cerca de 70% da Terra ser coberta por água o que corresponde a 1,3 mil milhões de quilómetros cúbicos , 97% dessa água é salgada. E, dos 3% de água doce existentes, menos de 1% é água doce acessível em rios, lagos ou aquíferos já que a maioria está aprisionada no gelo e nas calotas polares. Como tal, é essencial cuidar bem deste recurso escasso, apesar de não ser bem isso que tem acontecido.À conta dessa má gestão (com um consumo superior à capacidade de recarga), ou devido à poluição, ou por causa de fenómenos naturais associados às alterações climáticas, as maiores reservas de água subterrânea do mundo estão a esvaziar-se de forma alarmante, tendo já passado a linha vermelha da sua sustentabilidade. Essa é uma realidade em 21 de 37 aquíferos localizados em países como a índia, a China, os EUA ou a França, segundo um estudo da NASA divulgado em 2015.Sendo este o ponto de partida, não é de estranhar que as previsões sejam tudo menos animadoras. Um estudo recente do International Food Policy Research Institute (IFPRI) traça um cenário catastrófico para 2025: se a tendência atual de consumo se mantiver e se as políticas relacionadas com a água não forem alteradas, será muito difícil que o sector agrícola consiga produzir o suficiente para alimentar toda a população. E os países mais pobres serão os mais atingidos. Os sistemas de reserva natural de água, que levam milhares de anos a ser alimentados pelas águas da chuva ou pelo degelo, estão a entrar em maior stresse sobretudo em países mais pobres e densamente povoados do Norte de África ou da Ásia. As estatísticas da Organização Mundial da Saúde indicam que, apesar de, desde 1990, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas terem ganho acesso a melhor água potável, o certo é que, em 2015, uma em cada 10 pessoas (663 milhões de seres humanos) no planeta ainda consumiam água contaminada, com consequências graves em termos de saúde pública. É a pensar nas soluções futuras para este problema que se vai concentrar o 8a Fórum Mundial da Água, que terá lugar em Brasília, no Brasil, entre 18 e 23 de março de 2018, sob o lema “Partilhando Água”. Promovido pelo Conselho Mundial da Água, este é o maior evento dedicadoa procurar garantir o futuro deste recurso e o da Humanidade. O impacto das alterações climáticas no sector da água será um dos pontos relevantes da agenda. “É importante aumentar a resiliência dos sistemas face a situações extremas”, sublinha Jaime Melo Baptista, que ocupa o cargo de comissário de Portugal neste evento e que há um ano anda a preparar a intervenção portuguesa. “Temos de nos adaptar ao agravamento da disponibilidade de água”, sublinha o especialista. Um dos pontos fortes do encontro internacional, que vai juntar decisores políticos, cientistas e técnicos, centrar-se-á na discussão em torno da cidadania da água, numa perspetiva de economia circular, centrada nas cidades. “As cidades têm de saber usar a água de uma forma mais eficiente, indo cada vez buscar menos água ao exterior e captando localmente ou reutilizando cada vez mais as suas próprias águas”, defende Jaime Melo Baptista. A nível internacional estão já em prática ou a ser equacionadas formas de ir ao encontro desta ideia, nomeadamente “pensando na construção de bairros onde existam sistemas de captação de água das chuvas para utilização na rega ou lavagem de ruas ou reutilizando as águas residuais para esse efeito”, explica Melo Baptista. Lisboa já o faz, por exemplo, em Alcântara etem pla